Breve adeus a Ermelindo Ávila

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Conheci-o em 1989, na freguesia da Maia, ilha de São Miguel, no âmbito do II Encontro de Escritores Açorianos. Desde então mantive com ele uma longa relação de amizade e de camaradagem cultural e outras cumplicidades. E sempre o conheci igual a si próprio: afável, cortês, interlocutor amabilíssimo, senhor da cortesia, da persistência e da bondade humana. Recenseei praticamente todos os seus livros e entrevistei-o, em 2013, para o meu programa “Conversas Açorianas” (RTP/AÇORES). Perguntei-lhe se o Pico era a ilha do futuro. Do alto da sua sabedoria, respondeu-me: “O Pico precisa de ser repovoado com juventude”.
Patriarca de uma família numerosa, jornalista, cronista e investigador, Ermelindo Ávila (1915-2018) foi homem de cultura e pensamento, cidadão empenhado e dedicado ao serviço da sua ilha do Pico, em geral, e do seu concelho das Lajes, em particular.
Figura respeitada e respeitável, comendador e humanista, “o senhor Ermelindo” encontrou, até ao fim dos seus dias, força, lucidez e assunto para escrever crónicas semanais para o jornal “O Dever”. E escrevendo (num português vivo, estilo limpo de grande finura lexical e com uma muito boa articulação de ideias) fez mudar o curso da história do Pico.
Voz enérgica, sempre muito crítico e reivindicativo nos seus escritos, foi ele que, no século passado, bateu o pé aos poderes instituídos e, entre outras coisas, foi pioneiro em várias frentes: a exigir o ensino secundário para o Pico; a apelar a construção de portos e a melhoria dos transportes marítimos para aquela ilha; a chamar a atenção para a importância do turismo e para as ligações aéreas para o Pico; a insurgir-se contra os impostos nas ilhas e as barreiras alfandegárias; a bater-se pela melhoria dos serviços judiciais e pelo repovoamento florestal, denunciando a falta de estradas e caminhos na ilha montanha. E foi ele o primeiro a falar na possibilidade de instalação de um Museu Baleeiro nas Lajes do Pico (hoje o mais visitado dos Açores).
Com vasta obra publicada, lançou, em Abril deste ano, o seu 31º título. É impossível hoje falar da história da ilha do Pico sem recorrer à sua bibliografia.
A ave de Minerva levanta voo ao entardecer. No passado dia 25 de Maio, com os seus bem vividos 102 anos de idade, Ermelindo Ávila partiu da sua vila baleeira para parte incerta. Mas está vivo. Porque os escritores só morrem se deixarmos de os ler.

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