A diversidade política e linguística da Península Ibérica

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Observo com grande interesse, desde há muito tempo, a evolução da questão territorial em Espanha. Estou absolutamente convencido que a Espanha, enquanto Estado unificado, tem os dias contados. Não tenho dúvidas que o processo de desagregação política do Estado espanhol – e as suas implicações na União Europeia – constituirá o assunto central da política portuguesa a muito curto prazo.
Sou um firme defensor do direito à autodeterminação das nações peninsulares que ainda se encontram submetidas ao centralismo castelhano. Portugal restaurou a sua independência política em 1640, mas o mesmo não sucedeu, por exemplo, com a Catalunha.
Cerca de 40% da população espanhola possui uma outra língua materna (basco, catalão ou galego, isto para não citar outras línguas minoritárias, como o asturiano ou o occitano) que não o castelhano. O poder central castelhano perseguiu e tentou esmagar a identidade cultural e linguística das nações peninsulares ao longo de séculos. Só depois da morte de Francisco Franco é que as línguas próprias das nações peninsulares passaram a ser reconhecidas oficialmente nas respetivas comunidades autónomas espanholas.
Assim, o basco é a língua oficial do País Basco (ou Euskadi) e de Navarra; o catalão é língua oficial na Catalunha, nas Ilhas Baleares e na Comunidade Valenciana (embora seja designado como valenciano nesta última comunidade) e o galego tem estatuto de língua oficial na Galiza.
Nas zonas contíguas a estas nacionalidades existem territórios com maiorias populacionais de língua galega (comarca do Berço na Comunidade autónoma de Castela e Leão e na parte ocidental do Principado das Astúrias), catalã (na zona oriental de Aragão e no norte de Múrcia) e basca (nomeadamente nos enclaves que se situam no interior do País Basco).
O basco e catalão são também falados – embora de forma muito minoritária – nos territórios franceses adjacentes às comunidades autónomas de Navarra e da Catalunha. São territórios transpirenaicos que integraram os Condados Catalães (a chamada Catalunha do Norte, cedida pela Espanha à França em 1659) a Baixa Navarra (a parte do Reino de Navarra não anexada pela Espanha no início do século XVI) e outros territórios ancestrais de língua basca junto aos Pirenéus.
Por outro lado, alguns setores nacionalistas galegos defendem a plena integração da língua galega na língua portuguesa. São os chamados reintegracionistas. Esta corrente – cada vez mais numerosa e influente – defende que ambas as línguas têm origem galaico-português medieval e que a posterior diferenciação entre o galego e o português teve um caráter coercivo, em resultado da hegemonia política e cultural castelhana no interior do Reino de Espanha. Assim, de acordo com esta corrente, a evolução natural do galaico-português ocorreu no território português.
O facto dos três nacionalidades do Estado espanhol terem uma natureza irredentista sobre o território de outras comunidades autónomas espanholas – e mesmo sobre os Estados francês e português – constitui um fator que acentua o extraordinário potencial desestabilizador e violento do processo de desagregação do Estado espanhol.
A Espanha enfrenta, na atualidade, uma crise política sem precedentes. O desafio independentista da Catalunha parece irreprimível. Mas a eventual secessão da Catalunha não resolverá, em definitivo, a questão política e territorial do Estado espanhol. As outras zonas de língua catalã, basca e até galega da Espanha colocarão em causa a sua manutenção num Estado espanhol amputado da Catalunha (que representa cerca de 22% da economia espanhola). Para já vamos ver o que sucede no dia 1 de outubro de 2017 (data do referendo independentista que as autoridades catalãs estão a organizar).

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