Envelhecemos todos, todos os dias

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 No dia de Reis fui partilhar um Bolo-Rei com os idosos residentes no Lar da Levada, da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. Vi-me um pouco em todos eles, nos que conversavam animadamente, nos que se entretinham com vários tipos de trabalho manual, nos que falavam descontraidamente sobre a sua vida no Lar, nos que lamentavam não estar na sua casa ou com a família, nos que apenas seguiam os outros com o olhar, nos que tinham o olhar parado…Vi-me um pouco em todos eles mas com a dificuldade dos que se iludem com a perenidade do seu presente. Como seremos se ainda formos…?

Naquele espaço amplo, luminoso, bem decorado, e diferenciado para acolher as diferentes relações pessoais, os diferentes gostos por actividades, quis chamar a atenção para o facto do Ano do 2012 ser o do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, assim proclamado pela Decisão n.º 940/2011/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de Setembro de 2011.

Estes “anos europeus de”, os “dias mundiais de” constituem essencialmente chamadas de atenção para os cidadãos em geral para causas socialmente meritórias que contribuem para o bem de toda a comunidade, ao mesmo tempo que se dirigem especificamente aos políticos com responsabilidades governativas para apresentarem e implementarem políticas que promovam aquelas causas. No caso do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações espera-se que a sociedade reconheça no idoso um cidadão que não só mantém inalterável a dignidade humana que lhe assiste incondicionalmente, mas que possui uma inestimável herança de vida a transmitir aos mais jovens, além de poder desempenhar frequentemente diferentes tarefas na comunidade no que constitui um precioso contributo que importa acarinhar. O respeito por estes três aspectos gerais contribuiria decisivamente para um processo de envelhecimento, fisico e psicológico, mais saudável e lento, bem como para um maior equilíbrio afectivo e reforço do sentimento de auto-estima. Dos políticos-governantes espera-se que reconheçam os impactos sociais reais de um tempo de vida cada vez mais longo e de uma pirâmide demográfica invertida, isto é, de um número de pessoas idosas a aumentar em relação ao da população activa, e os tomem como imperativo para criar políticas específicas para a população idosa de forma a proporcionar um envelhecimento activo e uma plena integração na sociedade assim promovendo também a solidariedade entre gerações.

Os meus votos para este Ano são de que, contrariamente ao que se verificou no findo Ano Europeu do Voluntariado, em que os doze meses se sucederam sem que nada tivesse mudado nos Açores a este nível, se apresentem agora e se implementem políticas específicas para a população idosa que efectivamente promovam a qualidade de vida dos idosos e garantam a sua plena inclusão no quotidiano da comunidade.

Nenhuma sociedade, e certamente não a açoriana, se pode dar ao luxo de ignorar, negligenciar e marginalizar uma parte tendencialmente maioritária da sociedade.

 

M. Patrão Neves

www.patraoneves.eu

 

 

 

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