1.º Aniversário de falecimento – AAALH recorda Professora Maria Simas

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No âmbito do primeiro aniversário de falecimento da professora Maria Simas Cardoso, três das suas antigas alunas escreveram um texto em reconhecimento e agradecimento pelos valores que lhes transmitiu.
Para as alunas, a professora não só ensinava as matérias escolares, como também incentivava, acarinhava e educava os seus alunos.
Natural das Ribeiras, ilha do Pico, Maria Simas Cardoso, formou-se na Escola do Magistério Primário da Horta – EMPH no ano de 1950.
Lecionou as disciplinas de Didática Especial, Legislação e Administração Escolar durante 20 anos, até que em 1978 assumiu as funções de diretora até ao seu encerramento no ano de 1989.
Durante anos lutou pela continuação da Formação de Professores na Horta, tornando-se responsável pelo Centro Integrado de Formação de Professores (CIFOP), que lhe permitiu negociar a extensão do ensino da Universidade Aberta à Horta. Foi também responsável pela preservação do património da EMPH, que graças à sua persistência se encontra disponível na Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta.
A professora foi agraciada com a “Insígnia Autonómica de Dedicação”, em 2013, na sessão solene do Dia da Região.
Maria Simas era Sócia da Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta – AAALH desde a primeira hora e uma colaboradora relevante, sobretudo na área da Educação.

Na sequência do aniversário do seu falecimento, também a Associação de Antigos Alunos do Liceu da Horta vai promover um evento em homenagem à Professora Maria Simas.
A realizar no dia 15 de janeiro, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, o evento decorre entre as 9h30 e as 18h com diversas atividades.
A sessão de abertura é composta pela palestra “Profissão Professor: recordar o passado, prever o futuro” por Cândido Varela de Freitas e conta com a presença do Presidente da Câmara Municipal da Horta, José Leonardo Silva.
Segue-se uma visita à Mostra Biográfica da professora, uma sessão intimista de testemunhos de familiares, amigos e antigos alunos e leitura de algumas mensagens enviadas para esta ocasião.
Destaque para os testemunhos “Maria Simas: a mulher professora e avó aos olhos do seu neto” de Felipe Simas Mesquita, “Memórias de uma amizade recente” de Fernanda Trancoso e “Maria Simas, minha Mestra e minha Referência” de Lídia Garcia Pombo.
O evento conta ainda com as comunicações “O magistério da Literatura: professores escritores” de Rosa Goulart, “Do tempo do Liceu a outros tempos da Horta” de Carlos Lobão e “Refletindo… sobre a História e a Memória da EMPH” por Delfina Porto.
A encerrar o evento será interpretado o poema “Ser Professor” por Lídia Garcia Pombo e terá também a palavra o Secretário Regional da Educação e Cultura, Avelino Menezes, com a palestra “A Escola e o Futuro”.
A comissão organizadora, composta por Artur Teodoro de Matos, Rosa Goulart, Fernanda Trancoso e Delfina Porto, conta com o apoio da Secretaria Regional da Educação e Cultura, da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, do Museu da Horta, da UniSénior, da A Padaria e da família da falecida.

Alunas homenageiam professora Maria Simas
A nossa Mestra

Não existe o termo mestra? Passará a existir, pelo menos neste texto, porque a nossa Professora bem merece este desvio do vocábulo pois que o conceito molda-se na perfeição ao seu percurso no nobre ministério de ensinar.

A D. Maria Simas

A Mulher que dedicou a vida aos seus meninos, a Professora que nos transmitiu muito mais do que ensinamentos das diversas áreas disciplinares, mas também e principalmente nos incentivou, acarinhou, educou e muitas vezes nos deu colo. Conhecemo-la no contexto escolar da localidade do Pasteleiro, zona habitada por famílias que maioritariamente sobreviviam da pesca e dos trabalhos de campo. Pais que lutavam diariamente para garantir que pelo menos os filhos não fossem para a cama com fome. Porque para a escola, sim, muitas vezes não levavam nada no estômago. E alguns ficariam assim até à hora de saída da escola, não fosse a generosidade maternal da nossa Mestra que conhecia os seus educandos como ninguém e adivinhava-lhes no fundo do olhar a fome mal disfarçada. Pobres meninos que de pé descalço percorriam caminhos hostis com chuva ou sol e muitas vezes faltavam às aulas porque os pais necessitavam da sua ajuda nas tarefas do dia a dia. Deste modo alguns prolongavam a sua permanência na escola até aos 14, 15 anos, acarretando consigo todos os problemas associados à adolescência que exigiam da Mestra a perspicácia e assertividade necessárias à resolução de conflitos que nem sempre eram fáceis de ultrapassar. A nossa professora praticava com engenho e grande eficácia aquilo que só décadas mais tarde começou a entrar como disciplina no currículo escolar da formação de professores – a interação pedagógica com os pais dos alunos. Se o pai não ia à escola nem por isso o que havia a dizer ficaria por dizer pois a professora iria até ao pai, ou a casa ou à tasca se preciso fosse. Falo em nome das minhas irmãs, mas também em nome dos meninos humildes do Pasteleiro, o Pedro da Maluca, o Manel Sapão ou o Manel Sardinha que muita atenção e afeto receberam dos anos em que tiveram como Mestra a D. Maria Simas. É claro que a D. Maria Simas lecionou em outras freguesias, mas daquilo que sei, deixou a mesma marca de tolerância, afabilidade e ternura nos corações dos seus alunos e a prova disso são as manifestações de reconhecimento e apreço que constantemente recebe de antigos alunos, muito particularmente dos que emigraram e continuam a fazer questão de lhe telefonar pelo aniversário e trazer-lhe uma prenda quando retornam à ilha em férias.
No meu caso pessoal a ela devo a minha entrada no Liceu Nacional da Horta que ocorreu como resultado da sua persistência em convencer o meu pai que valeria a pena o investimento feito com aquela menina em quem ela apostava e assegurava que seria uma brilhante aluna. Ainda hoje me admiro com a sua argúcia em descobrir na menina encolhida e tímida que era eu, vislumbres de alguns recursos de inteligência que pudessem não deixá-la ficar mal perante o julgamento feroz do meu pai que resistia em permitir que a sua filha frequentasse o Liceu dos rapagões (quem sabe mal intencionados) da cidade!
Nossa Querida Mestra, o nosso reconhecimento pelos valores que nos transmitiu é infinito e todo o que possamos dizer nunca será demais para exprimir a profunda gratidão que lhe devemos e o extremo orgulho em assumir que passámos pela suas mãos, ou melhor, que tivemos o privilégio de absorver tudo o que de mais prestimoso nos ensinou e que até hoje marca a nossa personalidade.

Horta, Dezembro de 2017

As manas Cabritinhas
Lúcia M. Mello Serpa
Lina Miguel
Lurdes Serpa

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