Crónicas de Bruxelas – E agora temos de conviver com os animais dos outros…

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República, passará, em breve, a ser possível fazermo-nos acompanhar de animais de estimação durante as refeições nos restaurantes em Portugal. A mudança, por definição, é difícil e, sem surpresa, pude ouvir de imediato algumas vozes de indignação. O interessante é que alguns dos indignados, que muito prezo, estão aqui em Bruxelas, onde desde há muitos anos os animais de estimação são autorizados em restaurantes, sem que eu os tenha ouvido a queixarem-se. À minha observação, salientando a contradição, as respostas variam entre “mas aqui não estou na minha terra” ou, usando os ditados populares, “em Roma sê romano”.
Ora, o que me parece é que os donos dos animais interessados em os levar aos restaurantes, não para comer, obviamente, mas para continuar a usufruir da sua salutar companhia, terão de se interrogar se os seus animais se saberão comportar. A uma resposta negativa terá de corresponder a atitude cívica de não os levar. Eu agradecerei. De resto, não me incomoda nada que os animais lá estejam. Vendo bem, muitos de nós temos gatos ou cães em casa, portanto, porque não tê-los no restaurante? Apenas porque são de desconhecidos? Teremos de confiar e ser mais tolerantes.
Esta história dos animais na restauração fez-me recordar outras mudanças “impossíveis” do passado recente e ocorridas, precisamente, na restauração. Refiro-me aos telemóveis e ao tabaco.
Quando apareceram os telemóveis nos Açores, havia uma onda de censura a quem os usasse nos restaurantes e cafés. Lembro-me quando me chamaram à atenção apenas por ter o telemóvel em cima da mesa… Os telemóveis eram uns objetos volumosos, barulhentos e feios, de facto. Depois, passámos à fase contrária, em que tudo se tolerava e as pessoas passaram não só a tê-los à vista, como os usavam e, supremo da má-educação, entretinham-se a escolher o som de toque durante as refeições! Houve torturas medievais mais suaves… Com o tempo e sem legislação, penso eu, ganhámos o saber coletivo de usar o telemóvel sem incomodar os restantes, saindo inclusivamente da sala para não incomodar, no caso de ter mesmo de atender a chamada.
Com o tabaco, quando se decidiu bani-lo dos restaurantes, a reação foi ainda pior e a mudança, por contraste, mais rápida. Todos, ou quase todos, diziam que a cultura portuguesa não iria permitir banir o tabaco da maioria dos cafés e restaurantes. Até eu, que não sou fumador, tinha dúvidas quanto à obediência e até quanto à utilidade. Mudei quando, pela primeira vez na vida, consegui olhar de um extremo da sala para a luz da entrada do meu café habitual (o “Peter” na Horta) sem ver poeira no ar. Afinal não era poeira! Afinal havia diferença e os pulmões iriam agradecer. Passados poucos dias, entendemos que a diferença tinha sido para melhor e hoje seria impensável voltar atrás.
Trago estes dois pontos para cima da mesa (ou não estivesse a escrever sobre restaurantes) porque me parece que, em breve, estaremos a conviver em paz com os animais de estimação que formos encontrando durante almoços e jantares. Esta alteração poderá ser mais rápida, como foi o caso do tabaco, ou mais complexa e lenta, como foi com os telemóveis. Como pessoa que passa muito tempo em Bruxelas, onde a presença de cães nos restaurantes é frequente, apenas posso dizer que não me causa qualquer perturbação. Estou convicto que, em breve, também não transtornará ninguém em Portugal.

 

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