Manuel Humberto Santos, presidente da Euterpe: “O mais importante é chegarmos ao fim do ano sem saldo negativo”

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A 12 de Maio de 1912 apresentava-se pela primeira vez ao público a filarmónica Euterpe de Castelo Branco, na procissão da solene visita do Senhor aos Enfermos, que percorria as ruas da freguesia albicastrense visitando os doentes. Amanhã, sábado, passam 100 anos desde esse dia, que foi oficialmente reconhecido como a data da fundação da filarmónica de Castelo Branco. Para assinalar a data, está previsto um vasto programa comemorativo, que arrancou ontem, com o lançamento do livro Nos 100 anos da Filarmónica Euterpe, de Fernando Faria, e que se prolonga até domingo.

Tribuna das Ilhas aproveitou a efeméride para conversar com o actual presidente da Euterpe, Manuel Humberto Santos, que fez um diagnóstico à saúde da banda. Com 52 elementos na sua maioria jovens, o futuro da Euterpe é animador. Em época de crise, no entanto, com os apoios e as tocatas a diminuírem, é preciso, principalmente, preservar a saúde financeira da banda para garantir a sua continuidade. Em festa de aniversário, a Euterpe sonha com mais espaço para ensaiar, e aguarda por isso o Centro Cultural e Recreativo da freguesia.

Na mitologia grega, Euterpe era uma das nove musas filhas de Zeus, rei dos deuses, e de Mnemósine, deusa da memória. A cada uma das musas está associada uma arte. Euterpe, cujo nome significa “a doadora dos prazeres”, é sempre representada com uma flauta, e a ela está atribuída a arte da música. Por isso, foi a inspiração para o nome da filarmónica que, há cem anos, uniu na freguesia de Castelo Branco uma série de pessoas com um interesse comum pela música. Nasceu, assim, a Euterpe de Castelo Branco, que, um século depois, continua a dinamizar na freguesia a actividade musical, quer através da banda filarmónica, quer através do grupo folclórico que surgiu no seu seio, em 1977.

Manuel Humberto Santos é um dos “veteranos” da Euterpe. Presidente da banda há cinco anos, ingressou na mesma como tocador em 1980.

Sobre a saúde da Euterpe, o presidente é optimista na hora de fazer o diagnóstico. Actualmente com 52 elementos, mais de metade dos quais com menos de 30 anos, a banda celebra 100 anos em clima de juventude e vitalidade, principal garantia para a sua continuidade. “É muito bom sentirmos que não há falta de gente e que a renovação da banda vai está assegurada”, reconhece Manuel Humberto, que aponta como principal responsável por esta realidade a escola de música que funciona paralelamente à Euterpe: “quando o actual maestro, Sr. Amorim, foi para a Euterpe, há nove anos, retomou a escola de música. Desde então tem estado sempre a funcionar e todos os anos saem elementos novos para a banda”, refere o presidente, salientando mesmo que “uma escola de música é fundamental numa filarmónica”.

À Euterpe está associado desde 1977 o Grupo Folclórico de Castelo Branco. Inicialmente, como recorda Manuel Humberto, o grupo era composto maioritariamente por elementos da banda. Hoje em dia, no entanto, a maior parte da sua composição não integra a filarmónica. Se a banda não tem falta de músicos, o mesmo não se pode dizer do grupo folclórico. A falta de tocadores de instrumentos de corda é a principal dificuldade do grupo, que gostaria também de dispor de mais alguns “bailhadores”. 

Contrariamente ao que acontece com a filarmónica, no grupo folclórico não há escola de música que funcione como viveiro de novos tocadores. Manuel Humberto explica que, há alguns anos, foi feita uma tentativa nesse sentido, no entanto o número de interessados em aprender era escasso, e a maior parte deles não pretendia depois ingressar no grupo folclórico. Apesar das dificuldades, o grupo vai conseguindo manter-se em actividade.

Preparar uma filarmónica para actuar não é tarefa fácil. Requer muito empenho e entrega dos músicos e até algum espírito de sacrifício. Durante o Inverno são necessários dois ensaios semanais para garantir que a Euterpe faz uma preparação adequada para a época alta, que acontece durante o Verão. Manuel Humberto reconhece que “não é fácil ter toda a gente nos ensaios”.

Tempos de crise sugerem prudência 

É certo e sabido que hoje se vivem “tempos de vacas magras”. Os apoios para as actividades culturais são cada vez menos e cada vez mais burocratizados. A par disto, as actuações da filarmónica vão diminuindo, por força da contenção que também começa a ser necessária nas festas religiosas por toda a ilha. As comissões organizadoras privilegiam as despesas obrigatórias, que são cada vez maiores, como as licenças e os encargos inerentes, por exemplo, à realização das procissões. Neste cenário, as tocadas das filarmónicas acabam por sofrer por tabela.

Com uma série de despesas a que é necessário fazer face, principalmente relacionadas com o fardamento e o instrumental – bastante dispendiosos -, a Euterpe procura outras fontes de rendimento, e organiza várias actividades para angariação de fundos. “No mês de Setembro, por exemplo, fizemos o Festival Euterpe precisamente para angariar mais algum dinheiro já a pensar nas comemorações do centenário”, exemplifica Manuel Humberto.

Para o presidente, e tendo em conta os tempos que se vivem, a principal preocupação deve ser sempre a saúde financeira da banda: “o dinheiro tem de ser muito bem gerido para chegarmos ao fim do ano sem saldo negativo, o que é o mais importante”, refere.

Por isso, neste momento a Euterpe não pensa actividades muito dispendiosas, como deslocações ao exterior. No início de Agosto, recebe no Faial uma banda vinda de Leiria, com quem iniciou um intercâmbio em 2006, com a deslocação dos albicastrenses ao continente, que agora será concluído com a retribuição da visita.  

Leia a reportagem completa na edição impressa do Tribuna das Ilhas de 11.05.2012, ou subscreva a assinatura digital do seu semanário

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