O apoio aos nossos idosos na nossa cidade

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Um dos dramas do Mundo Ocidental de hoje é o progressivo e preocupante envelhecimento da sua população. Envelhecer tornou-se uma tarefa cada vez mais provável: pela primeira vez na História da Humanidade, um número crescente de pessoas atinge e ultrapassa os 65 anos de idade, aquele limite que, por convenção, assinala a retirada do mundo do trabalho. Basta dizer, a título de exemplo, que a proporção de pessoas idosas com 60 anos era, há cerca de duas décadas, de uma em catorze e que as projecções atuais apontam, no curto/médio prazo, para uma proporção de uma pessoa idosa em cada quatro!

Os notáveis avanços da Medicina e a melhoria generalizada das condições de vida e de alimentação levaram ao aumento da longevidade. Mas, ao mesmo tempo, diminuíram os nascimentos, em resultado da generalização das práticas anticoncepcionais, do planeamento familiar e, mesmo, da divulgação do ideal de uma família com poucos filhos. Estes factores conjugados levaram ao aumento relativo do número de idosos que se verifica nos nossos dias.

Desde há muito tempo têm sido várias as instituições internacionais a chamar a atenção para este problema do envelhecimento da população e para as graves consequências que ele acarreta. Por exemplo, em 1993, a ONU procurava despertar as consciências para os problemas dos idosos, ao proclamar aquele ano como Ano do Idoso e da Solidariedade entre Gerações. Depois disso, ainda a ONU, declarou 1999 como o Ano Internacional das Pessoas Idosas, para ser celebrado sob o tema “Por uma Sociedade para todas as Idades”.

Se há zonas do País que deviam ser especialmente sensíveis a esta problemática, os Açores são uma delas: as estatísticas e os sucessivos censos mostram claramente a existência de uma persistente e estrutural tendência para um preocupante envelhecimento da população na maioria das ilhas dos Açores, concomitante com um angustiante recuo demográfico.

            Pela sua dimensão, os Açores poderiam ser um rico laboratório de iniciativas pioneiras e inovadoras nesta área, que articulassem e coordenassem a inestimável experiência das muitas instituições particulares que estão no terreno, com uma desejável melhor ligação a estruturas locais, de freguesia ou, conforme a dimensão, mesmo quase de bairro.

            Por outro lado, impõe-se que os conceitos e as práticas relacionadas com o envelhecimento tenham sempre presente a centralidade da dignidade humana. O direito à vida e à qualidade de vida é um direito de cidadania activa das pessoas mais velhas ainda que sofram de limitações e dependências. E não basta reconhecer isto na dimensão política ou legal. É fundamental que isso tenha expressão prática e real. Perguntava há alguns anos, em oportuna e ainda atual Nota, a Comissão Nacional Justiça e Paz: “Reconhece o Estado o direito de a pessoa idosa ser tratada com os cuidados necessários no seu domicílio ou no dos familiares, proporcionando o desenvolvimento da solidariedade entre as gerações? Que apoios lhe concede ou disponibiliza? Ou, por omissão, empurra-os para internamentos prolongados em hospitais ou em estabelecimentos sem qualidade onde vão ocorrendo passivamente formas ‘encapotadas’ de práticas de eutanásia em certos locais, como ‘depósitos’ de seres vivos? (…) Como podem viver milhares e milhares de idosos com escassas pensões que, às vezes, nem sequer dão para pagar os medicamentos? (…) As omissões provocam situações inaceitáveis de violência contra as pessoas idosas, que não podem continuar a verificar-se.”

            E este não é apenas um assunto do Estado, do Governo, das Instituições de Solidariedade Social, ou dos outros. Este é um assunto de todos e de cada um de nós, na medida das decisões individuais que tomamos e na forma como influenciamos e ajudamos a criar a sociedade que é a nossa.

            Tantas vezes ouvimos nós, cristãos, na Festa da Sagrada Família, a sabedoria que a Igreja nos apresenta através do Livro de Ben-Sirá: “Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida.”

            Mas a sociedade de que hoje fazemos parte, a forma como ela se organizou, o tempo quase exclusivo que ela a todos exige, a necessidade dos dois membros do casal trabalharem, permite facilmente essa doação e esse acompanhamento que os nossos progenitores e os nossos idosos merecem, especialmente quando doentes e/ou dependentes? Estamos bem em crer que não! Por isso, nessa dimensão, a nossa sociedade atual demonstra bem o fracasso da influência dos cristãos em transpor a sabedoria de Ben-Sirá para fora dos muros dos templos e com ela impregnar a sociedade e a sua organização!

 

 

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