Não será a altura de rever tudo isto?

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1 Faz parte das minhas leituras habituais a “Opinião” semanal que Luís Pereira de Almeida publica no “Correio Económico”, o Suplemento de Economia do jornal “Correio dos Açores”. Aprecio muito a sensatez, o equilíbrio e a visão moderada que habitualmente enformam as suas reflexões. 

Na sua última crónica, sob o título “Rali”, aquele articulista coloca o dedo na ferida de um problema que, uns mais outros menos, continuamos a fazer de conta que não existe. Escreve ele: “A região vive um momento dramático em termos sociais e económicos, o dinheiro desparece como água vazada em areia. O desemprego bate recordes em contraciclo com o todo nacional e dificilmente vemos o ponto de inversão desta tendência. As falências sucedem-se sem que haja uma renovação empresarial que garanta o nosso crescimento. A estratégia para sairmos desta espiral recessiva é cada vez menos percetível. Os problemas nas empresas públicas sucedem-se sem que haja explicações oficiais sobre o problema. Por tudo isto, o valor do dinheiro nunca foi tão alto. Maior valor exige maior seletividade.

Neste enquadramento [e a propósito do Sata Rallye Açores] há perguntas que devem ser feitas. A principal questão é perceber se o investimento feito neste evento tem um retorno positivo para a região. Se esse retorno é positivo temos que saber se não há outros investimentos de promoção com um retorno mais elevado para o mesmo nível de investimento. Este estudo pode e deve ser alargado a outras iniciativas que de forma direta ou indireta consomem recursos públicos. Lembro-me, sobretudo, dos “infinitos” financiamentos ao futebol e a outros desportos que dependem do dinheiro que é de todos. (…)”

2  Partilho totalmente as preocupações aqui levantadas. Apesar da mudança radical que se operou nas nossas vidas, fruto da falência que quase nos bateu à porta, a verdade é que persistem muitas, diria, demasiadas situações em que parece que para elas os tempos continuam sendo os da abundância irresponsável e do dinheiro a rodos. Os recursos públicos sempre deviam ter sido usados não só com parcimónia, mas sobretudo com a preocupação de serem canalizados para aquilo que é verdadeiramente estruturante e impulsionador do desenvolvimento sustentado.

Por isso, se muitos destes apoios  já deveriam ter sido objeto de avaliação e ponderação, agora, neste período  de crise em que vivemos e em que os recursos públicos são cada vez menores, é uma exigência de justiça e de moral que eles sejam revistos caso a caso. 

Já aqui defendi a emergência de se avaliar os resultados da política de subsidiação e financiamento que tem existido no desporto dos Açores. E agora ainda mais se impõe e se exige que se faça essa avaliação, de forma justa, equidistante e desapaixonada. E não se trata só de avaliar o financiamento de provas como, por exemplo, o SATA Rallye Açores. Temos de ter a coragem de ir mais longe e mais fundo. E avaliar, por exemplo, que impacto teve a política de subsidiação no desenvolvimento desportivo dos nossos jovens? Que percentagem de atletas açorianos, formados nos Açores e nas equipas açorianas, é titular e joga habitualmente na equipa principal? A realidade desportiva dos Açores é a das equipas que participam nos nacionais ou é outra diversa? Justifica-se este altíssimo nível de subsidiação para manter um equívoco profissionalismo desportivo, que possui pés de barro e que é absolutamente insustentável sem os apoios oficiais? E que profissionalismo queremos ou podemos ter nos Açores? Não seria mais eficaz canalizar os apoios oficiais maioritariamente para a formação das nossas crianças e jovens? 

3  Dir-me-ão alguns: esta movimentação de equipas estimula a economia local. É verdade que sim. Mas estamos sempre no mesmo círculo vicioso: o dos dinheiros públicos a alimentar de forma artificial a economia em projetos que, embora desportivos, são profissionais, envolvem orçamentos significativos e que só se sustem com os apoios públicos e que sem eles não teriam sequer nascido!

Prezo muito o desporto e a prática desportiva. Tenho grande consideração pelos inúmeros dirigentes que retiram tempo ao seu descanso e às suas famílias para se dedicarem aos seus clubes e aos seus atletas. Entendo que todo o dinheiro que é aplicado no desenvolvimento desportivo e na formação desportiva das crianças e jovens é um investimento do qual retiraremos o devido retorno na saúde e na sã formação que é dada aos atletas. 

Mas o profissionalismo desportivo é outra coisa. E é esse que exige ser repensado e avaliado. Não será altura de rever tudo isto?

 

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