Desde há uns anos a esta parte que tenho assistido e/ou participado, em Lisboa, a várias conversas e discussões acerca do papel da Comunicação Social, em particular a nível local e, sobretudo, em meios pequenos como o nosso. Para que servem os órgãos de co-municação social locais? Que notícias e conteúdos devem ter? Nos tempos que correm, com todos os meios digitais, redes sociais e possibilidades de o público chegar, seleccionar e produzir informação, faz sentido a existência de pequenos órgãos de comunicação, sobretudo quando se focam num pequeno espaço local? Estas são algumas das questões que frequentemente surgem no debate.
Focando concretamente no Faial, ao analisar o panorama geral dos órgãos de comunicação social existentes (e tendo em conta várias situações com eles relacionadas que têm ocorrido ultimamente, por vezes pondo até em causa a sua manutenção), creio que é de facto necessário fazer-se uma reflexão alargada e concertada sobre o tema. Apesar de este até ser, porventura, o sítio mais adequado para lançar tal ideia, não é esse o objectivo, e o que me levou de momento a pensar nessa questão foi a recente consulta de jornais antigos, nos quais se constata facilmente que os conteúdos que hoje vemos é muito diferente do que neles surgia ainda há poucas décadas, tanto em termos de temáticas como da forma como estas eram/são abordadas.
Deixo alguns exemplos, talvez caricatos, mas curiosos:
– “Antonio Pacheco da Silva pede a todos os devedores do seu estabelecimento o favor de pagar as suas contas.” (Correio da Horta, 3.1.1930);
– “Criada: oferece-se uma sabendo cozinhar. […]” Correio da Horta, 23.2.1935);
– AVISO / José Garcia da Rosa vai deitar veneno nos seus terrenos á Cruz do Bravo, Flamengos, não se responsabilisando por qualquer animal que lá entre.” (A Democracia, 10.4.1930);
– Uma bela casa / Por várias pessoas lhe terem pedido para visitar a sua casa nova na rua D. Vasco da Gama, o Sr. Antonio Lucas da Silva resolveu tê-la aberta durante esta semana, podendo ser visitada a qualquer hora do dia.” (A Democracia, 3.4.1930).
Tal como estas notícias e anúncios, eram presença assídua as referências aos “aniversários natalícios” de pessoas da sociedade local, assim como sobre quem vinha, por exemplo, de visita a partir do Pico, ou ia para lá passar uns dias com a família. Hoje seria quase impensável um jornal noticiar quem foi de férias onde (pelo menos a nível de notícia local) e pode até parecer-nos uma devassa da privacidade dessas pessoas. No entanto, se pensarmos nas redes sociais que hoje existem e na forma como são utilizadas…
Voltando às notícias e anúncios transcritos acima, posso apenas deixar a nota de que a estrutura dos nossos jornais se manteve muito próxima durante décadas e apenas se alterou drasticamente nas mais recentes (até os jornais se alteraram…), acompanhando assim o evoluir da própria sociedade. E hoje, como são, como devem ser, que conteúdos devem ter e que função desempenham os nossos órgãos de comunicação social?
Fica a reflexão.
Tiago Simões da Silva
[email protected]
Em defesa da Língua Portuguesa, o autor deste texto não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconsistente, incoerente e inconstitucional (para além de comprovadamente promover a iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).