Reflexões Crónicas – O Faial e a Periferia Açoriana (2)

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Há duas semanas deixei neste mesmo espaço algumas notas sobre o VII Colóquio O Faial e a Periferia Açoriana nos séculos XV a XX, que decorreria na semana seguinte, apontando algumas comunicações que considerei serem pertinentes para o público faialense. Escrevo agora no “rescaldo” do evento, registando algumas notas sobre os trabalhos.
Tal como nos anteriores, este foi um momento de reunião e de reflexão em torno das ilhas periféricas dos Açores, numa abordagem maioritariamente histórica, mas que contou também com outros contributos pertinentes, como sejam literários, antropo-lógicos, linguísticos, arqueológicos, geográficos ou demográficos. No conjunto, pensa-ram-se as ilhas, o(s) espaço(s), as dinâmicas existentes e o percurso de desenvolvimentos da sociedade e das várias comunidades. Foram colocadas muitas questões, muitas das quais ficam em aberto, mas questionar é sempre o mais importante.
Como esperaria e referi no apelo que deixei entrelinhado no texto anterior, a participação do público foi, infelizmente, fraca. Mas o certo é que este é um evento que não é pensado para o público geral, pelo que não será necessariamente negativo que este não adira. É sim importante que as reflexões e os contactos que se fizeram tenham uma con-tinuidade, que as conclusões e o conhecimento gerado pelos estudos em curso tenham um efeito prático na sociedade, e que as dinâmicas geradas possam ser também continuadas e postas ao serviço da comunidade, como tem acontecido anteriormente com eventos semelhantes. Para já ideias e sugestões não faltam.
Foi muito bom ver como investigadores de vários quadrantes e áreas de estudo se têm dedicado ao estudo de temas que são do nosso interesse local e que podem ser-nos úteis se os soubermos utilizar, assim como ver o seu entusiasmo pela forma como foram (e, frisaram, são sempre) bem-recebidos entre nós: este colóquio tem também associada uma tradição de hospitalidade e acolhimento já rara entre os eventos académicos actuais (como referiu alguém: este é um colóquio “à antiga”, como “já há poucos”). (Faço aqui o parêntesis para congratular a organização: o Núcleo Cultural da Horta, a Misericórdia das Velas e a Câmara Municipal da Horta, mas sobretudo os membros da comissão organizadora, primeiros responsáveis pelo sucesso da iniciativa).
No entanto, apesar de os participantes serem unânimes no que toca ao êxito do evento e ao bom acolhimento, houve também outro tipo de comentários, sobretudo da parte de quem já cá veio antes e conhece o panorama faialense (e açoriano). Refiro-me (não posso deixar de o referir) ao marasmo em que o Faial se encontra, em termos sociais e, sobretudo, culturais, o que ficou ainda mais evidente depois de termos ido para São Jorge (uma ilha à partida mais “periférica”). O actual estado da sociedade faialense e o facto de estar a atravessar notoriamente uma fase desvigorada (para não dizer “decaden-te”, como caracterizou alguém por estes dias), é algo que está à vista de todos, sobretudo de quem nos visita e a quem (ainda) vendemos vários das “épocas áureas” da Horta de outros tempos. Conti-nuamos a ser campeões na hospitalidade, mas a forma sem conteúdo não vai longe e há que ter coragem e força para mudar, caso contrário corremos o risco de passar a ser a todos os níveis a periferia das periferias e a viver reféns de memórias sem continuidade.
Fica a reflexão. 

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Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).

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