D. Marcelo I, “O Beijoqueiro”

0
52
TI

TI

Os cognomes dos reis resumem, em grande parte dos casos, a forma como os mesmos desempenharam as suas funções. No entanto, abundam os casos em que os cognomes resultam apenas de características físicas ou comportamentais dos monarcas. Os povos foram, muitas vezes, severos nas apreciações dos seus reis.
Veja-se o caso do desgraçado do Henrique IV de Castela, “O Impotente” (1454-1474). O seu insucesso em consumar sexualmente o matrimónio com Branca de Navarra teve como consequência a anulação do matrimónio. Foi o próprio Henrique IV que se entregou às más-línguas, afirmando que tinha tentado tudo ao longo de três anos, sem qualquer resultado prático. Henrique IV alegou, em sua defesa, que tinha sido enfeitiçado (algumas prostitutas de Segóvia testemunharam a favor da virilidade do Rei). Quando, anos mais tarde, este mesmo monarca teve uma filha com Joana de Portugal, filha do Rei D. Duarte, poucos acreditaram que ele fosse realmente o progenitor.
A lista de reis espanhóis maltratados é longa. O povo chamou-lhes tudo: urso, monge, louca, teimoso, enfeitiçado, pasmado, corcunda, gordo, mau, doente e até gotoso. O meu preferido é o lendário “Pepe Botelha”, cognome que descreve de forma bastante impressiva o gosto excessivo de José I de Espanha (1808-1813) pelo vinho. Já Santiago Carrilho, o histórico líder comunista espanhol da “Transição”, apelidou o Rei Juan Carlos de “O Breve”. A verdade é que durou mais que isso (39 anos). Apenas um elefante africano e uma beldade alemã lograram derrubá-lo.
Tendo em conta a severidade espanhola, o nosso D. Afonso II, “O Gordo” (1211-1223), não tem grandes razões de queixa. Pelo que fez, D. Pedro I (1357-1367) mereceu mesmo ser apelidado de “O Cruel”. Já os ingleses são do pior que existe nestas e noutras matérias. Trata-se de holiganismo puro. Para os ingleses, Jaime II (1685-1688) é o “James the Shit”. O Rei Jorge IV (1768-1830) descuidou um pouco a linha e foi logo apelidado de “O Rei das Baleias”. A Rainha Maria I (1553-1558) recebeu o cognome de “A Sangrenta”. Os ingleses nem sequer descontaram o facto de a Rainha ser filha de Henrique VIII (um pai destes desculpa quase tudo). Enfim, os ingleses são sempre excessivos.
Tendo em conta estes factos, decidi – só para retaliar – atribuir cognomes aos Presidentes da República. O povo já tratou do caso de Mário Soares, “O Bochechas”. Vou dedicar-me ao Marcelo, o segundo Presidente-Rei da República. Tendo acompanhado o homem durante alguns momentos da sua última visita presidencial – e tendo em conta o seu extenso historial na imprensa escrita e na televisão – sinto que conheço relativamente bem o político.
Depois de o ter acompanhado e de ter apanhado uma grandíssima estafa no seu encalço pelas canadas do Corvo, decidi desenterrar, das profundezas da História do início do segundo milénio da Era Cristã, o cognome do Rei de Inglaterra Haroldo I (1035-1040). Este monarca ficou conhecido como o “Pés de Lebre”.
Tenho a certeza que muitos estarão de acordo com esta designação. A começar pelo Represen-tante da República, Pedro Catarino, que já não tem idade para estas coisas. O homem estava absolutamente arrasado. Os homens e mulheres da comunicação social também concordarão – tendo em conta as caras de aflição que vi – e também a quase totalidade dos membros do Governo Regional, que não estão habituados a estas estopadas. Apesar de tudo, desisto do cognome “Pés de Lebre”. Não quero ofender a malta do PAN, que pode confundir o cognome com um troféu de caça.
A minha outra escolha consiste em tentar furtar o fantástico cognome do Rei Luís XI (1461-1483): “O Rei Aranha”. O povo francês atribuiu-lhe esta designação devido às complexas maquinações e intrigas políticas que este monarca engendrou durante o seu reinado. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é uma espécie de reincarnação quase perfeita do “Rei Aranha”. É maquiavélico, calculista e extremamente criativo na gestão de egos, expectativas e rivalidades. Mas, mais uma vez, desisto do cognome escolhido. Tenho medo de ser processado devido a apropriação ilegal de propriedade intelectual da “Marvel Comics”.
Tenho outra hipótese na cabeça: “O Piedoso”, cognome atribuído a D. João III (1521-1557). O Presidente Marcelo deu mostras de grande religiosidade nos seus encontros com o Papa, na visita ao Santuário de Fátima e nas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Parece-me um cognome inatacável. Alguns dirão que o Presidente Marcelo tem facetas menos piedosas. É verdade! Mas o Rei D. João III também tinha telhados de vidro, nomeadamente a criação da Inquisição em Portugal. Apesar de tudo, desisto mais uma vez. Não quero alimentar polémicas com a Igreja.
Eliminadas as hipóteses anteriores, refugio-me na brejeirice mais básica e escolho o cognome de “O Beijoqueiro”, tendo em conta que essa é a principal ocupação do atual Presidente da República. Não está mal visto, pois não?
Finalmente, importa avaliar o contributo prático e transcendental das visitas do Presidente da República aos Açores (agora que o mesmo se prepara para visitar a nossa Região novamente). Neste item, nada a registar. Vai uma selfie?

O MEU COMENTÁRIO SOBRE ESTE ARTIGO

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!