No início do mês, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça recebeu a apresentação do sétimo livro trazido à estampa por Manuel Aguiar. Ilusões – assim se chama a obra – é uma peça de teatro que põe em evidência
sentimentos como o amor, a amizade e a redenção.
Aos 73 anos, o antigo professor continua cheio de projetos e sonhos por concretizar. Foi precisamente sobre esses projetos que falou ao Tribuna
das Ilhas, numa entrevista onde a obra mais recente e a sua dedicação de uma vida ao teatro também estiveram em evidência.
Tribuna das Ilhas (TI) – O Manuel já escreveu uma série de peças, algumas já publicadas e outras não. Fale-nos um pouco de Ilusões.
Manuel Aguiar (MG) – Ilusões é uma peça de teatro que fala das muitas ilusões que todos temos e que, por vezes, viram desilusões. É a história de uma família cujos pilares são o patriarca e a matriarca; ela sempre rezingona e ele sempre a tentar unir e conciliar as três gerações que vivem naquela casa.
Infelizmente um dos jovens enveredou por caminhos desviantes, começou nas drogas e a namorada dele tenta retirá-lo dessa vida. Ele aceita só que, ao saber que ela está grávida dele, acaba por tomar uma overdose, porque não aceita esse nascimento, e morre. É o irmão que casa com a namorada dele e assume a paternidade do sobrinho. Este cresce e, às vésperas de entrar para a faculdade, está a estudar num jardim onde, por mero acaso, começa a conversar com um idoso que não faz a mínima ideia de quem seja. Esse idoso é o avô dele, pai do seu pai biológico e do seu pai adotivo, que tinha fugido a seguir à Revolução de Abril para os Açores, pois tinha sido agente da PIDE. Quando o pai adotivo, médico, chega àquela zona, e começa a falar muito bem com o idoso, este acaba por dizer o seu sobrenome, e o pai adotivo percebe que está perante o seu próprio pai.
Tentei transmitir com esta peça valores humanos como a amizade e o amor. O amor acaba por vencer. O pai e avô tenta redimir-se, o filho não aceita, mas no final, ao reabrir do pano, o avô e o neto estão abraçados. Porque o neto não passou por nada daquilo, tinha uma vida familiar muito estável, teve a capacidade de perdoar aquele avô. O filho, por mais que tentasse, não o conseguiu fazer. Nunca tinha tido um pai, a mãe chegou a lavar escada para que o filho conseguisse chegar a médico. Teve uma vida muitíssimo difícil e esse perdão era quase impossível.
A peça é muito atual; tem muito que ver com as nossas sociedades. Embora se tenha muito esta noção – julgo que errada – de que as pessoas só começaram a drogar-se há pouco tempo, isso não é verdade. A primeira vez que um Conselho de Ministros em Portugal registou em Diário de Governo a preocupação por causa das drogas foi em 1965, em plena Ditadura de Salazar. As drogas não são uma coisa de hoje, mas antes era tudo abafado. Para além disso, nessa altura havia muito analfabetismo, principalmente nas aldeias. Hoje as coisas melhoram muito, embora, por exemplo, o ensino não esteja tão cor-de-rosa como o pintam.
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