Poet(i)sas faialenses

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Exceptuando Leonor de Almeida Portugal, a marquesa de Alorna (1750-1834), Florbela Espanca (1894-1930), Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Natália Correia (1923-1993), não existe uma forte tradição de mulheres poetas em Portugal. Por questões culturais e sociais a poesia foi, ao longo dos tempos, domínio dos homens, sendo que as excepções acima referidas apenas vêm confirmar a regra. De facto, ontem como hoje, não temos mulheres a escrever verdadeira poesia nem em quantidade nem em qualidade. Mas as poucas que o fazem sobressaem. Nesta matéria, e num trabalho mais vasto que tenho entre mãos, avanço aqui com breves olhares sobre algumas poetisas nadas na ilha do Faial.
Francisca Cordélia de Sousa (1781-1845)
Alma sonhadora, cultivou a poesia (que trabalhou à maneira romântica da época), o teatro, a ficção em prosa, a crítica literária e artística e a crónica de costumes, deixando numerosos artigos sobre as mais diversas matérias, dispersos nas páginas de jornais açorianos e de alguns jornais do Continente e Brasil. Reuniu todos os seus poemas no livro Horas crepusculares (s/ data de edição).
Maria Cristina de Arriaga (1835-1915)
Revelou desde cedo uma particular sensibilidade para a poesia, tal como seu tio Miguel Street de Arriaga e seu irmão, Manuel de Arriaga. Dedicou-se a obras de assistência social. Com vasta colaboração em jornais e almanaques, é autora de um único livro de poemas: Flores d´Alma (1901). Na singeleza dos seus versos, perpassa uma lírica eivada dos mais nobres e elevados sentimentos morais.
Hermenegilda Teles de Lacerda (1841-1895)
Colaborou largamente na imprensa açoriana e brasileira, cultivando a poesia, a crítica literária, a novela e o teatro. Publicou a colectânea Entre dois Deveres (s/d de edição), escritos dentro dos moldes clássico-românticos, então em voga. Muitos poemas da sua lavra estão publicados no Arquivo dos Açores (vol. IX). Poesia da delicadeza e da emotividade.
Silvina Furtado de Sousa, Iracema (1877-1973)
Mulher de requintadíssima sensibilidade artística, usou o pseudónimo Iracema, dedicando-se à poesia, à pintura e à música (foi pianista, notável intérprete de Chopin). Cultivou, de preferência, o soneto, vertendo-o em moldes românticos, e toda a sua poética é um culto à natureza e à paixão pelo mar. Reuniu todos os seus poemas num único livro: Saudade (1960).
Ana Adelina Bettencourt da Costa Nunes (1892-1977)
Professora do ensino primário, com grande empenhamento cívico, poetou o amor e as coisas simples da vida nos livros Singelos (1925), Ao longo da jornada (1975) e O meu livro de cantigas (1976). Poesia lírica que deixa transparecer a bondade de uma alma sonhadora.
Luiza de Mesquita (1926-2002)
Licenciada em Filologia Românica, fixou-se no Rio de Janeiro, onde durante largos anos exerceu atividade diplomática. O tema dominante da sua poesia é o mar, versejando também sobre o amor e a saudade. É autora dos seguintes livros de poesia: Ondas de Maré Cheia (1973), Mar Incerto (1975), Areias Movediças (1976), Tempo de Mar, Tempo de Amar (1978), Cantigas de Mar e Bem-Querer (1985), Mar de Sempre Açores (1987), Bateau de Papier (1984) e Ciclone (1994).
Otília Frayão (1927)
Com 23 anos de idade, fugindo a um ambiente familiar sufocante e insatisfeita com a vida cinzenta e opressiva da ilha, Otília dirigiu-se ao porto da Horta e meteu-se, ocultamente, dentro do veleiro “Temptress”, propriedade de Edwadr Allcard, engenheiro naval inglês e navegador solitário, com quem zarpou, no dia 7 de Janeiro de 1951, para nunca mais voltar à ilha do Faial. Os seus poemas, de feição simbolista, exprimem precisamente sonho de viagem, desejo de aventura, aspiração de fuga. Poetou também em inglês e castelhano.
Ângela Almeida (1959)
Nome repartido pela poesia, ficção narrativa, ensaio literário, investigação científica e teatro, é doutorada em Literatura Portuguesa. Com grande envolvimento na área cultural, é autora da primeira tese de doutoramento sobre Natália Correia, tendo escrito os seguintes livros de poesia: Pela vertente do sonho (1985), Sobre o rosto (1989, 1994), O baile das luas (1993), Uma valsa para Antília (1994), Manifesto (2005) e A oriente (2006). De elevadíssima qualidade, eis uma escrita de grande fundura poética que dá conta do destino da vida humana no teatro do mundo.
Marta Dutra (1974)
É autora dos livros de poesia Vago – o Olhar (2008) e de Viagem (2012), estando antologiada em As mãos no fogo (2017). Vivendo fora dos Açores, a ilha (a real e a mítica) viaja na poesia desta faialense que continua a questionar o enigma, o mistério e as contradições da condição humana.
Conheço, nos dias de hoje, algumas jovens faialenses que se encontram em fase de amadurecimento intelectual e processo de maturidade poética. Na devida altura dar-lhes-ei a minha melhor atenção.
Até lá… viva a Poesia!

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