A Pesca

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Portugal, país piscatório por excelência, deixou de o ser. Não pelo motivo dos peixes escassearem, mas por falta de quem os apanhe ou seja, de quem os pesque.

Os pescadores dos nossos dias não são ousados como os de antigamente. Preocupam-se em deitar a rede aos peixes miúdos, digo, àqueles pequeninos que, ao fim e ao cabo pouco ou nada tem que se aproveite. Só espinhas, porque o resto já os peixes maiores comeram. E é triste ver-se uma montoeira daqueles bicharocos miúdos por ali, sem comprador e nós ansiosos por adquirir um peixe que nos encha as medidas.

De vez em quando, eles, os pescadores mais arrojados, perdem a cabeça e capturam (detesto esta palavra) digo, deitam a rede a um grande peixe, gordo, um regalo. Fazem dele um troféu, mostram aos amigos e compradores, à comunicação social, ao mundo mas não o vendem de imediato. Retém-no em cárcere privado, enquanto magicam nos prós e nos contras. Mato o bicho? Deixo-o em cativeiro? Não deixo? O pescador vira um farrapo de tanto pensar!

Os pescadores d´hoje, não se sabe porquê, pensam pequeno. E são medrosos. Sentem medo de peixes grandes. Medo que eles retaliem. Sabem as linhas com que se cosem. E a maior parte das vezes, que não todas, devolvem o bicharoco à procedência. E é então vê-lo batendo barbatanas, arreganhando os dentes, comendo os menores e rindo. Os peixes riem. Estes de que falo, riem. Riem, sim senhor. Quem foi o infeliz que não teve a sorte de ver um peixe grande a rir para ele? Ou dele? É normalíssimo! Dia destes vi um peixão com a dentuça escancarada! E olhem lá, estava em apuros!

Os peixes menores não riem nunca. Não sei porquê mas lacrimejam. Nota-se bem. Lá tem os seus motivos. Também não resolvem nada, nunca. É a lei do ambiente onde vivem!

Quando eu era criança, os meus pais tinham um pescador contratado para levar o peixe lá a casa. O senhor Leonardo. Levava sempre o peixe encomendado. Grande ou pequeno. Não lhe fazia diferença. Porque era um homem destemido e peixe graúdo para ele não significava ameaça. Que ousasse algum tentar enganá-lo. Também, diga-se de passagem, então, não existia peixe grande e perigoso!

O senhor Leonardo como todos os pescadores da época, vestia qualquer roupa simples, remendada e trazia um boné qualquer. Levava o peixe enfiado num arame, bem morto, prontinho a ser cozinhado. Nunca me apercebi que ele voltasse atrás para devolver o peixe ao mar. Era o que faltava!

Atualmente os pescadores andam fardados, tem galões. Usam bonés especiais, aparecem em grupos. Quando apanham um peixão sentem um sentimento de culpa,um remorso conjuntamente com uma alegria verdadeiramente inexplicável. E é apanhando essa fragilidade que os compradores se recusam a comprar o bicho e os obrigam a devolver ao mar. É um querer e não querer inacreditáveis!

Mas tem uma explicação como tudo na vida! Peixe grande quando capturado ( continuo embirrando com esta palavra), vinga-se. E leva de arrastão amigos e correligionários ( peixes, entendam). Acho que eles lá no meio das profundezas ou das grandezas em que vivem se reproduzem malthusianamente. E fazem um pacto entre eles. Não tossir nem mugir, quando preso. Caso contrário, se o outro deita a guelra em movimento ele, de saco cheio, vomita todas as falcatruas dos companheiros do cardume. Até parecem gente! Imaginem! Como pode?

E ninguém quer engolir um peixe rancoroso, mal intencionado, indigesto, venenoso e desonesto. Que chega até nós já liquefeito e putrefato. Por isso é preferível muitas vezes libertar o animal dando azo a que eles ataquem todos os outros menores. É a lei da vida!  O peixe maior come o peixe menor. E não há safa.

Será que o leitor tem visto ultimamente os pescadores frente às sardinhas de Peniche ou aos carapaus da Nazaré? É o vês! Só peixe do alto! E porquê? Porque os pescadores modernos, de farda, não têm instrução nem educação para discernir o bem do mal e na hora da pesca, lançam a rede aos tadinhos, bonzinhos, inocentes que nadam em mares tranquilos de honestidade e pureza. Ninguém merece! E sente-se por vezes dó de alguns crustáceos que, vivendo bem agarrados à rocha, sofrem horrores quando os separam dela.

Temos uma raça infinita que navega nas nossas águas como o peixe espada, o tubarão, o peixe porco, etc e que têm um valor inestimável. Tanto que alguns (não especificados) se vêem obrigados por vezes a enviar remessas e mais remessas para países estrangeiros a fim de serem armazenados, ficando prontos para entrar em função sempre que necessário. Lá eles reproduzem-se imenso e ai de quem os incomode. Chama-se a isso COPNI (cofre de peixes não identificados).

E mais não digo. Ora sebo para tanta pescaria!

 

 

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