Teresa Faria Ribeiro Cândido, Presidente do CA do Hospital da Horta – “É absolutamente fundamental o reforço do financiamento”

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Teresa Faria Ribeiro é Presidente do Conselho de Administração do Hospital da Horta (HH) desde novembro de 2022.
Nesta entrevista ao Tribuna das Ilhas, fala-nos sobre a situação em que encontrou esta Unidade Hospitalar e avança que o foco deste novo Conselho de Administração,
composto unicamente por mulheres, está essencialmente “no doente e na melhoria do acesso aos cuidados de saúde”.
Teresa Ribeiro Cândido tem consciência dos problemas existentes no HH, principalmente ao nível financeiro, de recursos humanos e médicos, e ainda do próprio edifício.
Neste contexto garantiu que o objetivo passa por “melhorar os processos, adequar os recursos humanos e promover uma melhor articulação interinstitucional com todos os ganhos que daí advêm, implementando um programa de qualidade e assim também, primando pela segurança do doente”.

Tribuna das Ilhas (TI) – Foram recentemente realizadas no HH algumas intervenções cirúrgicas inovadoras. Pode explicar quais e em que consistiram?
Teresa Ribeiro (TR) – O HH foi pioneiro, na Região, na realização de uma cirurgia inovadora na área da Otorrinolaringologia pelo Dr. Luís Quintino Duarte, Assistente Graduado Sénior. O procedimento já foi efetuado seis vezes e consiste na dilatação da trompa de Eustáquio. Segundo aquele, o mau funcionamento da trompa de Eustáquio poderá causar algumas complicações, pelo que ao realizar-se esta cirurgia previne-se o surgimento de otites crónicas, a má compensação do ouvido médio e alguns casos de surdez de transmissão.
A aposta nesta intervenção inovadora acontece pela necessidade de encontrar outras soluções dirigidas ao início da doença, para além das cirurgias convencionais nesta patologia. O especialista realizou ainda, no ano passado, um curso prático em Madrid de tubulopastia o que permitiu a realização deste tipo de intervenção.
Naturalmente que para nós, este é mais um resultado da aposta feita pelos profissionais de saúde desta unidade na sua formação, com o apoio do hospital, que beneficia de uma forma efetiva os utentes com o desenvolvimento de técnicas inovadoras.
Também, desde 2021 que as cirurgias do cancro da bexiga músculo invasivo (cistectomias radicais) são realizadas por via laparoscópica, sendo o único hospital público da Região onde se pratica esta técnica.
Conscientes da importância na modernização e na crescente tendência para cirurgias minimamente invasivas, o HH adquiriu em 2023 um novo equipamento para realização de cirurgia laparoscópica com tecnologia 3D/4K, proporcionando uma melhor imagem de vídeo tridimensional nas cirurgias realizadas pelas diversas especialidades, nomeadamente, Cirurgia Geral, Urologia, Ginecologia, Otorrino, Ortopedia.

TI – No Conselho do Governo de 23 de junho passado foi decidido “autorizar a despesa e tomar a decisão de contratar a empreitada de beneficiação, requalificação e ampliação do HH, mediante concurso público, com publicidade internacional, com o preço base 6.500.000,00 € (seis milhões e quinhentos mil euros), a que acresce IVA à taxa legal em vigor, e um prazo de execução de 24 meses.” Qual a importância para o HH desta obra e qual o planeamento previsto para ela?
TR– Esta obra é de facto emergente e uma luta de muitos anos, pela necessidade que o HH tem em ser alvo desta intervenção no corpo mais antigo que se encontra bastante degradado e que já não oferece as condições desejáveis, sendo razão de queixa quer por parte de utentes, quer por parte dos nossos profissionais de saúde.
O projeto já conheceu ao longo dos anos diversas configurações, com avanços e recuos, no que diz respeito à inclusão de determinadas obras nos diferentes concursos que, porém, acabaram por nunca se concretizar.
O certo é que nunca tinha sido atribuída uma verba deste montante, mas temos consciência que vivemos tempos muito difíceis com escaladas de preços e manifestas dificuldades de mão de obra, pelo que, cientes dos obstáculos, temos a firme convicção de que temos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para concretizar esta necessidade, não só para o Faial, mas para todas as cerca de 40.000 pessoas da área de abrangência do HH.
A obra que agora se pretende lançar será feita num edifício que continuará em funcionamento e, portanto, tiveram de ser equacionadas as diversas variáveis, por forma a salvaguardar o bem-estar de todos, sabendo que existirão alguns constrangimentos, pelo que apelamos à compreensão de todos.
Assim, e de forma muito sintética, depois de ultrapassada toda a parte administrativa, serão realizados os trabalhos preparatórios e dar-se-á o início das várias fases da obra com a remodelação da rede de águas quentes e frias, sendo que a execução da obra está prevista por pisos, permitindo, no que diz respeito aos internamentos, que os doentes possam ser antecipadamente reacomodados para que não lhes seja causado transtorno ou que o mesmo seja atenuado.
As intervenções contemplam ainda a substituição de coberturas, vãos exteriores, rede de incêndio, pavimentos, instalações sanitárias e central térmica, criação de um espaço destinado à imagiologia, pinturas interiores e exteriores, e demais trabalhos necessários, para além de serem introduzidas melhorias ao nível do conforto térmico do edifício.

TI – Esta nova administração está em funções há pouco tempo. Quais foram os principais desafios e dificuldades encontradas?
TR – Os desafios desta grande Instituição, que é um dos maiores empregadores da Ilha, são vários e aliciantes, mas resumiria em três grandes áreas: recursos humanos, financeiros e infraestruturas/equipamentos. A saúde é um campo muito complexo e em constante mudança. As dificuldades no que diz respeito a recursos humanos são várias e, após dois anos de pandemia em que muito foi exigido a estes profissionais, nota-se natural desgaste e cansaço, mas também uma enorme capacidade de resiliência e dedicação ao trabalho que procuramos valorizar, tentando encontrar as melhores respostas para as carências que vamos encontrando.
As alterações legislativas, quer no que diz respeito a novas responsabilidades que passaram para a área da saúde, quer no que diz respeito a atualizações e reposicionamentos há muito esperadas, também trouxeram trabalho acrescido para os recursos humanos, uma vez que implicam tarefas muito específicas, ainda mais se considerarmos que no Hospital coexistem várias carreiras e tipos de vínculos laborais.
Também daqui decorrem aumentos de custos a que acrescem os significativos constrangimentos financeiros relacionados com a dívida acumulada a fornecedores, o aumento de preços da grande maioria de produtos, sendo que o orçamento é insuficiente para fazer face aos compromissos já existentes e ao mesmo tempo continuar a adquirir tudo o que é necessário para que nada falte aos nossos utentes.
Naturalmente que a situação não é única, e temos feito um trabalho diário junto dos serviços para procurar soluções e otimizar os recursos, sejam eles humanos, financeiros e/ou de processos.

TI -Uma dificuldade recorrentemente imputada aos serviços de saúde é a carência de recursos humanos. Neste momento, no HH quais são, por categoria profissional e especialidade médica, as carências que se verificam?
TR – Efetivamente esta é uma realidade à qual o HH não é alheio. Tem sido uma preocupação constante desta Administração fazer um levantamento das carências nas diversas classes e categorias profissionais e procurar colmatá-las. Porém, sabemos que esta é uma situação que atinge todo o Serviço Nacional e Regional de Saúde não só no que diz respeito a médicos. Não tem sido, nem será fácil a admissão por concurso de novos médicos uma vez que a maioria prefere hospitais localizados em centros urbanos de maior dimensão – onde a oferta privada também é maior e mais apetecível – apesar das facilidades concedidas em termos de alojamento e os incentivos previstos na lei.
Também no que diz respeito à enfermagem, se tem verificado esta mesma dificuldade e não se têm formado profissionais de enfermagem em número suficiente para fazer face às atuais necessidades dos serviços nem para acautelar a substituição dos que se reformam.
Constatamos também que o recrutamento de assistentes operacionais, atividade que embora não obrigue a formação especifica, não é aliciante para os jovens, pelo tipo de horário, tipo de tarefas e baixa remuneração, o que tem resultado num número cada vez maior de profissionais com idade acima dos 60 anos, estando muitos ausentes do serviço por questões de saúde, o que dificulta a gestão desta classe profissional, essencial também para uma boa prestação de cuidados de saúde.
Ainda que não tão carenciadas, ou com menos dificuldade de recrutamento, não podemos deixar de referir todas as outras áreas quer operacionais dos diversos sectores, assistentes técnicos e técnicos superiores que são essenciais para o funcionamento do Hospital e de equipas que se querem cada vez mais multidisciplinares.

TI – Quais as perspetivas futuras, em termos de provimento, das várias especialidades médicas de que o Hospital é carente agora ou que poderá vir a ser a curto prazo?
TR – O HH é dotado de várias especialidades médicas. No entanto, considerando a escassez de recursos nalguns casos, tem sido política deste hospital estabelecer protocolos de colaboração com outros hospitais no sentido de assegurar a melhor cobertura populacional da forma mais eficaz e eficiente possível, sabendo que há ainda um longo caminho a percorrer.
A carência de algumas especialidades médicas, como por exemplo, a Oncologia, a Nefrologia, a Gastroenterologia, a Psiquiatria, a Anestesiologia e a Obstetrícia e Ginecologia é transversal a todo o país e, nas zonas mais periféricas é sempre mais difícil a fixação de especialistas.
Contudo, a médio prazo, a expectativa de eventualmente regressarem à ilha médicos a frequentar o internato da especialidade e jovens estudantes de medicina, poderá colmatar algumas especialidades de maior carência se forem tomadas medidas de incentivo à fixação desses profissionais de saúde que sejam mais atrativas e que consigam, de alguma forma, concorrer com as ofertas de centros urbanos de maior dimensão.

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