Editorial, 2 de setembro de 2022

0
30
blank

A morte de D. António de Sousa Braga, Bispo Emérito dos Açores, a que o Tribuna das Ilhas lhe dedica hoje especial atenção, ocorre num momento delicado da vida da Diocese de Angra.

Desde logo porque está sem Bispo. A saída indiscutivelmente apressada do anterior prelado, D. João Lavrador, deixou a Igreja dos Açores entregue a um administrador diocesano que é apenas isso: um gerente sem autoridade efetiva em muitos domínios e que apenas pode assegurar a chamada gestão corrente dos assuntos diocesanos sem poder para muitas decisões. Já se sabia que o processo que levaria à nomeação de um novo bispo seria demorado, envolvendo um conjunto alargado de consultas e pareceres até que um nome final seja proposto ao Papa para nomeação. Mas o tempo em que se arrasta esta nomeação é bem o exemplo do peso e das inércias que persistem na Igreja Católica Apostólica Romana e que, em várias áreas, a tornam uma instituição vergada, no mau sentido, ao peso da tradição, dos procedimentos e da burocracia e com grande dificuldade em responder atempadamente aos novos desafios do tempo presente.

Escolher e nomear um Bispo para uma diocese não é nem pode ser uma decisão apressada nem leviana. Mas manter esta situação já quase há um ano roça o incompreensível no tempo presente, em que os contatos e as formas de comunicação e troca de informação são fáceis e rápidas.

D. António de Sousa Braga foi o segundo bispo açoriano da história da nossa Diocese. O primeiro açoriano que foi Bispo de Angra, recorde-se, foi o faialense Alexandre José da Silva Garrett, conhecido por Alexandre da Sagrada Família, cuja memória está perpetuada na toponímia da cidade da Horta no chamado Largo do Bispo D. Alexandre.

O falecimento do segundo bispo açoriano de Angra ocorre num momento em que, estando o cargo por preencher, novamente algumas vozes têm-se feito ouvir na defesa da próxima nomeação recair sobre um açoriano, invocando a necessidade de conhecer bem a realidade arquipelágica de uma diocese que se espraia por nove Ilhas, cada uma delas com as suas particularidades e idiossincrasias.

Na defesa de um Bispo açoriano para os Açores argumenta-se também a importância de se conhecer a maneira de ser dos açorianos e as formas como a sua religiosidade se exprime, realidades que, dizem, o anterior Bispo nunca terá interiorizado e que apressaram o seu desejo de saída, concretizado há um ano.

Se todas estas questões são importantes e devem ser devidamente pesadas, impõe-se também avaliar muito bem se a naturalidade neste como em muitos outros cargos de responsabilidade deva ser o fator primordial para a escolha.

É que o exemplo do que se passou com D. António de Sousa Braga ainda está bem presente e foi muito bem sintetizado pelo Pe. Júlio Rocha que, clarividentemente, disse que “Como sempre, não soubemos aproveitar devidamente o dom de um bispo como António.”, pese todas as limitações que possam ser imputadas à sua ação.

Daí, clero desde logo, mas também os leigos da Igreja Católica açoriana, terem de olhar primeiro e principalmente para dentro de si e não reduzir artificialmente a questão da escolha do novo bispo para os Açores à questão da sua naturalidade.

O MEU COMENTÁRIO SOBRE ESTE ARTIGO

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!