Portugal em chamas

0
12
DR

DR

Uma vez mais Portugal está em chamas. E, cerca de 4 meses após as primeiras
em Pedrógão Grande. Assiste-se à falta operacional, ao mesmo descontrolo, aos mesmos lamentos, às mesmas caras, ao mesmo desespero das populações, às mesmas desculpas políticas. Tudo exatamente igual. E não deveria de o ser: os erros fatais nos incêndios do Verão foram há muito identificados e, em termos operacionais, só não se promoveram mudanças por opção.
A questão política está, aliás, bem explícita no relatório independente sobre o incêndio em Pedrógão Grande (que, num ato esclarecedor, António Costa apresentou sem ter lido). Relata o caos operacional que se viveu no terreno. Critica o descontrolo a que a Proteção Civil geriu os acontecimentos, prejudicando a segurança das populações. Sugere que vidas poderiam ter sido poupadas se decisões mais rápidas e acertadas tivessem sido tomadas. Denuncia o exibicionismo político que, no local, atrapalhou mais do que ajudou. Comprova a falha do SIRESP. Descreve a manipulação dos registos da linha temporal dos factos – feita, naturalmente, por alguém com poder para a alterar.
O relato de incompetências é assustador. Mas, pelos vistos, não foi o suficiente para provocar consequências políticas ou agitar a opinião pública. Uma resposta possível é porque o PS conseguiu encaixar a divulgação do relatório independente sobre Pedrógão Grande entre o pós-autárquicas e o orçamento de estado. Quando toda a gente quer saber o que lhe vai cair a mais no bolso. E o resultado está à vista: o que consta do relatório chegaria para fazer cair um governo, mas nem deverá ser o suficiente para sair uma ministra.
Será tudo isto uma estratégia de comunicação? Chamem-lhe o que quiserem mas é assim que o PS governa: passando entre os pingos da chuva. Não leu os relatórios. Não soube das informações. Não averiguou as acusações. Não esperava tal evolução dos acontecimentos. Não era, simplesmente, consigo, limitou-se a herdar as complicações. Não viu nada de suspeito nos comportamentos de com quem privou. Ninguém o alertou para situações menos corretas. Não tem a certeza de que os problemas realmente existam – no limite, não existem. Não consegue fazer nada contra a má-fé da oposição. No fundo, a haver culpas, pertencem aos outros. Ou que simplesmente as vozes que se levantam contra a incompetência da ministra da Administração Interna, para António Costa “é infantil pensar que consequências políticas significa demissões”.
Com 65 vidas em causa, outras tantas que surgirão destes novos fogos, e o país novamente em chamas, até onde irá o calculismo do governo?
Esse calculismo irá até onde Marcelo permitir que vá. O Presidente da República tem sublinhado a impossibilidade de o país permanecer sem respostas e sem apuramento de responsabilidades políticas. Mas, como já se tornou evidente, as suas recomendações terão pela frente a resistência dos socialistas, indisponíveis para aceitar que o seu governo falhou. Eis a derradeira prova presidencial. Para garantir justiça quanto a Pedrógão, Marcelo terá de a impor usando da sua força política e, talvez, quebrar a boa relação que tem mantido com António Costa. E estará Marcelo disposto a isso? É bom que esteja. Perante a gravidade dos factos, um presidente que não sirva para isso, certamente não serve para nada.

O MEU COMENTÁRIO SOBRE ESTE ARTIGO

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!