Barbárie

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Há uns dias atrás, houve um Chefe de Estado que autorizou que, sem julgamento, se matasse um ser humano. Dizem que ele resistiu à detenção, apesar de estar desarmado e escondido atrás de uma das esposas…

A pessoa em causa, alegadamente, é responsável por diversos atentados a nível mundial, que causaram milhares de mortos, provocando o caos e a desordem. Tudo isto é, provavelmente, verdade até porque a pessoa em causa sempre assumiu essa responsabilidade. E, no entanto, que direito tem um conjunto de estrangeiros de ir a um país estranho e, à revelia de qualquer lei, matar um cidadão desarmado?

Este é um assunto particularmente delicado para os norte-americanos e, por isso, fui falar com alguns deles. Obviamente, a minha interpelação não tem valor estatístico, mas, fiquei com a nítida sensação que os norte-americanos julgam que o seu país agiu bem, que um julgamento de Osama Bin Laden resultaria numa confusão que perpetuaria a dor de todos os que sofreram e que “ele mereceu”. Ao mesmo tempo, admitiram, compreendiam as reticências dos que achavam que o caminho deveria ter sido outro…

Na realidade, penso que os norte-americanos comuns estavam sequiosos de vingança. Sendo uma sociedade moldada pelo mediatismo televisivo e condicionados por métodos de governação baseados no medo, o poderem retaliar compensa a histeria colectiva em que vivem…

Na minha opinião, para que fique claro, eu considero que Osama Bin Laden era uma má pessoa. No entanto, era a mesma má pessoa que, alegadamente, negociou com os norte-americanos em anteriores cenários de guerra. Seria demasiado penoso descobrirem-se as verdades? Provavelmente, Bin Laden merecia uma pena exemplar. Quem sabe, merecia mesmo uma pena que não se pratica em Portugal. Mas, por muito mau que seja, era um ser humano, merecia um julgamento.

No final da segunda guerra mundial, os cabecilhas do poder nazi, culpadíssimos de actos absolutamente ignóbeis e injustificáveis, foram julgados. Puderam alinhavar uma defesa e apenas foram condenados por um tribunal tão neutro quanto, nessa época, era possível. Neste momento, em Haia, há diversos suspeitos de crimes gravíssimos a serem julgados ou a aguardar julgamento. Porque não fizeram o mesmo os norte-americanos? São mais sensíveis? Estão acima da lei?

Porque me preocupa que um país tão importante, um enorme mercado livre, em que vivem alguns dos melhores pensadores de sempre, com excelentes cientistas e com admiráveis líderes esteja a cair numa vulgaridade assíncrona com os tempos, aqui fica o meu testemunho. O comportamento exibido no caso de Osama Bin Laden está errado.

Para os norte-americanos que sentem que esta é uma vitória, penso que um dia compreenderão que não há glória quando não se respeitam os adversários. Matar um homem que está escondido atrás de uma das suas mulheres é um acto que apenas espelha cobardia por parte de quem o executa.

Por último, com este acto, na minha opinião, o Presidente dos Estados Unidos da América perdeu o élan que tinha ganho na Europa. Soubesse-se o que se sabe hoje e provavelmente Barack Obama nunca teria ganho o prémio Nobel da Paz. Em termos de influência moral sobre o resto do mundo, a grande potência perdeu anos com este acto muito mal pensado.

O mundo pode ter ficado mais seguro, mas ficou, certamente, mais injusto.

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