Vem sem aviso, tira-nos a vida do antes e põe-nos em luta desigual com a morte, a raposa matreira que vence sempre. Total e perfeito terrorismo, desumano.
Ninguém quer ficar para semente mas esta semente tem o poder de se dar em qualquer corpo, independentemente da alma, do caráter, da alimentação e dos vícios. É uma erva daninha que até nos pólos tem a capacidade se propagar.
É o verdadeiro e o mais implacável atentado a tudo o que se construiu até ali. O choque, a desorientação, a confrontação com “O” momento que nos vai tocar a todos. Mais valia ser de repente e indolor se o objetivo é não ser mais nada.
É um atentado sem pudor, classe social, riqueza para tratamentos inovadores porque pura e simplesmente o cancro, qual Estado Islâmico ataca do nada, porque o nada é o seu habitat natural.
Há quem sobreviva, renasça, mude de vida e se encontre. Há quem lide bem com o estado de alerta permanente. São herois de uma guerra ganha com esforço, motivação e uma vontade de ferro, que não está na natureza de todas as pessoas.
O cancro, qual Estado Islâmico reivindica sempre o seu ato, mostra-se descaradamente nos efeitos secundários e colaterais, na absorção do tempo, no absentismo, na exaustão de quem cuida, descuidando-se de si mesmo. É um tipo de bomba orgânica de fabrico interior combatida com o veneno possível, ou às vezes sem armas nem exército que nos valha
Junta centenas de pessoas no mesmo hospital, na mesma condição, numa espécie de campo de refugiados com casa. Às vezes muda de estratégia, disfarçado de remissivo e depois, como em qualquer outro atentado dá a machadada.
É uma arma química, cujo antídoto tarda em chegar de forma definitiva. É esse o gozo que o cancro terrorista tem: transformar-nos em baratas tontas, sem às vezes se lembrar que as baratas são o inseto que melhor resistiria a um ataque nuclear massivo.
É tão torcido, estúpido, voraz e insaciável que nos destroi antes de sermos realmente destruídos.
Mas, o que o cancro não sabe é que se as pessoas se vão, o legado fica e elas ficam para sempre no coração dos que deixam.
Simplesmente ele não sabe o que é amar, mas nós sabemos. Não sabe que a grandeza, o conhecimento e talvez um dia a perda de ganância, são armas que o vencerão.
Dedico o texto de hoje a todos os que foram ou são vítimas deste atentado, a todos os que cuidam ou cuidaram de quem foi atingido. A todos os que vivem com os estilhaços. A todos o que hoje se riem dele. A todos os que se dedicam afincadamente à sua destruição. Frase irónica, mas é mesmo o que ele merece.