Horta e New Bedford ligadas pela tradição baleeira e pela união dos dois povos

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Carlos Ferreira

Carlos Ferreira – Presidente da Câmara Municipal da Horta

A Câmara Municipal da Horta vê na geminação com New Bedford um instrumento de preservação da história comum dos dois municípios, de valorização do acolhimento dado aos nossos emigrantes e do papel que estes assumiram em diferentes domínios na costa leste dos Estados Unidos da América (EUA), e ainda como um veículo a explorar no futuro ao nível da captação de investimento e de contributo para a economia do Faial.
No enquadramento histórico, é importante referir que à medida que a indústria baleeira cresceu, a necessidade de tripulantes para navios influenciou o carácter étnico de New Bedford. Com efeito, no século XVIII e princípios do século XIX, as tripulações eram feitas de homens de ascendência africana, britânica ou nativa, que se tinham estabelecido na cidade.

Começando por volta de 1800, um número cada vez maior de baleeiros dos Açores juntou-se às tripulações dos navios de New Bedford e começou a construir as suas casas naquela cidade.

Outros portugueses começaram a chegar depois de 1870 para trabalhar nas fábricas, juntando-se a imigrantes mais antigos e fazendo com que a comunidade portuguesa se tornasse a maior de New Bedford. O português tornou-se parte integrante da cultura, negócios, e da comunidade industrial e social de New Bedford.

Hoje, a comunidade lusa continua forte na região, com cerca de 60% da população de New Bedford possuindo ascendência portuguesa.

A ligação entre Horta e New Bedford começou a ganhar importância quando o Porto da Horta se tornou abrigo para os grandes barcos baleeiros provenientes daquela cidade americana.

Mas não foi só como escala baleeira que os Açores se destacaram. A numerosa presença de açorianos nas tripulações americanas, quer como marinheiros, quer como arpoadores ou até como capitães baleeiros, foi para sempre imortalizada no afamado clássico da literatura americana Moby Dick.

A 13 de abril de 1972, a Câmara Municipal de New Bedford estabeleceu a cidade da Horta como cidade-irmã de New Bedford, sendo que o texto da resolução, enviado pelo Mayor John Markey ao Presidente da Câmara Municipal da Horta em ofício de 19 de abril, salientava a educação e o desporto como áreas para um benéfico intercâmbio entre as duas cidades. Em sessão de 3 de maio de 1972, a Câmara Municipal da Horta proclamou a Horta cidade-irmã de New Bedford.

Estas cidades-irmãs têm em comum a baleação, há muito imortalizada no Museu da Baleia de New Bedford, o qual tem a única exposição permanente nos EUA que destaca a contribuição portuguesa para o património marítimo americano, nomeadamente para a história da baleação.

Em 2010, o Museu da Baleia de New Bedford recebeu a exposição intitulada “A Baleação no Faial: Fase Industrial (1940-1984)” que contava a história dos principais centros desta atividade na ilha do Faial, designadamente a Fábrica da Baleia de Porto Pim e os Armazéns da “Reis e Martins”, bem como das principais personalidades que marcaram a baleação no Faial ao longo do século XX, sem esquecer as novas indústrias do sector, como a observação de baleias e golfinhos.

Mais recentemente, em 9 de setembro de 2018, a conferência intitulada “Horta e as Rotas Atlânticas da Emigração Açoriana” assinalou, no referido Museu, os 60 anos do “Azorean Refugee Act”, lei aprovada pelo Congresso Americano em 1958 e que abriu as portas à maior vaga de emigração portuguesa e açoriana para os EUA.

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