Alta-Costura!

0
17

Prepararam-se costureiros da alta-costura do “traço”, para arquitectarem os trajes com que se quer vestir a Horta.

Na “passerelle” das instalações do antigo Banco de Portugal, de boa memória, estão em desfile por algum tempo, os modelos idealizados, para que o público, se assim o desejar, os possa apreciar e bater palmas ou não, ou emitir opinião por escrito sobre eles.

Bom seria que assim fosse e que a ele se juntassem aqueles que, Faialenses, por imperativos da vida tiveram que viver fora da ilha, o que não significa terem por ela menos amor e respeito do que aqueles que nela sempre viveram ou a ela retornaram, antes pelo contrário, porque a ausência involuntária exacerba o amor e a saudade do canto onde se nasceu!

Vestir a Horta não é vestir uma coisa qualquer, é vestir uma pequena e airosa cidade ribeirinha em anfiteatro, enquadrada numa das mais belas e naturalmente abrigadas baías, das muitas que existem por esse mundo fora, com um fabuloso pano de fundo como o é essa policromática montanha do Pico, que é o ex-libris deste conjunto ilhéu, para grande orgulho nosso.

Vestir a Horta bonita e ribeirinha, é vestir uma pequena cidade de coração grande, que no seu percurso de vila a cidade, esteve sempre na vanguarda dos grandes acontecimentos mundiais! Foram, sem preocupações cronológicas, os primórdios da navegação à vela, a carvão e, por aí fora. Do ciclo da laranja e do verdelho, ” que era do Pico e sempre continuará a ser”. Das lutas entre Liberais e Absolutistas a ponto de se dizer” que na Horta até as pedras das calçadas eram liberais”. Dos Dabney e de tudo o que esse século em que aqui viveram nos trouxe, com especial referência para a baleação, cujos navios enchiam totalmente a baía. Das grandes figuras nacionais como Ávila e Bolama e Manuel de Arriaga. Do principal nó de cabos submarinos do Atlântico e do que isso representou para o mundo e, obviamente, para as gentes desta terra. E foram os primórdios da aviação, desde o NC4 aos Clippers da Pan American, que deram início à aviação comercial. E foram as duas guerras e as bases navais aqui sedeadas, que levaram às grandes reparações de tantos navios, por gente extraordinária e local, ao serviço de boas e bem equipadas oficinas. E foi a presença dos vários batalhões de militares portugueses que aqui estiveram destacados vários anos durante a segunda guerra e todo o património defensivo que aqui deixaram construído. E a cidadezinha à beira mar plantada que deu cartas na cultura e noutras actividades congéneres! E o Património Religioso e não só, apesar do muito que se perdeu com tanta catástrofe. E a Horta bem-educada e civilizada que soube ser e que agora já não sabe mas que, apesar de tudo, ainda gosta de receber! E, é esta Horta cidade mar, que por décadas foi ponto de paragem dos rebocadores da L Smit, Horta marinheira, que até tem o melhor bar de porto do mundo, Horta que o iatismo internacional a cada ano enche mais de barcos, com bandeiras de todo o mundo e que o turismo procura em crescendo, cativado pelas novas “baleações” e outras actividades náuticas! É por esta Horta especial, por quem até Roosevelt se apaixonou a ponto de dizer que ela seria o lugar ideal para instalar a sede das Nações Unidas, imagine-se, é por esta Horta de tantos pergaminhos, sede do Parlamento Açoriano, que é importante saber que traje lhe irá assentar perfeitamente, de modo a realçar-lhe todos estes atributos e não a oculta-los, até porque é todo este “património” que fará dela uma cidade sempre apetecível e procurada pela sua história rica e pela sua beleza e enquadramento arquipelágico. A Horta é uma cidade com raízes que é preciso respeitar, amar e ensinar, para que os seus filhos saibam de onde vêm, como nela devem estar e como a devem passar àqueles que se lhes seguirem, porque as raízes e a história são a essência dum povo que se preze.

Pese embora o facto de existirem outras prioridades mais necessárias para o seu desenvolvimento, este momento de escolha de um novo “vestuário” para a Horta deve ser bem reflectido pois nem sempre a moda assenta bem e, a Horta ” tem um corpinho especial” por isso merece o melhor, sem megalomanias!

Como gato escaldado…e como a história recente nos ensinou, estamos fartos de projectos interessantes que, posteriormente desvirtuados, resultaram em obras redutoras e medíocres, porque para alguns a bolsa é sempre curta!

Horta, minha cidadezinha adorada, antes te quero limpa e asseada do que vestida, sem desprimor, “a la Bobone”, 01 de Fevereiro de 2014,

 

Teu filho, Jorge Diniz

* O autor não escreve de acordo com o novo Acordo Ortográfico

O MEU COMENTÁRIO SOBRE ESTE ARTIGO

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!