O Tribuna das Ilhas entrevistou Rogério Veiros, Presidente do Conselho de Administração da Fábrica Santa Catarina, sedeada no concelho da Calheta, na Ilha de São Jorge
Tribuna das Ilhas – Há quanto tempo tomou posse como presidente da direção da Fábrica Santa Catarina?
Rogério Veiros – Tomei posse como Presidente do Conselho de Administração em junho de 2015, para um mandato de três anos.
TI – O que o levou a assumir este cargo?
RV – A importância económica e social que esta empresa possui na ilha e a sua capacidade exportadora e de afirmação da imagem dos Açores no exterior, são factores que merecem a nossa dedicação. Tinha consciência que não seria um percurso fácil, pois já conhecia o sector e tinha a noção das dificuldades da empresa que em 2009 foi salva pela intervenção da Região Autónoma dos Açores, mas é um grande desafio que precisa de ser vencido.
TI – Quais são as principais linhas orientadoras para o seu mandato?
RV – A principal linha orientadora para este mandato é dar a rentabilidade à empresa.
TI – Qual é a principal atividade da Fábrica?
RV – A fábrica dedica-se exclusivamente à fabricação de conservas.
TI – Que tipo de produtos produz a Fábrica Santa Catarina?
RV – Fabricamos conservas de atum em diferentes molhos: azeite, óleo e água e em diferentes formatos, desde o tradicional 120 g até aos 3 kilos. Também somos os criadores das conservas com sabores que são um sucesso nacional e já internacional. Recentemente, iniciámos a venda dos nossos produtos na cadeia de retalho inglesa Sainsbury’s, que é considerada a terceira maior cadeia de retalho em Inglaterra. Em breve sairá para o mercado a nova linha Bio & Light como uma novidade mundial e a nova marca Mestre Saul que será o produto de excelência da Santa Catarina
TI – Qual é a produção anual da fábrica?
RV – No ano passado, isto é, em 2016 laboramos 1.600 Toneladas e este ano iremos subir pouco, pois o pescado não facilitou a produtividade. No entanto, pretendemos atingir as 2 mil toneladas já no próximo ano de 2018.
TI – Quais são as principais dificuldades que se colocam à fábrica, quer em termos de produção, quer em termos de mercado?
RV – Em termos de produção, temos uma dificuldade sobretudo relacionada com a aquisição de matéria-prima, precisamos de mais pesca nos Açores, pois frequentemente temos que recorrer a compras no mercado internacional. Por outro lado, uma fábrica para ser competitiva precisa de estar em permanente atualização tecnológica e neste sentido temos de atualizar e modernizar a nossa unidade industrial que foi projectada há duas décadas.
Em termos de mercado, as nossas conservas de gama baixa e gama média precisam de maior valorização no mercado nacional, pois estão sob a pressão de uma forte concorrência com marcas nacionais que possuem uma notoriedade muito forte.
TI – De onde provém a matéria-prima. O atum que labora é proveniente do mar dos Açores?
RV – Todo o atum que podemos, compramos nos Açores e Madeira, quando precisamos recorremos ao mercado internacional.
TI – O que marca a diferença dos produtos fabricados pela Santa Catarina das restantes conserveiras?
RV – Nós cozemos e tratamos todo o nosso pescado e os tempos de cozedura, o tempero e manuseamento e estágio são controlados por forma a que o produto final tenha as caraterísticas de paladar e textura que na minha opinião são as melhores. Também possuímos um saber fazer das nossas operárias que é único, pela forma perfeita como manuseiam o pescado.
TI – Como se encontra financeiramente a Santa Catarina?
RV – A Santa Catarina é uma empresa que foi intervencionada e por essa razão ainda se encontra em recuperação, com muito trabalho para atingir os indicadores que são ambicionados pela administração, colaboradores e acionista.
Contudo, o primeiro indicador que pretendemos atingir é o da rentabilidade. O plano de negócios que realizámos quando cheguei à Administração da Fábrica Santa Catarina previa atingir um resultado de exploração positivo no corrente ano de 2017. Contudo, a escassez de atum nos Açores e o facto de este ano, no mercado internacional o pescado ter atingido historicamente o maior preço de sempre, fez com que não conseguíssemos atingir o nosso objetivo.
Espero que em 2018 o mercado nos permita alcançar os nossos objectivos que estavam desenhados para o ano de 2017 e posteriormente continuarmos a crescer de forma solidificada no mercado e alcançar o lucro final. Contudo, o peso do passado dificulta muito o dia-a-dia da empresa.
TI – Que investimentos têm previstos para o futuro?
RV – No ano de 2016 adquirimos um armazém entreposto em Alverca que serve de base a toda a nossa logística na venda e exportação, sem este não nos seria possível cumprir critérios para estarmos no mercado do retalho organizado e posteriormente realizamos investimentos para atingir a certificação IFSSC 22000.
Em 2017 adquirimos novas máquinas e mantivemos investimentos na criação de novos produtos e imagens. Para 2018 pretendemos atingir um novo nível de certificação a IFS. Este nível é o padrão mais elevado ao nível de uma certificação alimentar. No restante, uma fabrica precisa de estar em permanente actualização tecnológica e de manutenção.
TI – A que mercados se destina atualmente a produção desta conserveira?
RV – Exportamos entre 35 e 40 % das nossas conservas e vendemos nos Açores sensivelmente 20% a 25%. Por ordem decrescente os mercados de exportação são Itália, Inglaterra, EUA, mas vendemos para muitos mais mercados, desde o Japão, China, e muitos outros países.
TI – A que mercados pretendem ainda chegar?
RV – Em breve pretendemos entrar no mercado Canadiano e precisamos de consolidar as nossas vendas e relações comerciais em alguns mercados e manter a procura de novos negócios que nos permitam vender melhor, isto é, substituir determinadas vendas por outras de valor superior. O objectivo é sempre aumentar o net por lata, assim melhoramos o nosso desempenho económico, embora não chegue, pois temos de ser mais eficientes também na produção.
TI – Manter uma fábrica não deve ser fácil. A Santa Catarina conta com alguma ajuda ou apoios públicos?
RV – Nos Açores existem apoios como o “POSEIMA” uma ajuda para as fábricas situadas nas RUP’s, além disso, temos apoio de base regional à exportação de produtos. Contudo, o sector conserveiro que emprega 750 trabalhadores diretos nos Açores tem menos ajudas que outros sectores, talvez porque seja menos interventivo publicamente.
TI – A fábrica e os produtos produzidos por esta indústria jorgense já receberam vários prémios. Que distinções re-cebeu e que importância têm para a unidade fa-bril?
RV – Somos campeões recorrentes na Feira de Santarém e internacionalmente recebemos vários prémios no Great Taste Awards no Reino Unido, este ano foi-nos atribuído o Premio 5 Estrelas. Estes prémios, além da notoriedade que dão às marcas, são um estimulo à dedicação e ao empenho que os nossos trabalhadores dão à conserva que diariamente produzem.
TI – Em relação à pesca do atum. Que considerações faz a esta actividade na Região Autónoma dos Açores? No seu entender quais são as principais dificuldades do setor?
RV – A pesca está condicionada pelos grandes cercadores que pescam a sul e certamente pela utilização de FAD’s (dispositivos agregadores de pescado), acho que a pesca deve modernizar-se, atualizar-se, pois a nossa frota precisa de frio a bordo para a congelação e devemos ver o que se faz em outras paragens e tentar adaptar à nossa realidade. Se nada for feito e se não forem incrementadas as capturas corremos o risco de estar a colocar em causa o futuro da pesca e sem pesca não há competitividade da indústria.
TI – Segundo informação disponível, o atum nos Açores tem vindo a diminuir a fábrica sente essa falta de matéria-prima?
RV – Claro! Este ano pescou-se em Bonito 10% das necessidades da indústria açoriana.
TI – Recentemente foi assinada nos Açores, no âmbito da I Conferência Internacional de Pesca de Salto e Vara, a declaração dos Açores de apoio à pesca de atum de Salto e Vara? No seu entender que vantagens ou benefícios traz esse documento à Região Autónoma dos Açores e nomeadamente à fábrica?
RV – Muitos! Valorização, notoriedade para a Região Autónoma dos Açores para o setor. O Salto e Vara ou Pool and Line é um método de pesca sustentável que precisa de ser valorizado e protegido. O Governo dos Açores fez, no meu entender, muito bem avançar para esta iniciativa que veio colocar os Açores no mapa mundo desta corrente de defesa deste tipo de pesca.
DR