O BI da Horta comparado (2)

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DR/TI

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Continuamos hoje a série iniciada na última crónica dedicada ao “Bilhete de Identidade” do concelho da Horta, comparando-o quer com os municípios-sede dos antigos distritos açorianos, quer com os municípios das ilhas do Triângulo. Continuamos a utilizar a base de dados da PORDATA, cujas fontes são oficiais e certificadas.
Depois da abordagem a questões demográficas, centro-me hoje em indicadores de natureza económica.
Comecemos pelo poder de compra. Entre 1993 e 2013 o índice de poder de compra (por referência a 100% para Portugal) no concelho da Horta aumentou de 84 para 90. O mesmo aconteceu nos municípios de Angra de Heroísmo (de 79 para 92) e Ponta Delgada (de 99 para 104). Embora neste período de tempo o poder de compra tenha aumentado de forma mais expressiva em Angra, e de forma equiparada em Ponta Delgada e Horta: A verdade é que é Ponta Delgada o único concelho açoriano cujo poder de compra está acima da média nacional, logo a seguir à Área Metropolitana de Lisboa, onde o poder de compra é o mais elevado do País (125%).
Nas ilhas do Triângulo, neste indicador, o maior crescimento verificou-se no concelho das Velas, onde aumentou de 45 para 84 no período em apreço. Seguiram-se Madalena, S. Roque, Lajes, Calheta e Horta. Em termos absolutos, quer em 1993, quer em 2013, o maior índice de poder de compra no Triângulo estava no concelho da Horta, mas as diferenças em relação aos outros concelhos do Pico e S. Jorge atenuaram-se significativamente.
Passemos a outro indicador: o número de bancos e caixas económicas, que, entre 2000 e 2015, cresceu nos Açores de 134 agências para 136. O grande aumento verificou-se em Ponta Delgada (de 29 para 40). Angra manteve naquele período o mesmo número (15), enquanto na Horta se verificou uma diminuição de 11 para 8.
A nível dos concelhos do Triângulo, a Madalena foi o único que aumentou o número de bancos e caixas económicas (passou de 5 em 2000, para 7 em 2015). Lajes do Pico e Velas mantiveram o mesmo número e Horta, S. Roque e Calheta viram-no diminuir. Em termos absolutos, o concelho da Horta é o que mais bancos e caixas possui em 2015 (8), logo seguido da Madalena (7). Por ilhas, no Triângulo, o Pico lidera com 15, seguindo-se o Faial com 8 e S. Jorge com 7.
Face a estes números, entre os municípios-sede dos antigos distritos a melhor cobertura de bancos e caixas económicas, em 2015, verifica-se em Ponta Delgada, onde o número de habitantes por banco e caixa económica é de cerca de 1.712, logo seguido pela Horta (1.858) e por Angra (2.312).
Se o termo de comparação for com os restantes concelhos do Triângulo, verificamos que a Horta é o concelho com pior cobertura, logo seguido pelas Velas (1.317 habitantes por banco ou caixa económica), Lajes do Pico (1.160), Calheta (1.115), Madalena (854) e S. Roque (827). A média de cobertura nos Açores é de 1.809 habitantes por banco ou caixa económica.
Analisemos agora a concessão de crédito. Entre 2000 e 2015, a concessão de crédito nos Açores mais do que duplicou, passando de 1,675 014 milhões de euros no ano 2000, para 4,325 822 em 2015. O maior crescimento do crédito verificou-se no concelho de Ponta Delgada, onde aumentou, naqueles anos, cerca de 1,5 milhões de euros. Seguiu-se Angra, com um aumento de cerca de 380 mil euros e a Horta com um crescimento do crédito em cerca 127 mil euros.
O crescimento do crédito concedido entre 2000 e 2015 verificou-se também em todos os concelhos do Triângulo, com a Horta à frente, seguida de Madalena (cerca de 76 mil euros), Velas (58 mil), Lajes (24 mil), S. Roque (19 mil) e Calheta (6 mil).
Em 2015, a média do crédito concedido nos Açores era de 17,5 mil euros por residente. Nos municípios-sede dos antigos distritos, o concelho com maior valor de crédito concedido por residente era Ponta Delgada, com 33,7 mil euros, seguido de Angra (17,8) e Horta (17,5). Nos concelhos do Triângulo, o crédito concedido por residente é inferior à média regional: Velas (com 17,2 mil euros por residente), Madalena (16,7), Calheta (11,8), S. Roque (10,8) e Lajes (9,4).
Outro dado interessante é saber-se, no conjunto do crédito concedido, qual o peso do crédito à habitação e como evoluiu entre 2000 e 2015. Aqui, no conjunto dos municípios-sede dos antigos distritos, o concelho da Horta lidera de forma destacadíssima. Em 2000, enquanto a média regional era de 36% do crédito total concedido se destinar à habitação, na Horta esse valor situava-se em 51%, talvez por efeito da reconstrução do sismo de 1998. Nesse ano, o crédito à habitação em Ponta Delgada significava apenas 29% do total e em Angra 39%. Nos concelhos da ilha do Pico, presumivelmente também devido ao sismo, esses valores já eram substancialmente mais altos, entre os 41% e 46%. Em S. Jorge, a percentagem do crédito à habitação era mais baixa (27% nas Velas e 30% na Calheta).
A nível Açores, de 2000 para 2015 verifica-se um ligeiro aumento de 1% na percentagem do crédito concedido à habitação no conjunto do crédito total, crescendo de 36% para 37%. No entanto, no conjunto dos municípios-sede dos antigos distritos, Angra passou a ser o concelho com maior percentagem de crédito à habitação no conjunto do crédito total: 54%; a Horta decresceu para 45% e Ponta Delgada também diminuiu para 25%. No conjunto dos concelhos do Triângulo, S. Roque passou a ser o concelho com maior percentagem de crédito à habitação no conjunto do crédito total (55%), seguido da Madalena (48%), Horta (45%), Velas (42%), Lajes (37%) e Calheta (25%).
Os dados apresentados permitem concluir que nas ilhas do Triângulo, mas especialmente nos concelhos da Horta, Madalena e S. Roque, o valor do crédito à habitação no conjunto do crédito total concedido é claramente mais alto do que a média regional, indiciando que nestas ilhas há menos crédito para a atividade económica e para o investimento, o que não parece ser um bom indicador. Ao verificar-se tão alta percentagem dos valores do crédito à habitação nestes concelhos e, por consequência, o crédito para a atividade económica estar significativamente abaixo da média regional, poderemos concluir que estamos perante concelhos com um tecido empresarial frágil e em que os cidadãos investem mais no conforto pessoal do que na atividade económica?

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