1.º Aniversário

0
23
TI

TI

Foi um pesadelo o que os meus olhos viram. A beleza dos olhos enormes tão significativos tinha perdido o brilho e, agora estavam fechados. Partiste, dormindo. Penso que nesta partida não sofreste. Nesta partida, não pude fingir a minha dor e chorei.
O apoio do teu olhar tinha ido. Para sempre. Só nós duas falámos tudo com o olhar. Tudo mesmo. E, entendíamo-nos tão bem.
A fina ironia dos teus comentários já se tinha calado. Os movimentos já não mais existiam. Ao pé da cama olhava para ti sem que movesses um músculo sequer. A minha mão na tua. Tão magra. Já tão fria.
A certeza da liberdade desse corpo.
Fazes-me tanta falta. Muita falta.
Foi uma bonita trajetória. Triste.
Deixas-te tua arte nas crónicas, nos artigos, mas principalmente no que não publicaste. No que compartilhaste intimamente. Comigo. Com o teu neto. Nos rascunhos que recolhi ainda contigo me segredando onde os tinhas guardado.
Passinhos leves, pelo corredor, ar de malícia, cara de criança travessa, sem uma palavra, só os olhos me falando. Só o nosso sorriso de cumplicidade.
Escritora de sentimentos. Mas também leitora. Voraz. Curiosa pelos factos da vida. Entediada pela vida. Empática. – Aliás, como disse João no seu único comentário sobre a tua partida. – avóvó!… a pessoa mais empática que alguma vez conheci, duvido que conhecerei.
Companheira. Minha companheira de viagens. Das que fizemos juntas e das outras.
Companheira de meus afetos e amores.
Companheira de minhas alegrias e conquistas.
Companheira de minhas tristezas, angústias e derrotas.
Companheira! Querida! Fazes-me tanta falta. Muita Falta.
Prefiro achar que foste viajar sozinha. Que foste tomar outros rumos e explorar outras nuvens e, me esperarás no inverno de Nova Iorque para me dares aquele abraço quente em meio à neve de uma esquina ventosa.
Prefiro achar que foste finalmente encontrar tua felicidade. Estás feliz. Eu sei. E livre. E foste em paz. Vi isso no teu rosto. Foste dormindo, sem dor!
Com muitas crónicas na tua cabeça por publicar.
Hoje, passado um ano, ainda me sinto tão órfã. Mas segue o teu caminho para onde a vida te levar. Faz uso de tuas asas e voa por esse infinito. Recria-te. Vê todas as flores e cores e detalhes tão insignificantes que me ensinaste a olhar. A apreciar. A valorizar. A dar importância.
Perdão pelo que fiz. Perdão pelo que não fiz. Perdão pelo que quis fazer e não pude ou não soube e, minha eterna gratidão pelo caráter e pelo que me permitiste construir.
Tínhamos a promessa de nunca dizer adeus. Então é tchau. Qualquer Hora voaremos novamente juntas e faz-me o favor de ser feliz!
Fazes-me tanta falta. Muita falta.
Te amo mãe! Para sempre. 

Ana Paula Nogueira

O MEU COMENTÁRIO SOBRE ESTE ARTIGO

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!