Considerações sobre o Dia dos Açores e o Dia de Portugal

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No Dia dos Açores, este ano comemorado na Vila do Nordeste, o Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, aflorou, no seu discurso, uma resposta aos sinais de divisionismo que se sentem crescer nos Açores e abordou uma das questões de maior atualidade do nosso cenário político: a do modelo de desenvolvimento dos Açores. E fê-lo, devo reconhecer, com frontalidade e de forma adequada ao momento.

Assumindo que os Açores são uma “unidade de nove ilhas”, uma “liga agregadora de vontades e de ambições” e que isso se sobrepõe à “realidade demográfica e económica que nos diferencia e distingue”, Vasco Cordeiro sublinhou a importância do facto de que “a nossa realidade, a nossa força e o nosso potencial como Região, não se resume a uma soma, em que, ao mesmo tempo que obtemos o resultado, avaliamos a preponderância e a dimensão de cada uma das parcelas.”

Neste contexto, relevou a importância da coesão regional, considerada pelo Presidente do Governo como “condição da nossa afirmação como Região” e “resultado da nossa ação”. E acrescentou: “as medidas e as decisões tomadas, considerando as diferentes realidades das nossas ilhas, não podem, nem devem, em boa-fé, ser confundidas com privilégios atribuídos a uma ou a outra.” 

Reconhecendo também “que uma coesão alimentada por discursos não seria um bom serviço prestado à Região”, Vasco Cordeiro lembrou, com razão, a necessidade de, a este propósito, “salvaguardarmos a coerência dos nossos princípios, da nossa ação e das nossas posições: reclamamos da Europa e do País um tratamento positivamente diferenciado para uma região insular e arquipelágica como a nossa. Ao fazê-lo, obrigamo-nos, também por isso, a praticar essa solidariedade”.

2  É verdade que estas palavras de Vasco Cordeiro significam uma renovação das promessas e dos princípios do modelo da Autonomia dos Açores assente no desenvolvimento integral e harmonioso de todas as ilhas (a coesão regional), e nessa medida, são sempre de saudar. 

Mas é igualmente fundamental que estas palavras e princípios teóricos tenham consequências, dimensão prática e resultados. Tanto mais que, como o próprio Presidente reconheceu, não podemos manter uma coesão apenas alimentada em discursos. 

E é aqui que me parece estar o busílis do problema. O modelo socialista de desenvolvimento dos Açores, apesar das palavras em contrário, implementou e aprofundou as diferenças entre ilhas e conduziu-nos aos indicadores económicos e demográficos atuais, em que oito ilhas vivem na estagnação ou em recuo económico e demográfico. Aliás, o conceito das “ilhas da coesão”, criado e desenvolvido pelos governos socialistas, o que é senão a confissão pública dessa profunda cisão criada entre ilhas no desenvolvimento dos Açores? 

Por isso, mais do que com palavras, o divisionismo que se sente hoje a proliferar entre as várias ilhas dos Açores, combate-se com ações e extingue-se com resultados visíveis e concretos!

3 Assisti, em direto pela televisão, à transmissão das cerimónias do Dia de Portugal. Desde logo, vi, perplexo, a forma como a classe jornalística que temos, foi dando inusitado destaque e relevância informativa a uma manifestação de protesto que, sem esforço, logo se percebia por quem e com que fins tinha sido organizada. Mais: não era preciso estar no local para, também depressa, se verificar a relação diretamente proporcional entre o ruído de quem se manifestava e o incómodo e a indignação dos muitos outros cidadãos que, no local, assistiam às cerimónias. 

Mas a minha perplexidade depressa deu lugar a uma profunda e calada revolta quando, apesar do desmaio/indisposição do Presidente da República, os manifestantes não foram capazes de se calar, em respeito pela pessoa e pela situação.

Cláudia Cardoso abordou com notável propriedade e assertividade esta questão no seu recente artigo intitulado “O desmaio”. E com a autoridade de quem não simpatiza com Cavaco Silva “em quem nunca votaria e cujo desempenho não aprecio”, escreveu ela o seguinte:

“Perante um ser humano que se sente mal e desmaia os manifestantes não viram razões para cessarem os seus protestos. (…) Mas a atitude específica dos manifestantes e a generalizada dos portugueses que disso fizeram uma pândega é que me preocupa. Um homem desmaiou e a indiferença por este momento de fragilidade é o limite do abismo em que todos vamos cair. Há um cinismo arrepiante em tudo isso. Há um desapego de tudo o que é humano e que, só por isso, nos diz respeito. O que aqui se ergue é o culto da desumanização. O que se retém é uma abjeta indiferença pelo seu semelhante. Perante um homem que cai só sobra o escárnio e a indiferença. Mas, se Nogueira só lá estava para protestar contra o estado da nação, e se o homem que a representa não está momentaneamente em condições de o ouvir, porque continuar a protestar Mário? Perante um homem, qualquer que ele seja, que cai, o protesto devia, por elementares razões humanistas, ter cessado. Não aconteceu. E não acontecendo arrasa com a réstia de humanidade que podia iluminar o caminho. As trevas em que vivemos são já demasiado cerradas para que insistamos em escurecê-las. E este ódio que não verga à empatia com o outro insufla um mundo de multidões solitárias. Em que a indiferença humana é um fosso.”

16.06.2014

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