Espólio baleeiro está a ser resgatado no Faial

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O património da Reis e Martins já começou a ser resgatado. O inventário do material está a ser elaborado pelo Observatório do Mar dos Açores e é classificado como de elevado interesse do ponto de vista da arqueologia industrial. Para além do espólio baleeiro, os próprios armazéns podem ter várias utilizações. O problema está em não terem protecção legal. O primeiro passo para evitar outras utilizações é a classificação. Só assim fica garantida a preservação e valorização do património baleeiro.

Como escreveu Bernard Venables, ““Na penumbra suave daquele lugar concentra-se o pulsar de todo o sal, de toda a energia, de todo o perigo selvagem das caçadas à baleia nos mares em redor.”

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Na Rua Nova, entre a baía de Porto Pim e a Baía da Horta situam-se as antigas oficinas de construção e manutenção das lanchas a motor e dos botes baleeiros, palamentas e o centro funcional da baleação do Faial.

Há 30 anos as portas das oficinas da Reis e Martins foram fechadas e tudo o que lá estava permaneceu quase intacto.

Ao entrar naquele espaço, apesar do elevado estado de degradação, deparamo-nos, logo à partida, com lanchas baleeiras e botes misturados com pedaços de madeira e telha do tecto que teima em desabar… A olho pequeno vemos caixas de cordas, ferramentas antigas, funis, anzóis, selhas, enfim… uma série de artefactos que nos fazem viajar no tempo e que importa resgatar e preservar, como uma marca da nossa história, da história do Faial e dos Açores na baleação local, regional e mesmo do Mundo.

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O imenso espólio deixado é um património cultural único da relação do homem faialense com o mar.

Em 1946, ano em que se viviam tempos de prosperidade no que à caça à baleia diz respeito constituiu-se a sociedade Reis e Martins, Lda, como a maior e mais influente armação baleeira do Faial.

A sua sede estava instalada na Rua Nova, e destinava-se à caça da baleia, indústria e comércio dos produtos seus derivados.

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Os sócios fundadores foram Francisco Marcelino dos Reis, Joaquim Martins Amaral Júnior, Tomas Alberto Azevedo. Mais tarde associou-se a este grupo a Costa & Martins, Lda.

A Reis & Martins, Lda exerceu as suas funções sempre em parceira com a Companhia Baleeira Faialense, Lda. Ambas constituíam as Armações Baleeiras do Faial. No entanto, é a única armação baleeira que ainda se encontra legalmente constituída nos Açores.

Pela sua localização privilegiada e estratégia entre a Baia de Porto Pim, ponto central da actividade baleeira no Faial e o Porto da Horta, onde decorriam todas as actividades comerciais, os armazéns foram alvo de investimentos por parte de Francisco Marcelino dos Reis, armador lisboeta, que os adquiriu em 1940.

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A partir dessa data tornaram-se o Centro Nevrálgico da Baleação no Faial e, durante mais de 40 anos, estes armazéns serviram de oficina de construção, reparação e manutenção de botes baleeiros e lanchas a motor. Também nas oficinas eram desenvolvidas vários ofícios essenciais para a actividade como carpintaria, marcenaria, tanoaria, ferraria e mecânica.

A partir de 1960 a actividade das empresas ligadas à exploração da baleia entra em declínio e em 1980, durante a Convenção de Berna, fica proibida a actividade de caça à baleia. Em 1981 encerra a fábrica de Porto Pim, todavia, só em 1987 é apanhado o último cachalote em mares açorianos.

Os armazéns da Rua Nova, conforme já referimos, bem como parte do seu espólio foram parcialmente mantidos, até á actualidade, embora seja notória a degradação tanto do imóvel, como dos objectos e dos equipamentos aí armazenados.

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Dada a importância deste espólio para o estudo da baleação no Faial e nos Açores, considerou a Reis & Martins lançar o repto ao OMA – Observatório do Mar dos Açores, para que se efectuasse um resgate, levantamento e estudo do património.

Sobre esta iniciativa Tribuna das Ilhas esteve à conversa com Tomás Duarte, Liquidatário da Empresa Reis & Martins, Lda; Pedro Porteiro, director do Observatório do Mar dos Açores e Márcia Dutra, antropóloga que tem estado a recolher, inventariar, catalogar, limpar e tratar de expor na Fábrica, todas as peças.  

Leia a reportagem na integra na edição de sexta-feira, 1 de Julho.

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