Administração Pública – Posicionamento do Faial

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 Há consenso relativamente ao fato de que ter uma administração pública dinâmica numa ilha tem efeitos muito positivos no seu desenvolvimento económico e social, porque, ao nível da organização e amplitude de serviços, vem dotá-la de quadros profissionais que, para além do nível remuneratório acima da média geral dos vencimentos, na sua maioria têm que ter uma visão arquipelágica e nacional, saindo das suas fronteiras de ilhéu.

Estes quadros são, assim, agentes que, devido à sua modernidade, impõem uma presença de liderança na sociedade, servindo em muitos casos de modelo profissional a seguir. Em suma, ter altos quadros da administração regional numa ilha como o Faial supostamente terá um efeito positivo na restante sociedade.

O Faial teve e tem uma administração pública considerável, tendo em conta a sua população. Só a título de exemplo, possui muitos mais cargos públicos do que a ilha do Pico, que possui a mesma população, encontrando-se justificação em fatores históricos de geopolítica económica.

A visão de distrito e a dispersão territorial das ilhas dos Açores dotou o Faial de infra-estruturas públicas que permitiram que se gerasse um status de desenvolvimento social e económico acima do que seria esperado para a dimensão da ilha, daí que se tenha tido ao nível de massa crítica, quer pública, quer privada, alguma importância ao nível regional e nacional.

Após o 25 de abril e com os governos autonómicos, houve numa primeira fase a manutenção desta geopolítica de descentralizar as infra-estruturas da administração pública regional, o mesmo acontecendo ao nível do executivo governativo, tendo dado ao Faial, mais uma vez, e talvez sem grande esforço, uma importância e desenvolvimento acima da média.

Mas os tempos mudaram, as realidades são outras, os gestores políticos de hoje são pressionados com outras questões, a de vencer eleições para os seus partidos, de controlar o deficit das contas públicas, de modernizar a administração pública, entre outros.

Para um gestor político que observa que a ilha do Faial está com um nível de administração pública acima da média, a tendência será a de nivelá-lo para a média, reduzindo.

Ao nível da eficácia da administração regional, a centralidade de serviços tem efeitos muito positivos e geradores de sinergias; o atual governo irá construir no parque tecnológico de São Miguel infra-estruturas governamentais, centralizando e racionalizando a sua máquina.

Ao nível dos gestores políticos de topo, o Faial já levou o corretivo, pois é o mais fácil de atualizar. Assim, o Faial, que por razões de força geopolítica teve desenvolvimento económico e social, agora vê-se privado e ameaçado no seu status, com as consequências negativas que daí advêm.

Esta posição de fragilidade requer que a ilha do Faial se reencontre ao nível das políticas e estratégias para corrigir esta ameaça presente, pois está à vista de todos que poderíamos estar a desenvolver-nos mais do que estamos.

Para que tal aconteça, existe apenas um caminho, que consiste na união e na reivindicação e em jogar sabiamente com esta adversidade.

Mas não é fácil, com os agentes políticos que temos, pois os eleitos têm como primeira preocupação servirem-se e frequentemente não assumem o cargo para que foram eleitos se o seu índice de remuneração (em muitos casos obtidos graças ao partido do poder) é mais vantajoso do que os cargos populares que iriam ocupar.

Assim, sem visão regional nesta matéria, sem a perceção de que o mundo e a região estão a mudar e de que o Faial precisa de defesa e renovação neste contexto; com a obediência cega ao poder central (leia-se, a São Miguel e à Terceira), comprada a troco de uns euros, a preocupação de que a administração pública local está ameaçada é, infelizmente, uma realidade.

 

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