42 anos depois

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g “Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que eu ajudei a construir.”, disse Salgueiro Maia, o último herói nacional. Aquele que procurava o bem de todos sem nada querer para si. Morreu como viveu, humildemente, embora tivesse sido o mais corajoso soldado da liberdade nos últimos momentos de um regime decadente e desumano.
No dia 25 de Abril deveria-se homenagear todos aqueles que lutaram contra a ditadura e que, sem medo das represálias que poderiam sofrer, permitiram que vivêssemos os últimos 42 anos num sistema bem melhor do que aquele que tínhamos até 1974, ainda com algumas imperfeições mas democrático.
Volvidos estes anos, vive em mim um sentimento amargo. Sinto que somos uma geração de acomodados com o que temos, sem sentimentos de responsabilidade cívica e politica. Antes tinha-se medo da tortura e do Tarrafal por delito de opinião, hoje temos medo de perder o subsidiozinho, o lugarzinho, a progressão na carreira ou o trabalho reservado para o filho. Somos pequenos ao pé da geração de Abril mas gritamos liberdade e igualdade como se lá estivéssemos estado.
Quem, nos dias de hoje, viveria na clandestinidade? Quantos sofreriam as repressões da PIDE sem se tornar “bufos”? Quantos fingiriam que a política não era para si mas depois da revolução se filiariam num partido à procurar de um encosto?
A cada semana que passa assistimos a um novo escândalo e somos cúmplices com o nosso silêncio. Em cada canto espreita o oportunismo, a incompetência e a malícia, que dilapidam o interesse nacional, e o único castigo que enfrentam é a alternância do poder.
Somos uma geração de meninos da mamã demasiado preocupados com o nosso próprio umbigo, e em muitos casos, comprometidos com este sistema pérfido tanto na sua base mais local como na estratosfera do exercício do poder público nacional. Somos hoje um país de gente habituada ao favorzinho ou ao jeitinho, que consente e não reclama. Um país de gente que vê o que está mal mas nada faz para mudar.
Não sei se temos legitimidade para celebrar este dia. O povo esqueceu o 25 de Abril quando deixou a partidocracia entregue aos lobos, presos num esquema de dependências em que o dinheiro vale mais que os princípios.
Gritamos liberdade sem a entender e com uma sardinha à borla na mão, sonhamos com um mundo melhor e mais justo, enquanto o desenvolvimento vai passando ao lado.

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