Editorial | 26 de maio de 2023

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Na próxima 2ªfeira celebramos o Dia dos Açores, como na nossa edição de hoje antecipamos.

A 2ªfeira do Espírito Santo, escolhida para simbolizar o nosso Dia, foi-o porque, como se escrevia no decreto aprovado, nela “se entrelaçam as mais nobres tradições cristãs com a celebração da Primavera, da vida, da solidariedade e da esperança – comemoração cuja vitalidade se alarga naturalmente a todos os núcleos de açorianos espalhados pelo mundo”, unindo na sua prática todos os açorianos de todas as ilhas e de todos os locais para onde se espalharam, com “cultos e práticas profundamente populares, totalmente enraizados no quotidiano”.
Esta Autonomia conquistada em 1976, que celebramos em 2ªfeira do Espírito Santo, permitiu-nos um salto no desenvolvimento sem precedentes na nossa História e assumiu uma dimensão inovadora: a de pensar os Açores como uma Região única, composta de nove ilhas, com idênticas aspirações e direito ao desenvolvimento integral e harmonioso. Tentava-se, assim, quebrar o secular bairrismo e divisão entre ilhas que a separação em distritos havia fomentado. Também por isso, a nossa Autonomia foi tão bem recebida pela maioria das pessoas e nela os Açorianos de todas as ilhas se implicaram e depositaram as suas esperanças mais sãs.
Quando nos aproximamos da data comemorativa dos 50 anos desta nossa Autonomia, em boa verdade, não podemos ter a pretensão de ter conseguido mudar, em tão curto período, mentalidades entranhadas de quase seiscentos anos. Mas o que é muito preocupante é que, ao invés de sentirmos evolução, mesmo que lenta, a perceção que se impõe é a de que já sentimos ter havido mais unidade e compreensão entre as ilhas, mais sentido de solidariedade e de complementaridade do que se apreende existir hoje. E isso não é, de todo, um bom sinal!

Esta Autonomia só terá futuro enquanto nela todas as ilhas se sentirem tratadas com justiça e equidade. Por isso, governar os Açores é olhar para todas as ilhas e definir estratégias de desenvolvimento para além de interesses eleitoralistas, de bairrismos e de visões tecnocráticas e economicistas. Governar os Açores é respeitar essa realidade única e inultrapassável de que a nossa riqueza reside também na nossa diversidade, que cada ilha é um mundo de igual dignidade e que a harmonia se faz de investimento repartido, complementar e solidário. Esquecer isto é contribuir ativamente para deitar tudo a perder!
No dia em que não formos capazes de conciliar a realidade “ilha” com a realidade “região”, o crescimento rápido de uns com o direito ao crescimento dos outros, as realidades demográficas e estatísticas com a dimensão humana e social do desenvolvimento, nesse dia, a nossa Autonomia perderá a sua alma, perderá as pessoas e deixará de ser um desígnio que une todos os Açorianos.

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