A ASSOBIAR PARA O LADO

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Na minha última crónica fiz referência à importância da consolidação da nossa economia para o reforço da nossa autonomia, quer a nível regional, quer nacional. Quanto maiores forem a nossa estabilidade e a nossa pujança, menos dependentes ficaremos das avaliações e dos apoios externos. Numa situação em que frequentemente se classifica o comportamento do nosso país como um aluno bom ou mau, assumindo-se o seu grau de cumprimento dos objectivos pré-definidos, usando o mesmo tipo de caricatura, entendo que nunca podemos deixar de analisar por que esse “aluno” não está a corresponder. Tal como no mundo do ensino, esse até pode ser um factor que justifique a necessidade de se mudar o sistema, mas nunca podemos desviar o foco do aluno, nem muito menos desresponsabilizá-lo, por mais tentador que seja. Há quinze dias, quando partilhei esta análise com o leitor, não podia antever que os dados do nosso desenvolvimento económico fossem tão preocupantes. A nossa economia está, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a desacelerar. Este ano estamos a crescer menos (cerca de metade) do que crescíamos o ano passado. Estamos a afastar-nos da Zona Euro (cujo crescimento médio é o dobro do nosso, em comparação com igual período do ano passado) e estamos muito longe das metas anuais apresentadas pelo Governo da República. Desvalorizar esses dados, como o fazem os nossos governantes ao tentar transmitir uma mensagem de que não estamos perante qualquer problema, não contribui para o desenvolvimento da confiança; antes pelo contrário, reflecte uma profunda falta de responsabilidade perante as consequências deste abrandamento económico. Por diversas vezes tenho alertado para o suicídio inter-geracional que decorre da incapacidade de resolução dos nossos problemas económicos e financeiros actuais e, mais ainda, do adiamento de políticas económicas e sociais responsáveis. Seguimos, por conveniência partidária, como o doente em negação que se recusa a tratar da sua doença, como se a não aplicação de qualquer tratamento (e até mesmo a realização de exames de diagnóstico) significasse a inexistência da doença. Tal como as doenças não tratadas a tempo, que evoluem para manifestações mais gravosas, estamos a comprometer, também, as gerações futuras, com esta política do “faz de conta que o problema não existe”. Pelas reacções que vieram a público esta semana, poder-se-á dizer, numa análise não desprovida de grande condescendência, que o governo PS, apoiado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, entende que não há qualquer risco de contracção no futuro. Mas não falamos apenas de futuro, falamos do presente, em que a única agência de rating que nos mantém acima do lixo veio afirmar esta Terça-Feira a sua preocupação com o fraco desenvolvimento de Portugal. Este, só por si, tem de constituir um forte sinal de alerta para aqueles que governam o nosso país. Não me refiro ao efeito imediato que resultou no aumento dos juros da dívida portuguesa, que é, uma vez mais, um factor que compromete o nosso futuro, atendendo a que este parece ser apenas um “pormenor” face às políticas que têm vindo a ser seguidas. Refiro-me à catástrofe que pode ocorrer se a agência Canadiana de rating fizer uma avaliação negativa a Portugal, na análise que fará daqui a dois meses. Ainda não totalmente recuperados, uma nova recessão terá efeitos muito mais graves. As consequências não serão apenas numéricas, não se reduzem a estatísticas ou dados financeiros. Os efeitos repercutem-se nas pessoas. É, por isso, tempo do governo PS deixar de assobiar para o lado e preparar, de forma responsável e consciente, um plano de crescimento efectivo que se constitua como uma resposta credível às instituições das quais dependemos. www.sofiaribeiro.eu [email protected]

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