Reflexões Crónicas – Agora o Relógio (e um pedido de desculpas)

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1 No último texto que escrevi abordei a situação da Igreja do Carmo e o recentemente anunciado protocolo entre a Ordem Terceira (OTC) e a Câmara Municipal (CMH). O texto pretendeu ser uma chamada de atenção para o problema e para o facto de a sua solução passar por um diálogo entre todas as entidades, pois não é o só o Carmo mas também São Francisco, o Museu de Arte Sacra e não se fica por aí. Pelo meio referi existir da parte da OTC e da CMH uma “óbvia falta de interesse […] em ouvir os técnicos e dialogar com as outras entidades”. Porquanto fosse mais dirigida à CMH a frase incluía também a OTC. A percepção que tinha no momento, dadas as circunstâncias que relatei nesse texto, é que também não havia interesse “em ouvir os técnicos”. De lá para cá houve diálogo (com a minha pessoa) e demonstração de interesse (para com o trabalho técnico), além de que reconheço que a frase que aqui citei foi efectivamente injusta para com a OTC. Em todo o caso, nesse mesmo texto (como noutros que tenho escrito e dito), deixei o meu elogio ao trabalho da OTC, na pessoa do Padre Marco Luciano, a quem se deve o facto de a igreja estar hoje segura (em todos os sentidos), de não estar já “a meter água por todos os lados” e até de a Capela dos Terceiros estar aberta e em funcionamento. E constatámos que houve uma falha de comunicação entre mim e a OTC, que justifica a sua ausência oficial na sessão do dia 18 de Abril, o que por sua vez motivou o artigo que escrevi. Pelo dito acima, e por o texto ter saído aqui, deixo também neste espaço um pedido desculpas público ao Padre Marco Luciano e a todos os membros da Venerável Ordem Terceira do Carmo, por ter dado a entender que lhes estaria a imputar uma irresponsabilidade no processo em causa. O que quis dizer, e isso mantenho, é que fizeram até agora o que deveria ter sido feito (daí até já o ter elogiado em vários locais), mas que agora o mais urgente está resolvido e é possível parar para planear os passos seguintes, o que deve ser feito em diálogo com as outras entidades (e é o que estão a fazer). 
 
2 Quanto à CMH, pequei talvez por não ter sido mais incisivo, e isso leva-me ao segundo ponto deste texto, que não queria deixar no mesmo, mas acho urgente que seja publicado o quanto antes. Foi anunciado há uns dias (e parece que a obra começou quase no mesmo instante…) a criação de um polidesportivo no Largo do Relógio. Deixo aos entendidos a discussão da pertinência de algo desse género num lugar daqueles, quer pela sua utilidade quer pelo enquadramento urbanístico. Da minha parte deixo o contributo do que sei, e um apelo a quem está próximo do processo para que alguma coisa seja feita. Ainda em Março, quando se soube do parque infantil que lá foi feito, apresentei ao Sr. Presidente da CMH as minhas preocupações quanto ao espaço e assegurou-me que a obra era uma pequena intervenção não invasiva (como de facto foi), mas nunca referiu o que foi agora anunciado.
Como a maioria das pessoas saberá, o Largo do Relógio corresponde ao espaço em que se ergueu a antiga Igreja Matriz, demolida em 1825. E de lá até hoje nunca nada foi construído no local. Isto significa que o largo é um dos locais arqueológicos mais importantes do Faial, pois estão lá os alicerces da igreja, vestígios de cerâmica e outros (como os que vão na fotografia), imensas ossadas e inclusive criptas. Isto significa que qualquer intervenção deverá ser precedida de um estudo de impacte arqueológico, e antes de se construir seja o que o espaço devem ser estudados e registados os achados que surgirem. Ao avançar-se com a obra a esta velocidade e sem qualquer estudo prévio um importante património da nossa ilha será destruído, e esta vereação ficará para o futuro como a que contruiu um polidesportivo (impensado e potencialmente inútil) à custa da destruição de um património de valor incalculável, que ficará para sempre inacessível aos investigadores e às gerações futuras.
Da minha parte fico disponível para colaborar, com a CMH ou com quem quiser saber mais, e até lá verei o que se pode fazer.
Imagem: Vestígios arqueológicos encontrados na Horta, alguns no Largo do Relógio, dos séculos XVII a XIX.
Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).

 

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