Natal em tempo de crise

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Natal é tempo de paz, amor, solidariedade… e compras. Cada vez mais, a sociedade elege esta época como a altura do ano para dar largas ao impulso consumista. Materializar os sentimentos e os desejos para com os nossos entes queridos num presente adequado surge como uma forma natural de mostrar a nossa afeição e a nossa lembrança. Agradecem os comerciantes, que desta forma aproveitam esta época fazer negócio, e dessa forma compensar os meses menos positivos ao longo do ano. Com a nuvem negra da crise cada vez mais densa a pairar sobre o país, no entanto, o Natal torna-se ainda mais importante para o Comércio Tradicional, que regra geral, vive dias de dificuldade. Assim, e apesar de não se prever que as caixas registadoras vejam a acção de outros Natais, os comerciantes não deixam de apostar em força nesta época para dinamizar o mais possível o negócio.

Tribuna das Ilhas conversou com alguns empresários locais, e com os presidentes da Câmara do Comércio e Indústria e da Câmara Municipal da Horta, para saber quais as dificuldades que o sector atravessa na ilha, e o que pode ser feito para combatê-las.

 

A completar 75 anos de vida este ano, a firma Teófilo SA é uma referência do comércio local. De acordo com o seu responsável, Carlos Goulart, a crise economia faz-se sentir desde 2008, altura em que foi necessário começar a tomar medidas para fazer face à situação: “até agora temos conseguido enfrentar a crise com medidas internas, procurando diminuir os custos fixos, dispensando algum pessoal, entre outras coisas”. No entanto, reconhece que em 2011 avizinham-se tempos ainda mais complicados, tendo em conta a diminuição do poder de compra das famílias.

Para este empresário com larga experiência, é muito importante tomar medidas antecipadas de combate à crise. O que não pode acontecer é o empresariado baixar os braços, sob pena de ver cair o negócio. Nesse sentido, apesar da conjuntura adversa, o Teófilo procura continuar a inovar.

Do outro lado do espectro empresarial faialense está Ruben Goulart, um jovem da ilha que abriu recentemente uma loja na baixa da cidade. Para Ruben, apesar da crise estar instalada, havia lugar no mercado para a Explorer, e por isso decidiu avançar com o projecto. Ciente de que não seria fácil, viu na falta de um estabelecimento direccionado para os desportos ao ar livre uma oportunidade que agarrou com as duas mãos. Até agora, não se arrepende.

“Devemos procurar áreas de negócio inovadores e necessárias na ilha”, entende.

Nem só de crise vivem as dificuldades do Comércio Tradicional Faialense

Quem o defende é Paulo Oliveira, empresário e vereador da oposição na Câmara Municipal da Horta. Oliveira reconhece que o Faial não foge à regra da crise económica global, no entanto não duvida de que existem outros factores que agudizam localmente esse fenómeno. Um deles prende-se com a “falta de regulação” no que diz respeito à implementação de novos espaços comerciais, o que faz com que a Horta, à semelhança do que acontece um pouco por todo o país, seja “invadida” pelo comércio oriental.

Para Paulo Oliveira, é importante que a Horta disponha de uma iluminação de Natal “com outra dignidade”. Além disso, a sua experiência ao nível do comércio local diz-lhe que a Campanha do Comércio Tradicional para a época natalícia deve arrancar mais cedo, se possível no início de Novembro. “Não se pode deixar tudo para o Dia das Montras”, entende, frisando que é na quadra natalícia que a maior parte dos comerciantes pode compensar uma série de meses negativos ao longo do ano, cada vez mais comuns, tendo em conta a actual conjuntura económica.

O empresário considera ainda que é urgente intervir na zona baixa da cidade, de forma a torná-la mais apelativa para a população.

As dificuldades de estacionamento na cidade também não ajudam ao desenvolvimento do Comércio Tradicional. Para Paulo Oliveira, seria importante a criação de lugares de estacionamento com parquímetros, e ainda a existência de alguns parques em cada rua para estacionamentos de curta duração.

Campanha do Comércio Tradicional vai sortear um carro este ano

Ângelo Duarte, presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, reconhece “muitas preocupações” em relação ao futuro do comércio tradicional nesta altura de crise. Por isso mesmo, vê com redobradas expectativas esta época natalícia, que surge nesta altura como uma compensação muito importante para as vendas fracas ao longo do ano.

“A campanha de Natal junto do Comércio Tradicional tem por objectivo apoiá-lo e promovê-lo nesta altura”, frisa. Nesse sentido, a CCIH procurou ter mais atractivos que o habitual na Campanha do Comércio Tradicional 2010, dos quais se destaca o sorteio de um carro entre as senhas das ilhas de abrangência da instituição. A este juntam-se os sorteios habituais, e ainda a tradicional componente de animação infantil e musical nas ruas, entre outras coisas, que o patrão dos empresários espera que sejam um bom incentivo para o público acorrer à zona baixa da cidade da Horta.

Estas iniciativas deverão arrancar já amanhã, esperando-se que o ponto alto seja no feriado de quarta-feira, dia 8, em que se assinala, como habitualmente, o Dia das Montras.

Instado a pronunciar-se sobre o facto de muitas lojas do Comércio Tradicional continuarem a não apostar em horários prolongados e a fecharem a porta na hora de almoço, Ângelo Duarte reconhece que há ainda alguma mudança de mentalidades a fazer, até porque “é ao fim do dia e à hora de almoço, quando a maior parte das pessoas sai dos empregos, que se ganha o dia de trabalho no comércio tradicional”, frisa. No entanto, lembra que, por vezes, adoptar essas medidas significa um esforço acrescido que os empresários não têm condições de suportar, relacionado essencialmente com a necessidade de contratar mais vendedores, por exemplo.

Olhando para a evolução do Comércio Tradicional ao longo do ano que passou, Ângelo Duarte vê sinais positivos, com a abertura de alguns novos estabelecimentos. Para o responsável, são empresários jovens, que souberam transformar a ameaça da crise numa oportunidade, e decidiram criar negócios com a aposta na inovação e na criatividade. O presidente da CCIH entende ser precisamente esse o caminho: “os empresários estão a conseguir superar as dificuldades. Para fazê-lo, é cada vez mais importante saber marcar a diferença face aos concorrentes”, explica.

“Temos de estar preparados para quando passar o mau momento”

Para o presidente da Câmara Municipal da Horta, há que adoptar uma postura realista e reconhecer que a crise chegou, e veio para ficar durante algum tempo. No entanto, João Castro entende que é preciso “agarrar nesta dificuldade e transformá-la numa oportunidade”. Nesse sentido, defende que a autarquia deve preparar em conjunto com os empresários um “raciocínio de prioridades”, de forma a que todos estejam preparados para o final da crise: “estamos num mau momento mas não é o fim do mundo, e temos de nos preparar porque a vida funciona por ciclos, e a seguir a um mau momento vêem bons momentos. O pior que nos pode acontecer é não aproveitarmos os maus momentos para nos preparamos para os bons”, frisa.

João Castro reconhece que o tecido empresarial da cidade da Horta precisa que esta se reestruture e reorganize, com mais estacionamento, mais condições para a circulação de pessoas, entre outras coisas. No entanto, a actual situação de crise que afecta o empresariado local está também a atrasar a obra do saneamento básico, o que por sua vez atrasa essa reestruturação da cidade. O edil reconhece que falta à autarquia “operacionalizar” estas questões, que têm vindo a ser pensadas nos últimos anos, e admite que a velocidade a que se poderá dar essa operacionalização é inferior à esperada. Além disso, lembra que a concretização do Plano de Urbanização só agora está a arrancar, no entanto não duvida das mais-valias que este traz a futuros investidores na cidade da Horta: “o plano de urbanização traz segurança aos investidores, porque estes percebem que dentro de alguns anos a cidade estará de determinada forma e podem programar os seus investimentos”, explica.

Em relação à Campanha de apoio ao Comércio Tradicional, na qual a autarquia e a CCIH trabalham em conjunto, Tribuna das Ilhas quis saber se a mesma não estará a ser lançada demasiado tarde, tendo em conta que grande parte da população já iniciou as suas compras de Natal. Para João Castro, o início de Dezembro é o “timing certo”, até porque os tempos de crise recomendam sensatez e ponderação na altura de comprar, e por isso “não faz sentido uma campanha exaustiva de Natal”.

 

Leia a reportagem completa na edição impressa do Tribuna das Ilhas de 03.12.2010

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