Mário Cristiano Centeno Ronaldo

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Mário Centeno foi eleito Presidente do Eurogrupo, facto que volta a contribuir para o reconhecimento do nosso país nas instituições internacionais, o que sucedeu recentemente com Durão Barroso na Comissão Europeia (ainda mais por 10 anos), Víctor Constâncio no Banco Central Europeu e António Guterres na Organização das Nações Unidas. Haver Portugueses em posições de destaque deve sempre constituir um orgulho nacional, mas tal não justifica que nos deixemos embalar pela euforia fantasiosa de que tudo vai mudar.
É verdade que, pela primeira vez, o Eurogrupo tem na sua presidência um elemento de um país do Sul da Europa. Mais do que isso, um Ministro das Finanças de um Estado-Membro que recorreu à ajuda externa para poder ultrapassar a crise económica. Diz-se, por isso, que agora tudo vai ser diferente, que Portugal vai virar a página da austeridade europeia. Crédulos! Ao menos, ficámos a saber que, afinal, ainda há austeridade na Europa! Ou será que haverá quem pense que ela só existe na restante União e que apenas Portugal, tal qual um reduto da esquerda europeia, é o único Estado-Membro que conseguiu virar a página da austeridade?
Ironias à parte, o próprio Centeno afirmou não lhe faltarem ideias para colocar um ponto final num período muito difícil para a Europa. Resta saber quais. Certamente vai implementar no Eurogrupo uma estratégia que, curiosamente, tem resultado em Portugal – banir do léxico presente o termo “austeridade”. Não que a efectiva austeridade deixe de existir. Pode, simplesmente, mudar-lhe o nome para qualquer coisa como “medidas de contenção orçamental”. Pode, igualmente, levar a que se manipulem as políticas orçamentais de forma a apresentar défices reduzidos, assentes em cativações das dívidas. Deixamos de ter défice porque, simplesmente, deixamos de cumprir com os nossos compromissos públicos. Não lhe chamarão “austeridade”, corresponderá apenas ao cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento, uma habilidade que satisfaz os avaliadores da estabilidade económica de Portugal, que não têm qualquer interesse em asseverar o cumprimento das mais elementares funções do Estado. Quiçá não terá sido essa a motivação do Ministro das Finanças Alemão ao apelidar Mário Centeno de Cristiano Ronaldo das finanças? Para Schäuble talvez interessasse acima de tudo que Portugal conseguisse cumprir com as normas do Eurogrupo, o que Centeno fez com a mestria de congregar a extrema esquerda e, assim, conter os eurocepticismos que colocam em causa o aprofundamento da União Europeia, de que a união bancária constitui um exemplo.
Não creio, por melhor que funcione a dita geringonça em Portugal, que os Partidos da extrema esquerda europeia se abstenham de se opor à união económica e monetária. Esta é a sua marca identitária. Em simultâneo, essa mesma união marca a identidade do próprio Eurogrupo, que dela não abdicará. Centeno constitui indubitavelmente a personagem ideal para, ainda que num sentido figurativo, acalmar as hostes. Certamente não foi indicado para o cargo pela sua capacidade de dinamizar a economia, quando Portugal apresenta o pior investimento público da União Europeia. Terá um dilema para gerir e corre o risco de perder toda a credibilidade se tiver um discurso cá dentro, no país, e outro lá fora, no Eurogrupo. Mas esse constitui um problema nosso, dos Portugueses. Para os países do Euro, interessa apresentar uma estrela incontestável, tal qual Cristiano Ronaldo, para que a equipa possa prosseguir na sua jornada. 

www.sofiaribeiro.eu
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