Ainda a propósito da Web Summit

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TI

TI

“Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
– Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele disse-me ao ouvido:
– Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!”

Depois de tudo o que se disse na comunicação social sobre a Web Summit e o jantar no Panteão Nacional que, por muito estranho e condenavel que possa ter sido, me afetou muito menos que a entrevista feita pela SIC ao robot Sophia. Ao longo da entrevista, a preplexidade deu lugar à inquietação. Sophia, criada pela empresa norte-americana Hanson Robotics & Singularity, apresentada em Lisboa no âmbito da Web Summit, deambulou pelo Bairro Alto, apreciou a noite lisboeta e até aprendeu a dizer “bom dia”. Inquietante, para mim, foi o seu discurso sobre a verdade e a mentira, sobre valores e as suas considerações sobre Direitos Humanos e a (im)possibilidade de volição, isto é, de poder deliberar e decidir consciente e livremente.
Enquanto escutava a entrevista à robot questionava-me sobre a definição tradicional de Homem como ser racional. Partindo do pressuposto que a categoria “racionalidade” se aplicava apenas à espécie humana, por ser dotada de um potencial biológico de inteligência, adaptativo, flexível e culturalmente marcante e ser capaz ainda de desenvolver as faculdades da linguagem, do pensamento e da cognição. Defendendo convictamente que a faculdade de fazer escolhas intencionais e livres e a racionalidade nos distinguiam dos animais não racionais, biologicamente programados pelo ADN da espécie a dar respostas mais ou menos fixas. Estupefacta, apercebo-me que esta máquina pensante punha em causa todas as categorias que aprendi para designar a realidade.
Decidida a compreender o que se estava a passar, aprofundei a investigação sobre Inteligência Artificial. Tal como o cérebro humano, é constituída por redes neurais e estas são capazes de aprender na interação com o seu ambiente. A aprendizagem dá-se quando a rede neural atinge uma solução generalizada para uma classe de problemas. No que diz respeito aos seres humanos, este processo é designado de assimilação. As Redes Neurais Artificiais são técnicas computacionais baseadas num modelo matemático inspirado na estrutura neural de organismos inteligentes, as quais adquirem conhecimento através da experiência. Isto é, estas máquinas são programadas para dar respostas inteligentes e para aprenderem, sendo capazes de dar respostas adaptativas a novas situações.
E aqui estamos nós no século XXI, a sermos interpelados pelo futuro, mas desenraízados no nosso próprio tempo, pois não sabemos responder aos problemas humanos que nos afligem, desde a inclusão de todos os seres racionais; à destruição dos ecossistemas, ao combate à fome, a nível global e à violência, enquanto convivemos descontraidamente com humanóides na noite lisboeta. É um facto que o mundo que herdámos está em ruínas e que um universo novo surge como possibilidade inquietante. Mas a natureza essencial das coisas é a mudança. Veio-me, de súbito, à memória um poema de um poeta sufi: há um campo, para além das ideias sobre o que está certo e o que está errado. Aí nos encontraremos”. 

Observação: Poderá ver a entrevista em:
https://www.msn.com/pt-pt/noticias/tecnologia/a-entrevista-completa-%c3%a0-rob%c3%b4-sophia/vi-BBELZLM?ocid=spartandhp

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