Bruno de Carvalho, Pinheiro de Azevedo e o Governo Regional

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Bruno de Carvalho, o inenarrável presidente do Sporting – só peço a Deus que ele se mantenha, por muitos e bons anos, na presidência dos “leões” -, descobriu, recentemente, que um dos seus tios, o almirante Pinheiro de Azevedo, foi primeiro-ministro de Portugal entre 1975 e 1976, durante os tempos dementes do PREC.
Depois de descobrir o seu “pedigree”, o bom do Bruno de Carvalho nunca mais se calou em relação a esta descoberta das suas raízes familiares. No discurso de vitória, que realizou no dia da sua gloriosa reeleição, Bruno de Carvalho produziu um discurso sublime, como é, aliás, seu hábito. Podia ter citado Churchill e o seu “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Para mim, que pertenço aos tantos, a frase ter-me-ia parecido adequada ao momento, na medida em que considero que tenho um enorme dever de gratidão para com os homens e mulheres que o reelegeram.
Mas não foi Churchill que Bruno de Carvalho para adornar a sua maravilhosa oratória. Escolheu, em alternativa, uma das memoráveis frases do seu tio-avô, o almirante Pinheiro de Azevedo, que ficou imortalizado na nossa História política pela sua oratória requintada e loquaz. A frase escolhida mostra bem a sensibilidade profunda do orador que foi Pinheiro de Azevedo: “bardamerdapara quem não é do Sporting”. Esta frase ilustra bem a profundidade e complexidade do pensamentodo almirante e do seu descendente colateral (a frase original é “bardamerda para o fascista”).
Tendo em conta a identidade e a obra literária da “musa inspiradora” de Bruno de Carvalho, tenho a certeza que o mesmo já tem preparados muitos outros discursos inspiradores. Já estou a ver a sua reação aos protestos mais violentosdos adeptos leoninos, munidos de “verylights”, por mais um campeonato perdido: “É só fumaça, o povo é sereno”.
O cardápio da pujante oratóriado almirante dá para tudo. Se o presidente do Sporting se sentir apertado com uma espera mais caótica dos adeptos e não conseguir sair do estádio, a frase pinheirista adequada é esta: “Fui sequestrado. Já duas vezes. Não gosto de ser sequestrado. É uma coisa que me chateia. E agora vou almoçar, pá”.
Pode também acontecer que Bruno de Carvalho não consiga “governar” o Sporting, por diferentes motivos (é mais que uma hipótese, tendo em conta o que se passou nos últimos anos). Pinheiro de Azevedo também inventou uma solução original para este tipo de contingência. Foi o primeiro chefe de governo do mundo a anunciar, nos trinta segundos mais surrealistas da História da televisão em Portugal, uma possível greve do Governo.
A semana passada, Bruno de Carvalho deslocou-se aos Açores. O mandatário sportinguista fez questão de voltar a referenciar o extraordinário legado do seu tio-avô. Percebo perfeitamente a situação. O homem sente-se em casa. Sente que aqui, nos Açores, a inspiração do velho almirante não foi esquecida. Aqui temos, efetivamente, um Governo em greve.
Vejam-se os números. Na legislatura de 2004/2008, o Governo Regional, então presidido por Carlos César, apresentou 150 propostas de Decreto Legislativo Regional. Na legislatura anterior, o Governo Regional, já presidido por Vasco Cordeiro, apresentou apenas 77 propostas de Decreto Legislativo Regional(um decréscimo de quase 50% em relação à produção legislativa anterior). Até este momento, quando faltam realizar apenas mais três sessões plenárias do Parlamento dos Açores, o Governo Regional produziu apenas 5 raquíticaspropostas de Decreto Legislativo Regional.
O Governo Regional está em greve. Pinheiro de Azevedo fez escola e deixou discípulos nos governos socialistasdos Açores. O povo é sereno e isto é mesmo só fumaça.

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