Quebrar o ciclo da pobreza

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Existe pobreza nos Açores? Claro que existe. Muita pobreza à vista de todos, mas mais ainda escondida. Escondida por açorianas e açorianos que não querem que lhes tirem a última réstia de dignidade humana, mas que todos os dias choram em silêncio perante as dificuldades que sentem para pôr comida na mesa e alimentar os seus filhos.

Esta constatação vem a propósito da Estratégia de Combate à Pobreza e Exclusão Social 2018-2028, apresentada recentemente pelo Governo, como se de um troféu da governação se tratasse.
É positivo o Governo reconhecer o cenário dramático da pobreza nos Açores, com destaque, pela negativa, para a ilha de São Miguel, que de acordo com os dados mais recentes, concentra mais de 70% da pobreza nos Açores.
Mas é obrigatório realçar que o Partido Socialista governa há mais de duas décadas esta região.
E importa também relembrar que, já em 2010, o governo tinha apresentado uma iniciativa de combate à pobreza. Aliás, já em 1996 o então “novo governo” socialista tinha feito um diagnóstico da pobreza no arquipélago e indicado a resolução do problema como uma prioridade.
Decorridos 21 anos, qual é então a realidade dos Açores nesta matéria?
O diagnóstico que serve de base à nova iniciativa, apresentada com pompa e circunstância, traça um quadro devastador da realidade social na região.
Os números que refletem a realidade social dos Açores são devastadores e demonstram que as políticas públicas têm sido erradas. Os Açores têm a mais baixa esperança média de vida do país; elevadas taxas de gravidez na adolescência, de consumo de estupefacientes (com especial referência à população jovem) e de insucesso e abandono escolar precoce; a maior taxa de desemprego jovem e de dependentes do Rendimento Social de Inserção; e o mais baixo poder de compra a nível nacional.
“A pobreza herda-se”. Esta foi uma das frases mais marcantes que se ouviu esta semana no parlamento, no debate sobre pobreza e exclusão social.
E é verdade: tal como a riqueza, também a pobreza se herda!!! E é uma herança pesada.
Por isso mesmo, compete a toda a sociedade, mas em especial a quem governa, criar as condições necessárias para quebrar o ciclo da pobreza. Esta é que tem que constituir a exigência, “quebrar o ciclo da pobreza”, porque o poder não se pode alimentar da pobreza da população.
Alguns de nós tiveram a sorte de sair desse ciclo.
Tiveram uma mãe preocupada em transmitir amor e dar carinho aos filhos, e um pai preocupado em transmitir princípios, valorizar o trabalho e exigir resultados. E tiveram a sorte de, nos momentos decisivos, não se perderem pelo caminho…
Alguns saíram do ciclo, mas infelizmente muitos não tiveram essa oportunidade. E muitos são os que mereciam na altura e continuam a merecer essa sorte na vida. Projetam agora nos filhos esta mesma esperança, a esperança de um futuro melhor.
A manutenção no poder não pode fazer-se à custa da perpetuação do ciclo da pobreza nos Açores. A exigência é a de quebrar o ciclo, dar condições às pessoas para se tornarem autónomas, deixarem de depender dos apoios sociais e conquistarem um outro nível de dignidade humana que não lhes é permitido quando são obrigadas a sobreviver de subsídios.
Perguntamos, então, como é que os poderes públicos podem combater a pobreza? Com uma verdadeira aposta na educação, com investimentos que promovam a coesão e o desenvolvimento de todas as ilhas dos Açores, e também com medidas de apoio à atividade económica, de modo a garantir a criação de emprego, dando por esta via sustentabilidade financeira própria, maior valorização e autonomia, aos açorianos em geral e aos faialenses em particular. 

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