Uns têm aviões e turistas, outros veem navios

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Na semana transata desloquei-me à ilha de São Miguel, onde já não ia, talvez, há mais de dois anos, para deixar na Universidade dos Açores a minha filha mais velha, que, após um percurso escolar de excelência, decidiu ingressar no curso de Medicina naquela instituição de ensino superior.
Para meu espanto, por lá constatei uma realidade que não é visível, atualmente, em mais nenhuma ilha dos Açores – um enorme progresso económico e uma forte consolidação do turismo.
Pese embora alguns números desta atividade económica (dormidas na hotelaria tradicional) comecem a apontar para uma redução de turistas na maior ilha dos Açores, a mesma ainda não é percetível em termos práticos, pois estamos a falar de uma presença na ilha, entre os meses de janeiro a julho, na ordem dos 705 mil turistas.
No aeroporto, quer à chegada, quer à saída, dei conta dos inúmeros aviões ali estacionados pertencentes a diversas companhias aéreas como a TAP, a Ryanair, a Blue Air, ou a SATA. Os passageiros a entrar e a sair da ilha eram às centenas, de inúmeras nacionalidades, portuguesa, alemã, inglesa, norte-americana e também chinesa.
A presença dos turistas asiáticos em pleno Oceano Atlântico recordou-me a promessa lançada por Paulo Futre, há muitos anos, aquando da sua candidatura à presidência do Sporting ao afirmar que iria trazer charters carregados de chineses para encher o estádio de Alvalade. A sua intenção não se concretizou, mas parece que este povo descobriu outro local no globo, os Açores e mais concretamente a ilha de São Miguel, para passar as suas férias.
O aumento da oferta hoteleira, o incremento da restauração acompanhada da adequada formação do setor, a proliferação de empresas de rent-a-car, a conversão de muitas habitações em unidades de Alojamento Local e as estradas regionais em bom estado de conservação, são a face mais visível daquilo que os agentes turísticos costumam dizer, os Açores estão na moda.
E se a isto acrescentarmos uma contínua redução de preços nas passagens aéreas, resultado da concorrência entre as companhias aéreas que operam de e para São Miguel, então pode residir também aqui mais uma explicação para o sucesso turístico da ilha.
Por outro lado, constatei a dinâmica que o programa “REVIVE” imprime na construção civil e na recuperação do património da ilha, bem como da influência que a Universidade dos Açores tem, essencialmente, na cidade de Ponta Delgada, com a chegada anual de mais de 500 alunos.
E nós por cá? Na verdade, nada do que acontece na maior ilha dos Açores, salvaguardando as devidas proporções, tem por aqui correspondência.
Para além das inúmeras estradas regionais em péssimo estado e a necessitar de urgentes intervenções, verificamos que, no aeroporto, opera apenas uma companhia aérea, a SATA. E muitas vezes não opera ou não quer operar, tantos são os cancelamentos registados. E quem sofre com isso, para além dos turistas, são os próprios empresários locais que veem a sua atividade ser afetada por tais constrangimentos.
Mais, a redução registada até julho no número de dormidas na hotelaria tradicional no Faial (-0,8%) contrasta com o aumento significativo das mesmas na vizinha ilha do Pico (6%), indiciando a perda de clientes na ilha azul e a captação de mais turistas deste nicho de mercado por aquela ilha do Triângulo.
É caso para dizer que a ilha do Faial está a ficar esquecida.
E a comprovar isso temos a perda da presidência da Portos dos Açores, da AtlânticoLine e o desaparecimento da SPRHI, para além da ausência de intervenções no âmbito do programa REVIVE e do assumir que as obras da Frente Mar trarão, por si só, desenvolvimento económico à ilha, ou, como ouvi, que a marina de Ponta Delgada está a atrair cada vez mais iates.
Penso que, por cá, está na hora de agir em vez de apenas prometer, e pegando na ideia de Paulo Futre, conseguir charters carregados de turistas para a ilha. Senão, ficaremos a ver navios.

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