Na sequência do júbilo do 10 de junho marcado pelo discurso saudosista de Marcelo, glorificando a “arraia miúda” logo veio a desgraça do encerramento das urgências de obstetrícia por carência de profissionais. Numa semana em que estes embaraços do SNS vêm à tona, emerge também o despudor político na análise e resolução de problemas que se arrastam há décadas e o convertem numa entidade moribunda, difícil de renascer.
Quando foi criado em 1979, o acesso por exame à especialidade permitia a entrada definitiva dos médicos nos quadros públicos, conferindo uma estabilidade que terminou a meados da década de 80. Essa admissão passou a ser feita apenas após final da formação por concurso de provimento em cada hospital, dependente de vagas.
Com um governo de direita, veio o estatuto de dedicação exclusiva. Aparentemente uma boa medida, revelou-se ser um cavalo de Tróia, pois apesar de aumentar ligeiramente o salário médico fê-lo depender do trabalho extraordinário. O esgotamento dos profissionais pelas longas jornadas de trabalho diário não tardaria, o que pesou, também nas suas vidas pessoais e familiares. A juntar a este facto, o acesso ao curso de medicina foi sendo restringido por motivos economicistas, criando a classe envelhecida que temos hoje na saúde.
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