A Celebração da Liberdade

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Portugal festejou no dia 25 de Abril a Liberdade. Em 3 de Maio quase todo o mundo celebrou a Liberdade de Imprensa. 

No século XX a informação foi eleita o quarto poder. Hoje, a informação não é mais o quarto poder. É o primeiro e foram os outros três que o catapultaram ao lugar cimeiro. 

Esta primazia trouxe a própria comunicação social para a ribalta, fê-la incidir o foco sobre si mesma, transformou jornalistas em vedetas e audiências em consumidores dependentes.

A informação passou a ser uma vertigem: não há tempo para pesquisar, analisar o contraditório, aprofundar a notícia. Ela é o que é. Os comentadores que venham depois dizer de sua justiça, cada qual puxando a brasa à sua sardinha, nem que seja apenas a sardinha do seu pensamento.

Não há tempo para revisitar o passado, ainda que o passado tenha apenas uma semana de existência. Investigar se esta é uma novidade, ou se é um prato requentado três vezes, com os mesmos ou outros acompanhamentos, é coisa que habitualmente não se faz, seja por preguiça jornalística seja por falta de tempo, seja ainda porque não interessa à empresa. O jornalista vê-se, com alguma frequência, entre a espada do patrão e a parede da sua consciência. A pressão do tempo que, por vezes, mascara outras razões menos visíveis, é tremenda. O importante é sair hoje. Agora. E uma vez que será sempre criticada a maneira como a notícia é apresentada, interessará assim tanto aprofundá-la? 

Porém, por respeito ao jornalismo e aos jornalistas, não posso deixar de afirmar que se pratica bom e mau jornalismo como em todas as profissões. Professores, advogados, juízes, técnicos das mais variadas áreas, engenheiros, operários, comerciantes, administrativos, médicos… todas as profissões, bem ou mal exercidas, deixam marcas no futuro.

Importa, no entanto, lembrar que o jornalismo é das profissões mais incompreendidas do universo. Por várias razões entre as quais destaco: o jornalista está sujeito a regras de mercado, como qualquer outra profissão e se essas regras são aceites para a maioria das profissões, não são aceites no jornalismo; no jornalismo é a exceção que faz notícia e não a regra; quando se revela algo menos bom, os envolvidos sentem-se injustiçados e os não envolvidos aplaudem; as audiências preferem a leveza ou a dureza da notícia à reflexão; quando há reflexão, os puristas dizem que o jornalismo é apenas para transmitir factos e não para os analisar emitindo considerações de carácter subjetivo e os não puristas afirmam haver outros pontos de análise não contemplados e importantes (há sempre!); a exigência da cobertura jornalística em relação aos acontecimentos aumenta incessantemente e cada um se sente no direito de ser mencionado nos media pelos motivos mais diversos, o que sempre cria animosidade quando tal não acontece; a cobertura jornalística expandiu-se na proporção da globalização e os consumidores de informação têm uma avidez insaciável pela simultaneidade; a localização das notícias é, bastas vezes, esvaziada pela dita globalização; a efemeridade da informação é cada vez maior; a vida tornou-se mais exterior do que interior.

Porém, com todas as inquietudes que perpassam pela humanidade, é bom pertencer ao mundo onde se pode celebrar a Liberdade de Imprensa. 

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