Sobre a morte de um tubarão

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A 5 de Junho, em pleno Dia Mundial do Ambiente, apareceu um tubarão já de tamanho considerável no portinho da Povoação. As primeiras notícias variavam entre o divertido e o inquietante. Se uns diziam que tinha motivado grande movimentação e excitação, falando-se já no “Oceanário da Povoação”, outros referiam o interesse em tentar capturar esse animal. Inicialmente, as tentativas pareciam goradas e o animal seguia o seu caminho.

Infelizmente, passadas umas horas, os pescadores da Povoação conseguiram os seus intentos e o tubarão foi capturado, torturado (ainda vivo tiraram-lhe as barbatanas) e morto. A indignação tomou conta das redes sociais, onde este evento foi quase consensualmente censurado.

O animal em causa era um tubarão-trigre-da-areia, animal inofensivo que se alimenta de pequenos peixes e invertebrados (polvos e crustáceos). É também um animal considerado em condição Vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

Não havendo necessidade de licença para a pesca de costa e não estando o portinho da Povoação sobre qualquer limitação, a captura é legal. No entanto, sendo um animal selvagem, não havendo qualquer intuito alimentar e sendo uma espécie vulnerável que moralidade há neste ato?

Até hoje, que me recorde, houve quatro observações deste tubarão nos Açores. Dois animais arrojaram mortos nas praias de São Miguel, um foi morto no porto de Rabo de Peixe, faz agora um ano, e o quarto foi morto no portinho da Povoação. Quatro observações, quatro mortes. Não é um registo que nos dignifique.

A aferição sobre a evolução de uma sociedade faz-se aplicando diversas metodologias. Há quem use o número de organizações não-governamentais geradas, outros verificam qual o nível de proteção dada aos mais jovens e aos idosos e, ainda outros, usam a forma como os animais são tratados. Por uma questão de consenso, os melhores métodos integram estas três abordagens. Pelos dois primeiros pontos de vista, não há dúvida, os Açores já deram passos de gigante tendentes a tornarem-se um melhor local para todos. Em relação à terceira metodologia, como se pôde verificar, ainda há um percurso a fazer.

Na minha opinião, no entanto, há sinais de esperança e de otimismo. Ao contrário do que aconteceu há um ano atrás, em que a sociedade foi complacente com a morte do tubarão em Rabo de Peixe, este ano houve um repúdio alargado e intenso. 

Temos de continuar a trabalhar no sentido de demonstrar os serviços ecológicos prestados pelos tubarões e divulgar as características que os tornam animais extraordinários. Quem conheça verdadeiramente os tubarões, dificilmente os poderá matar. É por essa razão que uma parte significativa dos restaurantes da ilha de São Miguel já retiraram da ementa os pratos que usam estes animais. Esperemos que o Dia Mundial do Ambiente de 2014 possa ficar na nossa memória por razões diferentes do que aconteceu este ano.

 

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