Há uns dias atrás a Juventude Popular (JP) e o CDS-PP dos Açores decidiram brindar a população do Faial com um cartaz que, segundo pude deduzir, é alusivo aos constantes voos cancelados no aeroporto da Horta por parte da transportadora aérea açoriana SATA.
O slogan escolhido “Só Amanhã Temos Avião” com as letras iniciais a vermelho (SATA), distinguindo-se das restantes, deu-nos, ao primeiro olhar, uma certa boa disposição, mas, de uma forma mais atenta, leva-nos efetivamente a refletir acerca das dificuldades cada vez mais notórias que os faialenses têm em sair da ilha, seja porque o avião cancelou naquele dia, seja porque os voos se encontram completamente esgotados, seja ainda pela redução do número de voos e lugares disponíveis.
No entanto, para além do facto de “a brincar se vão dizendo as verdades”, parece evidente que dentro daquele slogan cabe também outro elemento relevante, como é o caso da pontualidade da companhia aérea.
E não a propósito, umbilicalmente ligada aquela questão, assistimos na passada semana à publicação por parte da maior empresa mundial de fornecimento de dados estatísticos de aviação – OAG – dos dados referentes ao mês de abril relativos à pontualidade das empresas de aviação civil de todo o mundo.
Olhando para o relatório, sobretudo na parte que respeita aos Açores e à SATA Internacional, apercebemo-nos que, quando fazemos o check-in no aeroporto da Horta para voar para Lisboa, há apenas 53% de certeza que o avião não vai aterrar ou não vai chegar ao seu destino dentro do horário estipulado. Mas se quisermos utilizar a SATA Air Açores para viajar entre ilhas, então teremos 66,7% de certeza que chegaremos ao destino à hora definida pela companhia.
Não admira por isso que, durante esse mês de abril, a SATA Internacional (Azores Airlines) tenha sido a terceira pior classificada entre 153 transportadoras aéreas em termos de pontualidade, ocupando o desprestigiante lugar cento e cinquenta e um (151) do ranking.
Pode alegar-se que essa fraca pontualidade é decorrência do desgaste dos equipamentos, da gestão da frota e tripulações disponíveis e muitas vezes das constantes condições climatéricas adversas, mas tal não deixa de ser uma realidade visível, perceptível ao mundo da aviação e com consequências deveras preocupantes para a SATA.
Obviamente que estas duas questões – cancelamentos e pontualidade – encontram-se interligadas com uma outra, já iniciada, e que respeita à urgente necessidade da transportadora aérea açoriana em encontrar um parceiro privado estratégico que lhe incuta um novo modelo de gestão, de modo a que possa conseguir prestar um bom serviço, recuperar o prestígio e a rentabilidade financeira que tem vindo a perder.
Todavia, o facto de apenas uma empresa, a Icelandair, ter sido pré-qualificada para a aquisição dos 49% da SATA Internacional que o Governo Regional tenta privatizar e de essa mesma empresa ainda não ter, na presente data, apresentado uma proposta vinculativa, capaz de satisfazer as exigências e os requisitos impostos pelo caderno de encargos, coloca um enorme ponto de interrogação acerca do futuro próximo da transportadora aérea.
Para que a SATA consiga sobreviver precisa de novos horizontes, de novas perspectivas de crescimento e certamente, não só da renovação da frota como também de mais aviões que lhe permitam expandir-se, nomeadamente para a América do Norte, abdicando, assim, de ser uma companhia aérea regional para se internacionalizar definitivamente.
E aqui a Icelandair teria um papel fulcral já que se encontra integrada num grupo mais vasto, robusto financeiramente e com largo “know how” no mundo da aviação, funcionando como um apoio estrutural que daria à SATA a dimensão e visibilidade que nunca teve.
Se assim acontecer, se se verificar essa avalanca de crescimento, então os Açores terão uma nova companhia aérea, capaz de influenciar de forma determinante o progresso e desenvolvimento da Região.
Mas até que tal seja uma realidade concreta, temos que nos ater às estatísticas e esperar.…. pelo avião.