Musealização da Horta dos Cabos Submarinos depende do envolvimento da comunidade

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Na passada sexta-feira assinalou-se a passagem do 120.º aniversário da amarração do primeiro cabo submarino na Horta. Dos vários momentos comemorativos, destaque para o colóquio realizado na Biblioteca Pública, organizado pelo Grupo de Amigos da Horta dos Cabos Submarinos.

Em destaque no colóquio esteve o futuro do património tecnológico existente. John Ross, conhecido pela antiga comunidade de cabografistas como João Inglês, deu conta do trabalho que tem vindo a desenvolver na recuperação dos equipamentos e abordou o seu potencial em termos de interpretação museológica, destacando o seu valor histórico enquanto património de interesse público.

Salientando o potencial existente para a criação de um museu interativo, John Ross alertou a audiência para o facto deste processo não poder concretizar-se apenas pelo esforço do Grupo de Amigos da Horta dos Cabos Submarinos. O antigo cabografista salientou a necessidade de envolver toda a comunidade, em especial as gerações mais novas, como forma de garantir a continuidade da preservação das memórias do tempo em que o Faial foi o centro do mundo das comunicações. Por isso, convidou um jovem de 11 anos, Francisco Alves, a participar com ele na apresentação do seu trabalho e alertou também para a importância de envolver as escolas neste processo enquanto os antigos cabografistas ainda estão entre nós.

Do debate gerado pela apresentação de John Ross, destaque para unanimidade em torno da importância de preservar o património da Horta dos Cabos Submarinos, com Ricardo Madruga da Costa a considerar mesmo que adiar essa tarefa “é um ato de negligência imperdoável”.

A importância de garantir que as quatro companhias que estiveram sedeadas na ilha estarão representadas numa futura exposição permanente foi outra das preocupações levantadas, com Tomás Saldanha a garantir que essa possibilidade está assegurada.

Em análise esteve ainda a possibilidade de se criarem protocolos com núcleos museológicos do cabo submarino em outros países, de forma a que se criem com eles permutas e intercâmbios de materiais e informação, para valorizar o futuro núcleo faialense, como sugeriu o antigo cabografista José Silveira.

Para além da análise das questões relacionadas com o património tecnológico, este colóquio debateu também as possibilidades de ocupação da Trinity House, na Rua Cônsul Dabney, que consistia na estação telegráfica central para onde convergiam todos os cabos submarinos. Recorde-se que o espaço pertence à Região e é atualmente um dos edifícios da Escola Básica Integrada da Horta, sendo que entretanto o Governo dos Açores já se comprometeu em cedê-lo para a instalação do Núcleo Museológico do Cabo Submarino. Tendo isto em conta, o arquiteto Martins Naia apresentou uma proposta preliminar de classificação e ocupação do edifício, onde é sugerida a instalação da Universidade Sénior do Faial, à qual pertencem vários antigos cabografistas, no rés do chão do edifício, enquanto que no primeiro andar, onde funcionava a “operating room”, se propõe a instalação do Núcleo Museológico. Quanto ao segundo andar, o Grupo de Amigos sugere que seja criada uma incubadora para jovens empresários na área das novas tecnologias de comunicação.

Martins Naia aproveitou a ocasião para lembrar que há muito mais na Horta, para além da Trinity House e do património tecnológico, a lembrar o tempo dos cabos submarinos. A memória dessa altura está, de resto, espalhada por toda a cidade e, como lembrou Mário Frayão, está entranhada da cultura faialense.

Diretor regional da Cultura entende que “falta definir um fio condutor”

A encerrar o colóquio, o diretor regional da Cultura, Nuno Lopes, fez-se valer da sua experiência para chamar a atenção para as dificuldades inerentes a uma candidatura a património mundial. Recorde-se que Nuno Lopes coordenou a candidatura da paisagem da cultura da vinha do Pico a património mundial e é atualmente o responsável pela candidatura da Universidade de Coimbra.

De acordo com o diretor regional, a existência de trabalho escrito não é suficiente. “Uma candidatura tem um guião muito específico”, disse, salientando que neste processo é importante perceber que o Grupo de Amigos, o Governo Regional, a Câmara Municipal da Horta e a própria comunidade faialense têm um papel muito importante.

Nuno Lopes entende que, com a proliferação de candidaturas a património mundial da UNESCO, principal na Europa, o património do cabo submarino faialense, por si só, não tem grandes hipóteses. Nesse sentido, defende a criação de uma associação internacional onde a Horta se una a outros pontos do mundo que também tiveram importância na época dos cabos submarinos para criar uma candidatura conjunta.

Nuno Lopes alertou ainda para o facto da criação do núcleo museológico implicar muita reflexão e trabalho antes de ser uma realidade. Para o diretor regional, esse núcleo deverá estar associado ao Museu da Horta, já existente. Existem, no entanto, investimentos prioritários, como a ampliação do Museu da Horta. Nuno Lopes lembrou também que a Fábrica da Baleia de Porto Pim passará para a alçada da Cultura e está a ser refletida a possibilidade de instalar no local o Museu do Mar.

Agora, entende, é importante que Governo, autarquia e Grupo de Amigos da Horta dos Cabos Submarinos trabalhem em conjunto para “definir um fio condutor” para este projeto.

Entretanto, e à margem deste colóquio, o diretor regional anunciou que a exposição permanente sobre o Cabo Submarino que será instalada no Museu da Horta deverá abrir ao público antes do final do ano. 

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