A Semana de todos os negócios

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A Semana do Mar será, porventura, a altura do ano que mais dinamismo confere à economia faialense. Para tal contribuem muitas razões: por um lado, o clima de festa e animação faz com que os locais tenham tendência a abrir um pouco mais “os cordões à bolsa”. Por outro, a festa traz mais pessoas ao Faial, entre os que vêm de outras ilhas para desfrutar da animação, os que vêm participar na festa – seja no mar ou em terra -, e os que regressam para matar saudades. A isto acresce o facto da Semana do Mar acontecer em Agosto, em plena época alta do turismo, razão pela qual a festa “apanha” na ilha muitos turistas que cá chegaram por outras razões. 

Tribuna das Ilhas foi saber o que pensam alguns empresários locais de áreas directamente relacionadas com a dinâmica que se cria em volta da maior festa do Faial sobre aquela que é a semana de todos os negócios. 

A Semana do Mar são sete dias para se fazer negócio. A população flutuante aumenta como em nenhuma outra época do ano, e com mais pessoas surgem mais oportunidades de ganhar dinheiro. É com esta lógica em mente que áreas como a restauração, a hotelaria ou o aluguer de viaturas se preparam para esta altura de maior azáfama.

Na hotelaria, longe vão os tempos que a Semana do Mar era sinónimo de ocupação lotada. Apesar disso, os hotéis faialenses esperam níveis de ocupação bem superiores ao resto do ano. José Fontes, do Faial Resort Hotel, espera que 2012 seja melhor que o ano anterior e que a ocupação ronde os 90%. O cenário animador deve-se ao facto do principal mercado desta unidade hoteleira estar no estrangeiro, com alemães e italianos a liderarem a procura.

Já Pedro Ramito, do Hotel Horta, espera um cenário pior que em 2011. No ano anterior, recorda, a ocupação não chegou aos 90% e este ano deverá andar na casa dos 70%. A razão para a quebra, aponta, é o facto do mercado prioritário ser o luso-espanhol, mais afectado pela crise económica. 

Um dos indicadores do aumento de população na ilha por esta altura é o aumento do consumo de pão. De acordo com Humberto Goulart, da padaria Bico Doce, nos últimos anos a Semana do Mar tem exigido à sua empresa um aumento da produção na ordem dos 15 a 20%. O aumento do consumo de pão não apanha desprevenido este empresário, que nesta altura reforça o número de trabalhadores. Para 2012, as expectativas são, no entanto, de menor volume de negócios. 

Também Teresa Medeiros, da Padaria Popular, aponta para um aumento de 15 a 20% na produção de pão por esta altura. Uma das causas deste aumento está relacionada com as tasquinhas da Semana do Mar, que absorvem parte significativa da produção por esta altura. Mais optimista no actual cenário, Teresa está confiante de que este ano não haverão quebras em relação ao ano passado.

No sector da restauração a Semana do Mar também é uma oportunidade de negócio e, apesar das tasquinhas e os restaurantes da Feira Gastronómica serem concorrência extraordinária, os restaurantes faialenses notam sempre maior afluxo nesta altura. De acordo com Manuel Matos, do restaurante Barão Palace, aparecem sempre mais clientes nesta semana, não apenas turistas mas também locais que aproveitam a visita dos familiares para jantar ou almoçar fora. Em 2011, no entanto, frisa que já notou uma quebra no fluxo de clientes por esta altura. Ainda assim, o empresário espera um aumento do volume de negócios na ordem dos 20% durante a primeira semana de Agosto. 

Com mais clientes vem também mais responsabilidade e a vontade de deixar uma boa imagem é maior. Por isso, explica Manuel Matos, há uma preocupação em dar destaque aos pratos regionais e mostrar o que de melhor há para provar por estas bandas, com destaque para o peixe fresco.

Também as empresas que se dedicam ao aluguer de viaturas aproveitam a Semana do Mar para dinamizar o negócio. De acordo com Ilídio Silva, da rent-a-car Auto Turística Faialense, as duas primeiras semanas de Agosto são “de excepção” quando comparadas com o resto do ano e, por norma, são a única altura em que a procura suplanta a oferta. No entanto, também este sector não foge à crise e o empresário queixa-se de um ano muito fraco até agora. 

Investimento com Retorno

A realização da Semana do Mar 2012 implica um investimento de 250 mil euros, 120 dos quais directamente saídos dos cofres da autarquia. Valores abaixo dos praticados noutros tempos, ajustados à conjuntura de crise que actualmente se vive.

De acordo com o presidente da Câmara Municipal da Horta (CMH), importa, todavia, continuar a fazer uma boa aposta na festa já que o retorno que esta traz à economia da ilha é “claramente superior” ao valor investido. “Penso que a Semana do Mar é a festa dos Açores com maior retorno directo”, diz João Castro, que estima que esse retorno ande na ordem dos 500 mil euros.

Para o autarca, uma das provas de que a Semana do Mar é um negócio de sucesso é a procura pelas tasquinhas e barraquinhas, cujos leilões são sempre bastante participados, interesse que sugere que as mesmas são apostas lucrativas para quem as explora. O mesmo acontece com os restaurantes da Feira Gastronómica que, assegura Castro, mostram sempre interesse em voltar.

Também os números da ocupação hoteleira e nas unidades de turismo rural são, para o autarca, sinal de que a economia da ilha ganha com a Semana do Mar.

Além disso, João Castro chama a atenção para o retorno indirecto, relacionado com a vertente promocional da festa. “A Semana do Mar leva o nome do Faial mais longe”, assegura.

Maldita Sazonalidade

Se certo é que a Semana do Mar permite potenciar uma série de áreas de negócio no Faial, certo é também que a sua localização temporal – a primeira semana de Agosto – faz com que a época alta na ilha fique concentrada numa janela de tempo de apenas algumas semanas.

A sazonalidade é a dor de cabeça da grande parte dos empresários faialenses, que desesperam ao vê-la aumentar. 

Pedro Ramito e José Fontes são unânimes ao afirmar que a sazonalidade no sector hoteleiro tem vindo a aumentar. “Antes o Verão ia até Setembro, agora fica-se pelo fim de Agosto”, refere o responsável pelo Hotel Horta, para quem esta situação é preocupante, pois fora da época alta as ocupações hoteleiras são francamente inferiores, o que obriga a praticar preços mais baixos.

Também Manuel Matos diz notar que a ilha fica “morna” assim que acaba a Semana do Mar, com repercussões na sua actividade empresarial. 

Para Ilídio Silva, a sazonalidade é, sem sombra de dúvidas, o “maior inimigo” dos empresários faialenses. No que toca às festas de Verão, o Faial tem a particularidade de fazer coincidir as suas com a época alta do turismo, ao contrário do que acontece em outras paragens, como em Angra do Heroísmo, com as Sanjoaninas, no final de Junho, a permitirem um afluxo de pessoas fora dos meses “altos” de Verão. Esta situação, alerta Ilídio, é mais preocupante pelo facto de se estar a agudizar. Segundo o empresário, se antes a época alta chegava a durar 4 meses, hoje em dia está cada vez mais reduzida. 

Também o presidente da CMH considera importante reduzir a sazonalidade no Faial. Tendo isso em conta, João Castro refere que o grupo de trabalho da Semana do Mar tem reflectido sobre a hipótese de uma Semana do Mar com menos investimento permitir o mesmo retorno económico que actualmente permite. Caso se garantisse igual retorno com menor investimento, explica, seria possível canalizar esse investimento para outros períodos do ano, “aumentando as taxas de ocupação e o período de permanência dos turistas na ilha”. 

No entanto, o autarca é peremptório ao afirmar que os tempos actuais não permitem grandes ensaios: “em período de crise não devemos fazer experiências nessa matéria. Devemos apostar naquilo que está sólido, numa boa metodologia e num retorno óbvio e directo. Com melhores tempos, então sim, devemos retomar este raciocínio”.

Esta reportagem integra a revista Especial Semana do Mar do Tribuna das Ilhas, de distribuição gratuita

 

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