Reflexões Crónicas – Notas de uma viagem ao Faial

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No meu último texto referi uma reportagem que a televisão francesa está a realizar sobre os flamengos no Faial. Nos dias seguintes à publicação desse artigo cheguei cá com a equipa de televisão, proveniente de Paris, e durante dois dias fiz de cicerone por vários lugares da ilha onde pretendiam colher imagens e informações sobre a nossa História e o nosso Património. Não há melhor que ver pelos olhos de outros para termos uma percepção ainda melhor do que nos rodeia. E sobretudo para termos a noção de qual a imagem que passamos para quem nos visita. Deixo aqui algumas impressões desta “viagem”.
O primeiro impacto, e porventura o mais chocante, fica registado na imagem. Um dos principais elementos desta recolha eram os brasões flamengos e alemães existentes na igreja das Angústias. Quando lá chegámos, no Domingo de manhã (dia 30), encontrámos o adro já destruído e sem calçada. E encontrei-me num dilema: estou com pessoas que vieram de Paris ver os vestígios da nossa identidade, como é que lhes explico que a nossa identidade foi apagada? Não há forma simpática de explicar, limitei-me a dizer que era uma iniciativa do município e depois ouvi os comentários dos nossos visitantes, que vinham com as fotografias da igreja, entusiasmados em ver o adro pessoalmente, e ficaram chocados com o que viram.
Depois andámos por vários locais, fugindo da chuva e do vento, em busca de vestígios que contassem o nosso passado. Mas foram muito difíceis de encontrar. As vistas gerais lá se fizeram, as paisagens e a baía – das “Mais Belas do Mundo” – vistas à distância têm sempre o seu encanto e ficam bem no retrato, o problema é quando se vai ao pormenor.
Fomos às Bicas dos Flamengos, o símbolo da freguesia e um dos locais mais an-tigos do povoamento faialense. Descobri, para meu espanto, que o brasão do Reino de Portugal e as cantarias em redor estavam pintadas de azul, opção discutível (não necessariamente errada e até esteticamente aprazível), e tive de explicar que aquele azul era uma coisa recente, sem relação com o do pastel flamengo. E, apesar das paredes pintadas recentemente, o espaço tem um ar de abandono e tivemos de andar no meio das ervas para captar imagens. Mais adiante, passando pela ribeira e quase a chegar à igreja, estão as antigas pias de lavar a roupa, essas sim abandonadas, e uma pequena ponte, de que já alguém me tinha chamado à atenção, mas só agora pude ver, que deve ser uma das construções mais antigas desta ilha, senão em existência pelo menos em tipologia. Andámos a filmar a pequena ponte, mas o enorme paredão de betão ao lado não permitiu nenhum bom plano.
Por fim, pelas ruas da cidade, em busca de arquitectura tradicional, chegámos rapidamente à conclusão que dos edifícios antigos que restam a maioria estão muito descaracterizados e os poucos que mantêm a sua integridade estão em mau estado ou em ruína. O único local com alguns edifícios bem recuperados foi a Travessa da Misericórdia, que ficou para mostra do que por cá existiu e já não existe.
E cheguei ao final a pensar, que imagem estamos nós a deixar perante quem nos visita, se vêm em busca da nossa identidade e no fim encontram betão e alumínio e até do pouco que se vê nos guias turísticos há coisas a desaparecerem todos os dias?
Fica a reflexão. 

 

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Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).

 

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