Vasco Cordeiro pavoneia-se na Europa

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DR/TI
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É absolutamente incrível a forma como, mais uma vez, uma parte da nossa comunicação social se deixou enganar pela implacável máquina de propaganda do regime socialista açoriano. O Gabinete de Apoio à Comunicação Social do Governo Regional – que é o homólogo local da “Agência Central de Notícias da Coreia” do Norte (KCNA) – veiculou, ostensivamente, uma informação falsa a propósito da suposta eleição de Vasco Cordeiro para uma presidência rotativa do Comité das Regiões.
A agência de propaganda do regime (GaCS) fabricou o seguinte título para construir, pela enésima vez, uma “fake news”: “Acordo político de importância para os Açores garante a Vasco Cordeiro a presidência do Comité das Regiões”. Ora a informação sugerida é falsa. De facto, Vasco Cordeiro “não garantiu” a presidência do Comité das Regiões. A verdade é que Vasco Cordeiro termina o seu mandato como presidente do Governo Regional no mês de novembro deste ano. Como é lógico, só poderá assumir o cargo de presidente do Comité das Regiões em 2022 se, entretanto, o povo açoriano o reeleger para o cargo de presidente do Governo Regional. Se na altura não for – como espero – presidente do Governo Regional, também não poderá ser presidente do Comité das Regiões.
Mas para o GaCS está tudo “garantido” e a existência de eleições – pressupostamente livres e democráticas em 2020 – constitui apenas um invisível e insignificante pormenor estético no âmbito do seu afã de glorificar o grande timoneiro açoriano.
A escolha dos açorianos em outubro de 2020 está, assim, predeterminada. O GaCS, Vasco Cordeiro e pelos vistos os membros do Comité das Regiões já escolheram por nós. A ida às urnas em outubro de 2020 é uma mera formalidade. Já agora podem substituir o boletim de voto por uma daquelas fotografias de Vasco Cordeiro que o GaCS pôs a circular, de forma copiosa, na nossa imprensa. Deve resultar.
A estética estalinista é esmagadora. Rodeado de admiradores europeus que o aplaudem freneticamente, o grande timoneiro açoriano esboça um sibilino sorriso, que tem o condão de o humanizar e assim esbater um pouco a imagem de deus helenístico que o GaCS e a RTP/Açores transmitem no âmbito da mirabolante saga mitológica que nos contam todos os dias.
É claro que estou orgulhoso do feito alcançado pelo líder de um dos mais longevos poderes territoriais europeus. Nesse sentido, estou até a pensar dar um pequeno contributo a nível do engrandecimento do curriculum do nosso grande estadista europeu. Não sei se os membros do Comité das Regiões têm conhecimento de todos os feitos heroicos alcançados pelo seu futuro presidente. É uma injustiça que não lhes chegue o conjunto da relevantíssima obra político-governativa de Vasco Cordeiro.
Nem sei por onde começar. Temos a maior taxa de risco de pobreza de Portugal. São cerca de 90 mil as pessoas que, nos Açores, se encontram em risco de pobreza e exclusão social. A taxa de privação material severa é também a mais elevada do país. Afeta cerca de 12% da população. Tenha-se em conta que, atualmente, a nossa população pouco supera as 240 mil almas.
Em tese, a pequena dimensão da nossa população permitiria obter um alto nível de coesão social e esbater a diferença de rendimentos entre as famílias, tal como acontece, por exemplo, nas ilhas Faroé. No entanto, não é isso que sucede nos Açores. As desigualdades sociais nos Açores são escandalosas.
Estou plenamente consciente que os meus leitores europeus podem começar, por esta altura do relato, a problematizar e a colocar em causa o real valor de Vasco Cordeiro como governante. Peço-lhes que não percam a fé depositada no futuro do seu futuro presidente. Como bem diz Vasco Cordeiro, a “Atlântida” é um mito. A verdade é que apenas temos seis séculos de História e que os socialistas só governam há 24 anos. É muito pouco tempo para realizar as reformas estruturais que a nossa sociedade precisa. Esperem e tenham paciência. Os resultados aparecerão um dia, numa qualquer manhã de nevoeiro.
A verdade é que, apercebo-me agora, o meu contributo para o curriculum de Vasco Cordeiro talvez esteja a ser contraproducente. Posso estar a prejudicar em vez de ajudar, como é o meu firme propósito. Perante a dúvida que agora me assalta, desisto de falar da taxa de abandono escolar precoce na Região, que está a crescer de forma escandalosa e que, nesta altura, mais que duplica a média nacional. É a melhor forma de matar o futuro e a possibilidade de inverter o círculo vicioso da pobreza.
A verdadeira moral da história é esta. O que Vasco Cordeiro tem de fazer é centrar-se no que ainda lhe compete: governar os Açores. Tem de abandonar a mania das grandezas e deixar de deslumbrar-se com os palacetes europeus. A sua tentativa de afirmação internacional não é mais que um escape psicológico. Uma fuga, já intentada por muitos outros governantes falhados, do que eles acham que é o “reino da piolheira”. A verdade está mesmo ao seu lado. Basta olhar-se ao espelho.

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