FALECEU FERNANDO GOMES TRIGUEIRO (1919-2012) Lavrador, emigrante, músico e político

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No dia 19 do passado mês de Dezembro (2012), faleceu no Lar da Santa Casa da Misericórdia das Lajes das Flores, depois de se encontrar acamado nos últimos anos, Fernando Gomes Trigueiro. Contava 93 anos de idade, tendo-se incorporado no seu funeral muitos amigos.

            Nasceu na Fazenda, freguesia e concelho de Lajes das Flores, em 11 de Junho de 1919, filho de João José Trigueiro e de Maria do Céu Gomes, ele agricultor e emigrante e ela doméstica. Teve como irmãos: Albino Gomes Trigueiro (filho de Maria de Jesus Gomes, viúva, com quem o pai foi casado), Maria Gomes Trigueiro Gonçalves, Helena Gomes Trigueiro e José Gomes Trigueiro.

            Fernando Trigueiro fez a instrução primária na escola da sua terra natal, onde teve vários professores: o Prof. Villa Lobos, o Prof. Manuel Silva e o Prof. Francisco Rodrigues Vieira Jr.. Seguidamente dedicou-se aos trabalhos rurais da lavoura dos pais onde permaneceu, mesmo depois dos seus falecimentos, mantendo a sua exploração em conjunto com o irmão José e os filhos deste até ao início de década de 1950. Separadas as lavouras, chegou a possuir mais de 30 cabeças de gado bovino, entre as quais, 10 vacas leiteiras. Cultivava ainda milho, batatas, inhames, feijão, favas e hortaliças, para o consumo da família, bem como “outonos” para os animais, isto é, trevo, erva da casta, tremoços, favas, cevadas e outras culturas para alimentação do gado.

            Assim, é como lavrador que fez parte dos corpos gerentes da Cooperativa de Lacticínios da Fazenda, cargo que exerceu gratuitamente durante vários anos a partir dos primeiros anos da década de 1930, estando em 1935 quando os seus estatutos foram modificados de conformidade com as novas exigências legais do Estado Novo. Como exerceu esses cargos durante vários anos, nela empregou muito de seu tempo, quer nas horas de trabalho, quer em horas que haviam de ser de repouso. E é durante essas direcções que, por recomendação das autoridades distritais e locais, com destaque para o Governador da Horta, Dr. António de Freitas Pimentel e do Presidente da Câmara Municipal de Lajes das Flores, José de Freitas Silva, que se funda, na década de 1950, a Federação das Cooperativas Agrícolas da Ilha das Flores, que integrava várias cooperativas existentes ao tempo, a qual, alguns anos depois, acabou por ser activada na produção de queijo, já no ano de 1973, sob o patrocínio do Governador da Horta, Dr. Sanches Branco, embora sem êxito absoluto.

            Entretanto, em Agosto de 1942 casara com Maria Amélia Álvares Trigueiro, de cujo casamento nasceram as filhas: Maria Fernanda, Maria de Fátima (casadas) e Odete (viúva), as primeiras duas hoje residentes em Stoughton, nos EUA.

            Apesar de ter uma vida rentável, embora muito trabalhosa, Fernando Trigueiro, já com a idade de 47 anos, a fim de poder proporcionar às filhas melhores condições de vida, emigrou em 1966 para os EUA onde se instalou com a família em Stoughton. Aí passou por diversos trabalhos em fábricas, nomeadamente de alumínios, onde esteve mais tempo e trabalhou até à sua aposentação, em 1984. Foi também empregado num comércio por grosso de calçado. Em qualquer dessas empresas gozava de especial simpatia. Já aposentado regressou às Flores com a mulher, onde o casal se estabeleceu definitivamente, tendo antes recuperado e ampliado a sua casa de habitação, propiciando-lhe boas condições de habitabilidade. Algum tempo depois, a filha Odete e o marido regressaram também às Flores, com a infelicidade deste ter falecido recentemente durante uma intervenção cardiovascular.

            Mas, Fernando Gomes Trigueiro distinguiu-se, sobretudo, devido às muitas actividades públicas que gratuitamente desempenhou, sobretudo na ilha das Flores, onde granjeou muitos amigos:

            Na música: no início da década de 1930 aprendeu música com vários Maestros; assim, fez parte do grupo coral masculino da igreja da freguesia da Fazenda, quando as missas eram cantadas em latim, onde inicialmente tocou flauta; algum tempo depois, graças à sua voz especial de barítono, passou para cantor e solista do respectivo grupo, enchendo com a sua voz potente os templos onde actuava; como solista, faziam parte do seu repertório as “Ave Marias” de Gounod, de Schubert e de outros compositores clássicos; cantava a solo outras composições, nomeadamente o hino a S. João Batista, que fora composto pelo Maestro António Francisco Avelar, com letra do Padre Francisco Cristiano Korth; em 1939 foi um dos músicos fundadores da Filarmónica da freguesia, a União Portuguesa da Califórnia, mais tarde denominada “União Portuguesa da Califórnia”, nela tocando cornetim com elevada qualidade musical; entre 1964 e 1966 (ano em que emigrou) foi regente daquela filarmónica; fez parte de grupos de teatro, designadamente da revista “Ditos e Mexericos”, da autoria de Manuel José Matoso, onde desempenhou vários papéis; cantou em muitos Ranchos de Ano Novo e Reis, com destaque para os que foram organizados pelo faialense Luís Duarte, mais conhecido por Luís “Galinho”; já idoso fez parte do grupo coral da Casa do Povo das Lajes das Flores, e, nos EUA, dirigira o grupo coral da igreja da Imaculada Conceição de Stoughton; no desporto: foi um dos jogadores fundadores, em 1949, do Grupo Desportivo Fazendense, do qual foi também dirigente; no social e político: na década de 1930 foi Presidente da Cooperativa de Lacticínios da Fazenda, em vários mandatos; durante as décadas de 1930, 1940 e 1950 foi várias vezes Juiz do Mato, bem como Presidente da Junta de Freguesia da Fazenda, tendo ainda desempenhado as funções de Regedor da Freguesia, cargos que, apesar de terem sido desempenhados com acerto, lhe causaram alguns dissabores e preocupações. Refira-se, a propósito, que todas estas actividades foram desempenhadas gratuitamente, sempre com prejuízo das suas horas de trabalho ou de repouso.

            Era adepto ferrenho do Sporting Club de Portugal desde a década de 1940, no tempo “dos cinco violinos”, Albano, Travassos, Peiroteo, Vasques e Jesus Correia. Assim, era no desporto e nas actualidades noticiosas que ocupava a maioria do seu tempo disponível dos últimos anos. Foi também admirador de Sá Carneiro e de Cavaco Silva, e era simpatizante do PSD e da política social-democrata. Nos EUA foi simpatizante do Presidente Reagan, do Presidente Clinton e de Presidente Obama.  

            Já octogenário, era um observador atento das actualidades, nomeadamente das políticas e do desporto, com quem dava gosto conversar, ainda que seja pelo telefone, enquanto a saúde o permitiu.            

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            Bilb: Trigueiro, José Arlindo Amas, “Fazenda das Flores -Um Século de Sucesso (1900-2000)”, pp. 311-313, ed. da Junta de Freguesia da Fazenda; Jornal “As Flores”, de 20-8-1942, e elementos fornecidos pelo próprio, telefonicamente, em 2-10-2007.


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