Quando era pequenino, lembro-me de jogar à bola com o meu irmão. Jogávamos em espaços apropriados, remediados e adaptados, pois que a urgência de pontapear a esfera e correr com um propósito, se impunha a todas as demais prioridades. E habitam verdades profundas nas urgências inadiáveis das crianças. Um dos espaços mais inusitados para o fazer era o das ruínas da Igreja do Carmo, em Lisboa; enquanto minha mãe tinha intermináveis reuniões, fundamentais para o futuro do património cultural luso que, não poucas vezes, se arrastavam pela noite dentro.
Nesses momentos, as altaneiras naves da igreja assemelhavam-se a bancadas cheias de gentes antepassadas, os holofotes gigantes alumiavam o monumento e, no centro, o relvado, onde eu e meu irmão nos confrontávamos, espiados pelas pombas adormecidas e pelos gatos que as caçavam, assemelhava-se a um desses estádios-catedrais. Guardo, com imenso carinho, essas inusitadas recordações, que nos marcaram tanto, ao ponto de ambos termos seguido para a área das ciências do património cultural.
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