Paisagens da paisagem

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A visão de que a paisagem tem uma componente natural e uma componente cultural está presente no trabalho dos arquitetos paisagistas desde o início do estabelecimento da profissão. É comum referir que a arquitetura paisagista moderna tem as suas raízes como corpo de conhecimento independente e socialmente interventivo nos trabalhos pioneiros do americano Frederick Law Olmsted, no século XIX. Este arquiteto paisagista projetou grandes espaços verdes nas cidades, como o Central Park de Nova Iorque, mas também efetuou trabalhos relacionados com a conservação da natureza, tendo estado na origem do parque estatal das Cataratas do Niágara, um espaço que alia a conservação da natureza com o lazer e turismo.
Para Olmsted a saúde da paisagem e dos homens estava intimamente relacionada, sendo o contacto humano quotidiano com a natureza e com a paisagem essencial tanto por razões de saúde física e mental como por razões sociais. Também como consequência do seu contributo a importância da qualidade da paisagem e o recreio ao ar livre passam a ser notas dominantes nas preocupações sociais americanas. Os planos e projetos de arquitetura paisagista começam a abranger vastas áreas de território, pelo que a necessidade de compreensão das paisagens onde se iria intervir se torna um imperativo. Neste sentido foram desenvolvidas metodologias sistematizadas de abordagem à paisagem.
Estas primeiras abordagens eram apoiadas na experiencia do lugar complementada por uma sistematização da informação existente. Da análise resultava o delineamento de áreas de características homogéneas de paisagem baseadas nos seus diversos atributos e que eram úteis ao estabelecimento dos seus possíveis usos. O conhecimento científico foi progressivamente introduzido nesta análise, que passou a integrar dados relativos à geologia e geomorfologia, clima, fisiografia, vegetação, fauna, ecossistemas e sistemas culturais.
No outro lado do oceano Atlântico, o escocês Patrick Geddes idealizou o conceito de regiões naturais. Para Geddes estas regiões deveriam ser estudadas e analisadas através de uma metodologia própria antes de qualquer intervenção na paisagem. A sua metodologia baseava-se na elaboração de um relatório que integrava uma descrição dos recursos existentes na região, as respostas humanas à existência desses recursos e o resultado complexo que é a presença de uma paisagem cultural. Geddes defendia que todo o planeamento regional se deve encontrar firmemente enraizado nas características físicas e humanas do território. Foi também um dos primeiros defensores da importância de se consultar a população em processos de decisão territorial e ajudou a espalhar estas ideias pelo mundo.
Mais recentemente, em Portugal, no Instituto Superior de Agronomia, a investigação em arquitetura paisagista prosseguiu no desenvolvimento de metodologias de estudo da paisagem que também consideram as suas componentes natural e cultural. Com esta abordagem destacam-se e protegem-se as áreas de maior valor ecológico e os elementos culturais de relevante valor patrimonial. Assim, desde o início do estabelecimento da arquitetura paisagista como profissão até à atualidade, a preocupação com a relação entre a paisagem natural e cultural esteve sempre presente, sofisticando-se as metodologias usadas no sentido de abarcar a mais completa informação do território em estudo. Apenas desta forma se pode garantir que as decisões sobre o mesmo sejam apoiadas em conhecimentos sólidos, que conduzam a uma efetiva preservação dos elementos de maior valor e ao seu uso sustentável.

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