ANTÓNIO MARIA DE FREITAS – (1859-1923) – Escritor, jornalista e professor

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FLORENTINO QUE SE DISTINGUIU

Filho de Jerónimo Lino de Freitas e de Isabel Filomena de Freitas, nasceu em Santa Cruz das Flores, em 10 de Fevereiro de 1859, e faleceu em Lisboa a 1 de Agosto de 1923. Era, assim, neto de António de Freitas, benemérito florentino que, depois de ter feito fortuna em Macau, foi o fundador da Igreja do Cemitério do Mosteiro, na ilha das Flores. Foi seu padrinho de baptismo James Mackay, um dos florentinos mais brilhantes do seu tempo, filho do médico escocês, Dr. James Mackay, que foi o primeiro médico da ilha das Flores. 

António Maria de Freitas saiu das Flores com a tenra idade de 16 anos para estudar em Lisboa, onde praticamente residiu o resto da sua vida, tendo feito uma carreira brilhante em diversas áreas da cultura e do ensino.

Dois anos depois de ter iniciado os seus estudos, falecia-lhe o pai, deixando-o em precárias condições de fortuna e, sobretudo, com dificuldades para continuar os seus estudos. Por esse motivo teve de alterar os seus planos e de iniciar uma vida de trabalho e, simultaneamente, de estudos.

Era irmão de Jerónimo Lino de Freitas, que foi um excelente músico, e que, profissionalmente, esteve ligado a diversos serviços de obras públicas efectuados na ilha das Flores nos últimos anos do século XIX e primeiros do século XX. Assim, foram várias as obras florentinas que foram efectuadas pela sua empresa, designadamente o excelente edifício do Farol de Lajes das Flores, que constituiu um dos patrimónios mais ricos da especialidade do País e das Flores. Ele terá sido também o responsável por diversas pontes aí construídas nos últimos anos do século XIX. Para além disso, esteve envolvido na fundação de filarmónicas e orquestras, quer em Santa Cruz das Flores, quer em Lajes das Flores, nelas actuando como dirigente e como músico de elevada qualidade, para o isolado meio florentino em que vivia.

Mas, o António Maria de Freitas, sem recursos para poder continuar os estudos depois do falecimento do pai, assentou praça no Regimento de Infantaria 16, em Lisboa, protegido pelo florentino António Vicente Peixoto Pimentel, o benemérito que doou à Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz das Flores o convento de S. Boaventura dessa vila. Foi igualmente protegido pelo major Rosa Coelho daquela corporação militar, seu professor de desenho. Assim, acabaria por poder continuar os estudos e por enveredar por uma carreira profissional de professor.

Terminado o primeiro período do serviço militar, pediu licença e entrou como professor primário no antigo Colégio Parisiense, ao Rato, passando depois para a Escola Nacional, como explicador no Ensino Secundário.

Nesses estabelecimentos de ensino distinguiu-se tão notavelmente que mal lhe restava tempo para continuar os estudos e para manter as lições particulares aos filhos da primeira sociedade lisbonense, entre a qual depressa se relacionou com a estima e admiração de todos.

Aos 24 anos de idade, casou-se com Maria Amália de Sousa Mourão, filha do tenente-coronel Mourão, pertencente a uma distinta família castrense do Continente Português.

Seguidamente concorreu à direcção da Escola Municipal n.º 5, em Benfica, onde por algum tempo leccionou com dedicação e competência.

Assim, por mérito próprio, foi convidado a ingressar como professor na Escola Normal Superior de Lisboa, onde vinha desempenhando excelentes funções quando faleceu.

Para além da sua actividade profissional, foi também excelente jornalista, com o pseudónimo de “Nicolau Florentino”. Com esse pseudónimo pretenderia homenagear o distinto poeta satírico Nicolau Tolentino (1740-1811). Deste modo, em 1902 foi nomeado redactor principal do jornal “O Século” e, mais tarde, foi sucessivamente secretário-geral e director da revista “Ilustração Portuguesa”.

Sustentou controvérsia pública com o Dr. Cândido Figueiredo, em questões de Ensino e de Linguagem.

Entre outras obras, escreveu “Pleito Histórico”, “Mulher de Colombo” e, de colaboração com o Visconde de Sanches Balhena, “Famílias Nobres do Algarve”.

Como estudante, foi condiscípulo laureado de muitos homens eminentes da vida política do País, deles merecendo amizade e estima que se mantiveram até ao seu falecimento.

Dessa consideração merece referência o facto de ter sido convidado pelo político florentino e democrata de prestígio, Fernando Joaquim Armas, no tempo figura importante no Distrito da Horta, para aceitar a candidatura como deputado pelo círculo da Horta.

Recorda-se que Fernando Joaquim Armas, depois de ter sido Presidente da Câmara Municipal da Horta, foi Governador Civil da Horta entre Março de 1916 e Dezembro de 1917. Pertenceu ao Partido Republicano Português, mais tarde alterado para “Partido Republicano Democrático” — vulgarmente conhecido por “Partido Democrático”. Na liderança desses partidos quase sempre se distinguiu o Dr. Afonso Costa que, devido à sua política inicial ati-religiosa, despertou imensos ódios e despreso. 

Durante a minha juventude, alguns dos meus ascendentes ainda recordavam com nostalgia e admiração por esse partido, e pelo Sr. Fernando Armas, partido esse que forçadamente veio a desaparecer com a ditadura que se seguiu à 1.ª República.

António Maria de Freitas, em carta amistosa, alegou não aceitar aquela candidatura por considerar “que precisava mais do pão da sua profissão do que dos nomes e honras de S. Bento”. Refira-se, a propósito, que se estava então no tempo agitado, polémico e confuso da 1.ª República, cuja política viria a desembocar, como se sabe, na ditadura do Estado Novo criada por Salazar na sequência do Golpe de Estado do 28 de Maio de 1926, que só viria a desaparecer com o “25 de Abril” de 1974.

António Maria de Freitas foi mais um homem do ensino, do jornalismo e da cultura do que da política.

BIBLIOGRAFIA:

Jornal “O Florentino”, de 4-8-1923.

Jornal “Correio da Horta”, de 29-5-1984.

 

 

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