“Lisboa, escuta: os Açores estão em luta!”

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Esta palavra de ordem ecoou em todas as nove ilhas dos três distritos autónomos do arquipélago dos Açores ao longo do ano pós-revolucionário de 1975.

Segundo os sete jornais diários das capitais distritais de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, de janeiro a dezembro terão ocorrido cerca de quatro dezenas de manifestações populares nas ruas açorianas – catorze em S. Miguel, cinco na Terceira, Faial e Pico, duas em Santa Maria, Graciosa e S. Jorge, uma nas Flores e Corvo – naturalmente com dimensões diferentes e politicamente com motivações distintas: umas contra a governação nacional ou a favor da administração regional, outras anticomunistas ou anti separatistas, outras ainda por razões laborais ou corporativas.

A manifestação popular mais representativa e consequente invadiu a cidade de Ponta Delgada no dia 6 de junho, com demissão imediata do governador civil Borges Coutinho, e terá contribuído para obrigar ou acelerar a resolução concreta de problemas pendentes entre Lisboa e os Açores. Mas, entretanto, 35 personalidades alegadamente implicadas na sua organização não autorizada foram detidas em S. Miguel e inquiridas na Terceira.

Antes, a 25 de abril, os três distritos elegeram cinco deputados do PPD (Mota Amaral, Américo Viveiros, José Manuel Bettencourt, Ruben Raposo e Germano Domingos) e um do PS (Jaime Gama) para defesa dos interesses açorianos na Assembleia Constituinte.

Depois, a 26 de agosto, entra em funções a Junta Administrativa e de Desenvolvimento Regional dos Açores, presidida pelo governador militar Altino de Magalhães e constituída por seis vogais dos distritos autónomos de Ponta Delgada (Jácome Correia e Henrique de Aguiar), de Angra do Heroísmo (Borges de Carvalho, depois substituído por Álvaro Monjardino, e Leonildo Vargas) e da Horta (Pacheco de Almeida e Martins Goulart).

Por um lado, reclamava-se a independência. Primeiro o MAPA (Movimento para a Autodeterminação do Povo Açoriano) e, depois e sobretudo, a FLA (Frente de Libertação dos Açores), em parceria com o “Comité Açoriano 75” junto da diáspora norte-americana, tanto anunciavam um governo na clandestinidade e um exército de libertação como lançavam um ultimato ao governo português. E, entretanto, ocorriam assaltos às sedes comunistas ou explodiam engenhos nas socialistas.

Por outro lado, preparava-se a autonomia. As organizações distritais do PPD, do PS e até do CDS, como antes o “Grupo dos Onze” e depois a própria Junta Regional, apresentavam os seus projetos de Estatuto para a Autonomia dos Açores, que culminariam nos contestados trabalhos da Oitava Comissão da Assembleia Constituinte.

De Lisboa chegavam os dirigentes partidários Pinto Balsemão, Magalhães Mota, Miller Guerra, Freitas do Amaral; em Lisboa ficavam o presidente Costa Gomes e o primeiro-ministro Vasco Gonçalves; por Lisboa rebentavam o 11 de março e o 25 de novembro.

Afinal, 1975 foi um ano interessante e importante na política açoriana, de transição dos três distritos para a região autónoma, que vale a pena recordar ou conhecer no segundo volume da trilogia “Anos Decisivos”.

LANÇAMENTO NO FAIAL

Chama-se exatamente 1975: INDEPENDÊNCIA? – O “verão quente” nos Açores e tem prefácio de Álvaro Monjardino este meu novo livro que a Letras Lavadas Edições apresenta, hoje mesmo, ao público faialense.

O seu lançamento ocorre neste dia 5 de junho, às 18 horas, na sala de exposições do Museu da Horta, evocando o simbolismo do local que até há 40 anos sedeou os serviços do Governo Civil e da Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta.

Esta sessão aberta ao público em geral é presidida pelo diretor do museu Luís Menezes e inclui uma breve tertúlia de memórias políticas com a participação de dois protagonistas locais de 1975 – Fernando Dutra de Sousa (então presidente da Câmara Municipal da Horta) e António Simas Santos (então presidente da Câmara Municipal das Lajes do Pico) – com moderação do diretor do jornal Incentivo, Rui Gonçalves.

Estão todos convidados!

 

 

 

 

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